domingo, 12 de novembro de 2017

Crítica: Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha


Victoria e Abdul - O C0nfidente da Rainha
por Joba Tridente*

Histórias palacianas envolvendo monarcas e súditos, quando em boas mãos e sob olhar perspicaz, sempre rendem bons filmes. As maquinações dos bastidores da famosa realeza britânica, com toda pompa e circunstância..., e algum escândalo conveniente (sempre na boca de cena das intrigas), valem ouro.

Em 1997 o diretor inglês John Madden trouxe para a telona o interessante e intenso Mrs Brown, focado na explosiva relação de amizade (próxima ou íntima?) entre a Rainha Victoria (Judi Dench) e o seu arrogante serviçal cavalariço escocês John Brown (Billy Connolly). Um relacionamento (de 1864 a 1883) que, segundo os pesquisadores, teria ido muito além do que se vê no drama (melancólico). Agora, vinte anos depois, é a vez do diretor britânico Stephen Frears  contar, com muita elegância e humor, do convívio afetivo (próximo ou íntimo?) da Rainha Victoria (Judi Dench) com seu devotado servo indiano Abdul Karim (Ali Fazal) na encantadora comédia (quase dramática) Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha. Um relacionamento afetuoso (de 1887 a 1901) que, nos últimos anos, também tem dado pano pra manga. Aliás, se alguém que nunca chupou uma manga (a fruta) lhe perguntasse o gosto, o que você diria? A resposta de Abdul para Victoria é inesquecível!


Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha, deliciosamente roteirizado por Lee Hall, é “baseado em eventos reais..., na maior parte” e também no livro Victoria & Abdul: The True Story of the Queen’s Closest Confidant (2010), da jornalista Shrabani Basu. A comédia (quase dramática) tem a “leveza” muito peculiar do indiscreto humor inglês, que se torna impagável na boca de Mohammed (Adeel Akhtar, ótimo), o indiano simplório que é “escolhido” para acompanhar o escrevente Abdul (Fazal) até a Inglaterra, para entregar uma moeda cerimonial, cunhada na Índia (sob domínio britânico), à Rainha Victória (Dench), em homenagem ao seu Jubileu de Ouro.

A viagem era pra ser um vapt-vupt: chegar, entregar a medalha e voltar. Mas, o devotadíssimo Abdul acaba despertando o interesse entusiástico da Rainha Victoria e é convocado para lhe servir, por tempo indeterminado, como seu “Munshi”, um professor para lhe ensinar tudo sobre os costumes da misteriosa Índia (onde ela jamais esteve). A surpreendente amizade e intimidade dos dois, assim como aconteceu com Brown (o servo favorito anterior da Rainha), também escandaliza o palácio, provocando ciúmes e intrigas entre funcionários, políticos e membros da buliçosa família real.


Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha é daquelas tramas que te envolvem já nos primeiros minutos e não te deixam mais escapar das amarras até os créditos finais. A “doce” ironia dos diálogos de ontem dizem muito das relações internacionais de hoje, sejam elas monárquicas, republicanas, democráticas, muçulmanas..., pois, afinal, como diz Mohammed: “Todos querem alguma coisa!” (do outro para se distinguir do outro). Intolerância, racismo, religião, poesia, sabores e linguagem fazem parte de uma pauta que prima pela independência (e liberdade poética) no desenvolvimento do formidável roteiro e excelência de Frears na direção de uma narrativa muito bem-humorada (às vezes ferina!) e com urdidura digna da mais bela lenda oriental.


Considerando a fotografia e direção de arte impecáveis; a atuação exemplar da adorável Judi Dench (magnífica e generosa) e do expressivo Ali Fazal (com naturalidade e brilho no olhar cativantes); as personagens protagonistas muito bem desenvolvidas (deixando maliciosamente para o espectador decidir o que é real e o que é imaginário na fascinante relação entre a solitária rainha inglesa e seu afetuoso serviçal indiano); o elenco de apoio formidável; o enredo empolgante, com tiradas geniais..., Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha, de Stephen Frears, é uma delícia de espetáculo.


Toda via das biografias e fofocas britânicas, porém, quem prefere as velhas verdades sem graça às fabulosas lendas divertidas e sem compromisso, há um bom material especulativo na internet sobre o indiano/muçulmano Abdul Karim e sobre o escocês John Brown. Não é muita coisa, já que a família real inglesa tratou de destruir os diários e a correspondência que os dois trocaram com Victoria. Mas, sabe como é, há sempre um tapete a ser levantado pra se varrer a poeira acumulada!


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...