sábado, 2 de setembro de 2017

Crítica: Lino - Uma Aventura de Sete Vidas

Lino - Uma Aventura de Sete Vidas
por Joba Tridente

Uma das minhas grandes paixões no cinema é o desenho animado, também conhecido como animação. Todo ano chegam (de outros países) obras maravilhosas como Kubo e As Cordas Mágicas e A Tartaruga Vermelha..., só pra ficar em duas mais recentes. Por aqui já desembarcaram excelentes produções Argentinas, Mexicanas, Francesas, Canadenses, Inglesas, Alemãs, Japonesas... Os EUA ainda dão muitas cartas e continuam referência técnica e de conteúdo, inclusive, nas animações europeias, mas já com menos vícios.

Desde 1951, com Sinfonia Amazônica, de Anélio Lattini Filho, os artistas brasileiros (na garra e na coragem) vêm trabalhando duro para conquistar um pedaço do saboroso bolo animado que há um bom tempo se espalhou por todo o mundo: Piconzé (Ippe “Ypê” Nakashima, 1973); Boi Aruá (Chico Liberato, 1984); Rocky e Hudson (Otto Guerra, 1994; O Grilo Feliz (Walbercy Ribas 2001); Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll (Otto Guerra, 2006); Uma História de Amor e Fúria (Luiz Bolognesi, 2013); O Menino e O Mundo (Alê Abreu, 2013); Até que a Sbórnia Nos Separe (Otto Guerra e Ennio Torresan, 2013); Guida (Rosana Urbes, 2015).


No dia sete de setembro de 2017, quando se comemora o “Dia da Independência”, no Brasil, estreia nos cinemas a animação Lino - Uma Aventura de Sete Vidas, produzido pela StartAnima (Cassiopéia e O Grilo Feliz), com direção de Rafael Ribas. O filme com muita ação e alguma aventura acompanha as agruras de Lino (voz de Selton Mello), um sujeito tão azarado que, por não ter aptidão profissional alguma, cria uma horrorosa fantasia de gato (vermelho e amarelo) para “animar” festas infantis. Um desastre anunciado! Decidido a dar um novo rumo à sua vida, ele procura os serviços do feiticeiro Don Leon (voz de Luiz Carlos de Moraes) e acaba sendo transformado na fantasia que veste. Como se não bastasse o incômodo, ele vira alvo da policial Janine (voz de Dira Paes), por suposto roubo e sequestro. Agora, pra tentar desfazer o feitiço, Lino e Leon terão de correr pra reunir três ingredientes inusitados, pois o tempo é curto (pra eles, porque, pro espectador, parece uma eternidade!).


Lino - Uma Aventura de Sete Vidas (Brasil, 2017) é daquelas produções que você torce para que dê tudo certo, que seja divertida, que te deixe orgulhoso do cinema de animação brasileiro. Porém, a história vai se esticando enfadonha e você não vê hora daquela chatice, daquele arremedo gringo terminar. É inacreditável que um argumento tão bacaninha (um animador de festas transformado na própria fantasia) tenha resultado num roteiro tão bobo, tão tosco e tão estadunidense. Parece até encomenda-teste de algum estúdio norte-americano acostumado com a mão de obra sul-coreana querendo ver como se saem os brasileños...


Há pouco, quase nada de Brasil na história, cuja referência mais gritante é a animação Monstros S.A (Pixar, 2001), onde uma menininha (Boo) se relaciona carinhosamente com um monstro azul e roxo (Sullivan). Ou será mera “coincidência” que uma menina órfã caia de amores pelo grande e mal-humorado gato vermelho e amarelo e acabe criando muita “confusão”?  Em cena, pra qualquer canto que se olhe, não se vê uma cidade brasileira com a ginga, a malandragem, o jeito de ser da nossa gente..., mas uma american (way of life) city com a maioria dos dizeres em inglês: Start News, Gasoline, One Way, Police, Ice Cream. A hollywoodiana perseguição automobilística (com as indefectíveis batidas!), dupla de policiais idiotas vestindo farda azul, café, piadas imbecis e a fixação por bunda, peido e cocô, não deixam dúvida quanto a matriz, o matiz e o mercado (do) alvo.


O enredo preguiçoso e incoerente, apressado nas soluções fáceis, deve “enredar” crianças pouco exigentes de seis a nove anos. Aos adultos acompanhantes recomenda-se deixar o “Tico” e o “Teco” em casa assistindo tv, para evitar o ronco em trio. Tecnicamente é razoável (não tenho a referência da versão em 3D)..., ainda que falte apuro em um ou outro recorte de personagens e na sobreposição (sem volume, profundidade e sombra) deles em algumas sequências. O desenho dos cenários é bem superior ao traço (sem originalidade) dos personagens que, por não terem nenhum carisma, parecem bem mais feios do que são realmente. A dublagem (pra variar) é equivocada..., tem momento em que não se entende os “diálogos”, o que, pelo todo, não deixa de ser uma benção. Da “trilha sonora” nem vou comentar! Enfim..., uma animação bonitinha, mas sem graça.


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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