quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Crítica: Liga da Justiça


LIGA DA JUSTIÇA
por Joba Tridente

Com a telona de cinema formatando cada vez mais as histórias em quadrinhos, parece que finalmente a sombria DC, assim como aconteceu com a sua concorrente Marvel, está encontrando o foco ideal dos seus heroicos e ou vilanescos personagens, cujo enquadramento mais iluminado começou a surpreender com o ótimo traçado da poderosa Mulher Maravilha (2017).

Pode não ser fácil encontrar o tom exato da linguagem quadrinista no cinema (bem menos custoso se testado em gibis)..., mas é possível. Se bem que, assim como na guerra ideológica na rede social FakeBook, quando se trata de filme de super-herói, mesmo o público mais ciente é capaz de travar guerra de comentários e xingamentos (em alguns sites) por conta do estilo taciturno DC (Esquadrão Suicida) e ou do estilo desenvolto Marvel (Guardiões da Galáxia) das histórias projetadas. Eu, hein!!!

Ainda que cada fã de HQ tenha lá a sua preferência “editorial”, já passou da sessão dele aprender (de uma vez por todas!) que, em cinema, uma história anteriormente quadrinizada (ou não) está sujeita à visão capitalista dos produtores, nem sempre familiarizados com o mundo de fantasia encenado, já que pensam tão somente em cifras e não em multiversos. Mudança de personalidade de herói e de vilão, argumentos tosco e roteiros chochos sempre vão “atender” mais ao mercado do que aos fanáticos. O que não quer dizer que produtores, roteiristas e diretores acertem sempre. Em muitos casos é uma calamidade gráfica.


Liga da Justiça, dirigido por Zack Snyder, que recentemente escorregou com Homem de Aço (2013) e foi ao chão com Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), tem tudo para recolocar (?) o diretor e a DC nos trilhos do sucesso. A trama de ação e aventura, que teria sido finalizada por Joss Whedon, conta a origem da Liga da Justiça em meio ao ataque do trevoso Lobo da Estepe (voz de Ciarán Hinds), um alienígena que chega a Terra, por um orifício no Céu (com tanto vilão invadindo o planeta através de fendas celestiais, haja camada de ozônio!), à procura de três Caixas Maternas para liberar o seu poder devastador (feito uma Caixa de Pandora), instalar o caos e preparar (?) o caminho para o Darkseid, o tirano de Apokolips. O que o chifrudo Lobo, feliz com a morte de Superman (Henri Cavill), não contava é que o Batman (Ben Affleck) seria capaz de reunir quatro (novos) heróis: Mulher-Maravilha (Gal Gadot), Flash (Ezra Miller), Aquaman (Jason Momoa) e Ciborgue (Ray Fisher) e partir para o contra-ataque. Quanto à participação do Superman na defesa da Terra e na fundação da Liga, você vai ter de assistir pra saber como o Homem de Aço volta à vida e reencontra o seu “rival” Batman (com os seus infalíveis planos “B”).


O roteiro infantojuvenil de Chris Terrio e Joss Whedon tem a simplicidade e a eficiência de uma boa história em quadrinhos, equilibrando habilmente o tempo de aventura, de ação e de humor. As piadas (com algo meio nonsense) e as gags são pontuais e totalmente compatíveis com o enredo leve e principalmente com seus personagens díspares. Embora o Flash seja um bom alívio cômico e roube a maioria das cenas, na velocidade de um raio, o humor sarcástico do Batman não deve ser descartado. O Morcegão tem timing e, feito um Buster Keaton (que faz graça da própria desgraça), está impagável com suas tiradas desconjuntadas. As piadas do herói soturno podem até soar clichê e você achar que ele realmente diria o que diz, mas o que conta é o momento, o contexto em que ele solta as suas inesquecíveis pérolas. Ah, fique atento, tem uma cena íntima (!) do herói noturno fazendo algo que você nunca imaginou ver. O Alfred (Jeremy Irons) pode ser um mordomo de mil e uma funções, mas parece que certas coisas, o milionário Bruce Wayne prefere fazer pessoalmente.


Liga da Justiça tem uma narrativa linear totalmente descompromissada e flui que é uma beleza. A história não cansa e muito menos aborrece o espectador, ainda que o vilão (em CGI) não seja lá grande coisa. O enredo desenvolve razoavelmente o encontro dos heróis em torno de uma causa comum (combate ao Lobo da Estepe e resgate das três Caixas Maternas)..., mas fica a dever sobre o passado “confuso” de Flash, Ciborgue e Aquaman. Há pancadaria e violência (sem sangue), mas a destruição urbana, desta vez, está mais restrita à periferia “desabitada” em um país bem longe dos EUA. O elenco é ótimo e rola aquela química essencial para que o grupo de personagens realmente funcione como grupo, ressaltando a personalidade esdrúxula de cada um. Já no quesito romance, enquanto o Superman e a Lois Lane (Amy Adams) têm direito a seus minutinhos “a sós”, é bom saber que o resto da turma não é assexuada e que pode muito bem rolar futuramente um clima mais quente entre a Mulher-Maravilha e o Batman e ou entre a Mulher-Maravilha e o Flash..., por que não?

Enfim, considerando a abertura bem legal e as duas cenas pós-créditos (prefiro a primeira: Flash vs Superman); a notável direção de Zack Snyder (com a colaboração final de Joss Whedon?); e apesar dos efeitos (games) especiais ficarem a desejar..., Liga da Justiça é realmente um novo farol para a DC. Tomara que continue iluminando as próximas produções com mais humor e menos dramas ou tragédia pessoais!

*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.


Crítica: Liga da Justiça, Ação e Aventura, Super-Heróis, Zack Snyder, Joss Whedon, Henri Cavill, Ben Affleck, Gal Gadot, Ezra Miller, Jason Momoa,  Ray Fisher,  Personagens de HQ,

domingo, 12 de novembro de 2017

Crítica: Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha


Victoria e Abdul - O C0nfidente da Rainha
por Joba Tridente*

Histórias palacianas envolvendo monarcas e súditos, quando em boas mãos e sob olhar perspicaz, sempre rendem bons filmes. As maquinações dos bastidores da famosa realeza britânica, com toda pompa e circunstância..., e algum escândalo conveniente (sempre na boca de cena das intrigas), valem ouro.

Em 1997 o diretor inglês John Madden trouxe para a telona o interessante e intenso Mrs Brown, focado na explosiva relação de amizade (próxima ou íntima?) entre a Rainha Victoria (Judi Dench) e o seu arrogante serviçal cavalariço escocês John Brown (Billy Connolly). Um relacionamento (de 1864 a 1883) que, segundo os pesquisadores, teria ido muito além do que se vê no drama (melancólico). Agora, vinte anos depois, é a vez do diretor britânico Stephen Frears  contar, com muita elegância e humor, do convívio afetivo (próximo ou íntimo?) da Rainha Victoria (Judi Dench) com seu devotado servo indiano Abdul Karim (Ali Fazal) na encantadora comédia (quase dramática) Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha. Um relacionamento afetuoso (de 1887 a 1901) que, nos últimos anos, também tem dado pano pra manga. Aliás, se alguém que nunca chupou uma manga (a fruta) lhe perguntasse o gosto, o que você diria? A resposta de Abdul para Victoria é inesquecível!


Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha, deliciosamente roteirizado por Lee Hall, é “baseado em eventos reais..., na maior parte” e também no livro Victoria & Abdul: The True Story of the Queen’s Closest Confidant (2010), da jornalista Shrabani Basu. A comédia (quase dramática) tem a “leveza” muito peculiar do indiscreto humor inglês, que se torna impagável na boca de Mohammed (Adeel Akhtar, ótimo), o indiano simplório que é “escolhido” para acompanhar o escrevente Abdul (Fazal) até a Inglaterra, para entregar uma moeda cerimonial, cunhada na Índia (sob domínio britânico), à Rainha Victória (Dench), em homenagem ao seu Jubileu de Ouro.

A viagem era pra ser um vapt-vupt: chegar, entregar a medalha e voltar. Mas, o devotadíssimo Abdul acaba despertando o interesse entusiástico da Rainha Victoria e é convocado para lhe servir, por tempo indeterminado, como seu “Munshi”, um professor para lhe ensinar tudo sobre os costumes da misteriosa Índia (onde ela jamais esteve). A surpreendente amizade e intimidade dos dois, assim como aconteceu com Brown (o servo favorito anterior da Rainha), também escandaliza o palácio, provocando ciúmes e intrigas entre funcionários, políticos e membros da buliçosa família real.


Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha é daquelas tramas que te envolvem já nos primeiros minutos e não te deixam mais escapar das amarras até os créditos finais. A “doce” ironia dos diálogos de ontem dizem muito das relações internacionais de hoje, sejam elas monárquicas, republicanas, democráticas, muçulmanas..., pois, afinal, como diz Mohammed: “Todos querem alguma coisa!” (do outro para se distinguir do outro). Intolerância, racismo, religião, poesia, sabores e linguagem fazem parte de uma pauta que prima pela independência (e liberdade poética) no desenvolvimento do formidável roteiro e excelência de Frears na direção de uma narrativa muito bem-humorada (às vezes ferina!) e com urdidura digna da mais bela lenda oriental.


Considerando a fotografia e direção de arte impecáveis; a atuação exemplar da adorável Judi Dench (magnífica e generosa) e do expressivo Ali Fazal (com naturalidade e brilho no olhar cativantes); as personagens protagonistas muito bem desenvolvidas (deixando maliciosamente para o espectador decidir o que é real e o que é imaginário na fascinante relação entre a solitária rainha inglesa e seu afetuoso serviçal indiano); o elenco de apoio formidável; o enredo empolgante, com tiradas geniais..., Victoria e Abdul - O Confidente da Rainha, de Stephen Frears, é uma delícia de espetáculo.


Toda via das biografias e fofocas britânicas, porém, quem prefere as velhas verdades sem graça às fabulosas lendas divertidas e sem compromisso, há um bom material especulativo na internet sobre o indiano/muçulmano Abdul Karim e sobre o escocês John Brown. Não é muita coisa, já que a família real inglesa tratou de destruir os diários e a correspondência que os dois trocaram com Victoria. Mas, sabe como é, há sempre um tapete a ser levantado pra se varrer a poeira acumulada!


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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