quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Crítica: Valerian e a Cidade dos Mil Planetas

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas
por Joba Tridente

Nascida nas páginas da revista Pilote, em 1967, a aclamada série franco-belga de ficção científica em quadrinhos Valérian, que inspirou a franquia Star Wars (sem receber os créditos) e o fascinante O Quinto Elemento (1997), chega aos cinemas meio século depois do seu lançamento, na espetacular leitura do visionário roteirista e diretor Luc Besson, com o convidativo título Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (Valérian et la Cité des Mille Planètes/Valerian and the City of a Thousand Planets, 2017).


Repleto de efeitos especiais que superam qualquer produção recente, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é daqueles filmes juvenis de encher os olhos e deixar o espectador (de qualquer idade!) de queixo caído, sem saber para que lado olhar e ou em quê prestar a atenção..., tamanho o deslumbre visual. É uma viagem sensorial e imersiva no que há de mais avançado em tecnologia CGI. Mas, toda via da beleza infinita pelo universo da fantasia e ficção científica, esta admirável cenografia ajuda ou atrapalha na hora de contar as audaciosas aventuras dos jovens agentes espaço-temporais Major Valerian (Dane DeHann) e Sargento Laureline (Cara Delavigne) por mundos nunca antes explorados? Aí depende das suas expectativas! O que melhor te satisfaz: pipoca ou conteúdo?


Quem é fã do antológico O Quinto Elemento (1997) vai se sentir bem próximo ao ambiente e ao enredo do fantástico Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, já que esta nova trama (vinte anos depois) tem muito da sua substância original em cenas que até parecem releitura. A mim, Luc Besson, com sua ansiedade hollywoodiana, tem o dom tanto para criar fantasias maravilhosas (OQE) quanto para equívocos como Lucy. No caso de Valerian, pode até haver algum problema de itinerário narrativo (principalmente na condução dos atores), mas em um projeto tão ambicioso, o incômodo passa até meio batido.


Ao adaptar os quadrinhos de Pierre Christin e de Jean-Claude Mézières, Besson  te conduz a uma viagem anos-luz da imaginação. Ambientada no século 28, a história acompanha uma transcendental missão de Valérian (DeHann) e sua parceira Laureline (Delavigne) para resgatar o raríssimo Mül Conversor, um adorável animal que está sendo negociado ilegalmente num centro de compras virtual, em um planeta deserto, e evitar que ele caia em mão erradas no Complexo Espacial Alpha, que abriga espécies de mil planetas. Porém, este é só o início das pequenas e absurdas aventuras, relacionadas a uma grande tragédia cósmica, que os dois (salvando-se mutuamente) vão enfrentar para evitar o colapso da Cidade dos Mil Planetas.


O roteiro de Besson é simples, mas eficiente para a narrativa (juvenil!) despretensiosa que propõe. Megalomaníaco visual? Talvez, mas não há como lhe negar criatividade, que vai muito além da estética, no desenvolvimento de sequências deliciosamente malucas, como a das borboletas luminosas; das águas-vivas mentalizadoras; do inacreditável mercado virtual... O apurado desenho dos personagens extraterrestres mostra que a tecnologia (pra quem pode pagar!) realmente não tem limites.

Sobretudo por causa da exuberante plasticidade (que desconecta qualquer um da Terra), pode até parecer que há “cenas de ação em excesso” e “texto de menos”..., e ou que Luc Besson está fugindo do assunto “curto” preenchendo o “vácuo” da história, entre o formidável prólogo (ao som de Space Oddity de David Bowie) e o adequado epílogo, com qualquer coisa vertiginosa só para estender seu discurso (visual). No entanto, o tal “excesso de cenas” serve como encaixe de capítulos de uma história em quadrinhos cujos personagens enfrentam as mais diversas (e bota diversas nisso!) situações para atingir o alvo almejado. Sem elas o script perderia o sentido, já que não haveria nenhum antagonista para responder pela insanidade inicial cometida contra um povo pacífico. Quanto ao texto/diálogo, cá pra nós, é bem melhor menos do que redundante. Também porque são diálogos práticos (alguns com humor), necessários para conduzir sequências e não para reflexão profunda sobre a humanidade. Primeiro a diversão e depois a razão.


Para o espectador mais adulto (exigente!), numa trama em que a maioria dos personagens em ação é de perfeito CGI, a performance do elenco humano fica um pouco a desejar. Já o público adolescente talvez nem repare que os atores Dane DeHann e Cara Delavigne não são ideais para os papéis. Além da jovialidade e tipo físico diferente dos personagens da hq, demonstram pouco carisma e nenhuma química. Sobre a breve participação de Rhiana, embora a sua bela Bubble remeta diretamente à Diva Plavalaguna (Maïwenn Le Besco), de O Quinto Elemento, a cantora tem presença e um número artístico memorável.


Enfim, com muita ação e historietas bacanas, numa narrativa repleta de fantasia e que vira a ficção científica de ponta cabeça, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é um espetáculo que, para melhor apreciação, deve ser assistido com espírito jovem..., do contrário, o espectador com espírito adulto e atrás de alguma mensagem edificante é capaz de se aborrecer. O humor pode não ser dos melhores, mas os adolescentes devem achar alguma graça e, inclusive, aprovar o amor pudico do casal protagonista. Considerando que este é um espetáculo de entretenimento raro, com linguagem de história em quadrinhos e de beleza irretocável, eu o veria novamente..., depois de deixar o meu eu adulto bem trancado em casa!



*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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