quinta-feira, 11 de maio de 2017

Crítica: Alien: Covenant

Alien: Covenant
por Joba Tridente

Há 38 anos, Alien, o Oitavo Passageiro, de Ridley Scott, aterrorizou plateias em quase todo o mundo terrestre. Depois, a cada retorno, o monstrengo foi se tornando tão vulgar e chato que, nas suas últimas aparições, até em dupla com outro alienígena, o Predador, não provocava sequer um arrepio no inverno. Então, nos idos de 2012, Scott achou que, 33 anos depois, devia ele mesmo resgatar a sua “cria” alienígena em um prólogo denominado Prometheus, que, a princípio, não seria o prólogo de Aliens (1979), mas que acabou sendo. Com sua especulação metafísica sobre a origem, os meios e o fim do homem, o resultado foi decepcionante.  Ou como ironizou a mídia especializada e grande parte dos espectadores: Prometheus prometeu e ficou na promessa!


Após cinco anos de muita conversa atravessada nos bastidores, eis que vamos reencontrar Ridley Scott, mais uma vez querendo assustar a sua fiel plateia com as conveniências alienígenas em Alien: Covenant (Alien: Covenant, 2017). O drama de ficção científica, com alguns aborrecidos sustos sonoros, além da pretensa discussão filosófica sobre criador e criatura, que reverbera por toda a trama (fala do androide Davi (Michael Fassbender) para o seu criador Peter Weyland (Guy Pearce): - Você procura o seu criador. Eu estou olhando para o meu! Você vai morrer. Eu não!), narra as desventuras (é claro!) da tripulação da aeronave Covenant que, a caminho do planeta Origae.6 (levando 2000 colonos), é despertada para resolver uma grave avaria no veículo. Sim, as espaçonaves terrestres, dependendo do engenheiro, sempre dão problemas no espaço, onde nenhum pedido de socorro será ouvido, e todos os tripulantes, habilitados ou não para o serviço técnico, vão ter de se virar para consertar a nave, se quiserem seguir viagem rumo a um mundo onde o homem jamais esteve...


Continuando, além de alguns humanos, como o capitão Oram (Billy Crudup) e a segunda no comando Daniels (Katherine Waterston), faz parte da tripulação o simpático androide Walter (Michael Fassbender), uma réplica gentil do androide psicopata Davi (Fassbender), que sumiu ao final de Prometheus. Acontece que, diferente de um pedido de socorro, a bela canção Take Me Home, Country Roads, de John Denver (1943-1997) pode ser ouvida no espaço. E como a curiosidade mata o rato, já que o planeta de onde chega a canção está a uma semana de viagem e o Origae.6 a sete anos (em crio-sono), nada melhor que fazer uma visitinha e, se a terra for boa, encurtar a viagem, trocando um paraíso pelo outro. Nem é preciso dizer que o paraíso vai virar o inferno, com a chegada dos ansiosos e descuidados humanos. Daí, é só acompanhar o rotineiro pega-pega (ou fura-fura) entre alienígenas e humanos, contar mortos e feridos e apostar em quem sobreviverá! Ah, e adivinha quem é o responsável pela emissão da música-isca pelo espaço?


Para quem conhece toda a série do metálico alienígena cabeçudo que baba ácido, incluindo as tolas parcerias Alien/Predador, Alien: Covenant é apenas (ou tão somente) mais do mesmo e (pior!) com muito menos terror, suspense, tensão e muito mais previsibilidade. Não importa a quantidade e ou variedade de Aliens de Scott (aqui vai do microscópico ao gigantesco), os ataques são explosivamente iguais e, com certeza, continuarão se repetindo nos próximos (três?) filmes. Assim, diante da tradicional (e bocejante) sandice humana, não é difícil saber quem tentará salvar o dia, (despertando a força que não sabia ter) e quem (excetuando o androide?) estará ali apenas para boi de piranha, digo, bucha de alien (tipo os camisas vermelhas da série televisiva Star Trek).


Enfim, considerando que o “suspense” infantojuvenil de “sustos” sonoros, deve agradar aos fanáticos espectadores pouco exigentes; que o “roteiro” simplório tem menos falhas que Prometheus, mas continua perdido no espaço do gênero e (talvez por isso?) subestimando o público com sequências insensatas (idiotas?) ou piegas; que a “pegada” gore está mais é para o trash; que a reflexão religiosa (fé cega e pagão imolado) é inócua; que o elenco é ótimo, porém seus personagens (excetuando Davi/Walter) são rasteiros e emotivamente imbecis; que a produção impecável e os excelentes efeitos especiais não são suficientes para maquiar a falta de criatividade, inclusive na direção..., Alien: Covenant (apesar da belíssima cena da aula de flauta entre androides) é um presente de grego. Tire suas dúvidas por conta própria..., vai que gosta!

Nota: No YouTube tem dois prólogos, criados por Ridley e seu filho Luke, que não estão em Alien Covenant: O primeiro tem a ver com o final de Prometheus e o segundo com a hibernação dos astronautas. Não são spoiler e não comprometem o filme. Você pode assistir agora e ou depois. Legendas em espanhol.


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Crítica: Paterson

PATERSON
por Joba Tridente

A boa arte literária nasce bruta e o escritor vai burilando as palavras, assim como o pintor apura as pincelada e o cineasta os fotogramas..., o que não quer dizer que seja regra. A arte depende do olhar do artista no processo de compreender e verbalizar o mundo ao seu redor..., o que não quer dizer que seja regra. A arte não precisa ser representação fiel da realidade, pode ser interpretação, especulação e ou mera metáfora..., o que não que dizer que seja regra. Pois a (re)leitura da arte dependerá (e muito) do nível intelectual do espectador.

Jim Jarmusch é um roteirista e diretor que foge à regra. E como foge! Suas obras são originais e únicas na exploração do cotidiano com suas reflexivas banalidades. Em seu cinema casual, tudo flui com uma naturalidade absurda (tanto na caracterização dos personagens quanto no desenvolvimento dos diálogos), sem jamais cair no ridículo da caricatura. À margem do cinemão e sem dar a mínima à cartilha dos clichês hollywoodianos, Jarmusch surpreende onde a maioria (obediente à cartilha) falha. É que quando se sabe o quê e como dizer, o universo inspira o script. E ou conspira a favor!


Paterson (Paterson, 2016), seu filme mais recente, é de uma beleza desconcertante. Poético do princípio ao fim, os versos do enredo compõem e se recompõem, no recorte de uma semana, ao redor de Paterson (Adam Driver, excelente), um pacato e sensível condutor de ônibus em Paterson (Nova Jersey, EUA). A magia já começa aí, cidadão e cidade compartilhando nome: um, querendo fazer parte da história local; outra, querendo o reconhecimento de suas celebridades na história local.


Ao cativante Paterson, que tem como ídolo e referência literária o escritor americano William Carlos Williams (1883-1963 - na internet há farto material sobre este autor modernista genial), todo material em seu caminho (embalagens, placas, locais, até conversa de passageiros) serve de inspiração para seus poemas, compostos diariamente durante o itinerário do velho ônibus pelas ruas de Paterson e anotados em um caderno. No final do expediente, quando regressa ao lar, ele troca confidências com a jovem esposa Laura (a belíssima Golshifteh Farahani), que ainda não encontrou o seu lugar no mundo profissional, revisa seus versos, passeia com o cachorro, bebe um chope com amigos e volta pra casa... 


No dia seguinte o mesmo rito: se ocupar poeticamente com o que parece banal aos olhos grosseiros e nem se dar conta da sua rotina que foge à rotina dos seus amigos e conhecidos que não mudam o “discurso” de amor e dor. É fascinante ver (e ouvir) o seu processo criativo, o seu método de lapidação das palavras, de desconstrução e de ressignificação das imagens que lhe inspiram..., e também o seu temperamento para lidar com pequenos dissabores que, por vezes, o tangenciam.


Considerando que Paterson é um maravilhoso conto sobre o fazer poético; que é um delicioso exercício literário para escritores e ou mero leitores saborearem verso a verso, até o inquestionável ponto final, uma semana de trabalho e lazer na companhia de um simpático motorista de ônibus apaixonado por poesia e de sua mulher às voltas com as cores preta e branca; que os poemas de Paterson (escritos pelo poeta americano Ron Padgett) são tocantes e desveladores, assim como a poesia japonesa (Haiku e Tanka); que essa belezura em tons sépia e ou ocre, muito bem escrita e interpretada e fotografada (Frederick Elmes), dificilmente será vista pela massa ignara que não consegue pensar além do tombo, digo, do combo pipoca/refri/celular..., o público seleto pode ir tranquilo para se emocionar e desfrutar o excelente momento, com a certeza de que ainda existe vida inteligente e muita poesia nos arredores de Hollywood... 


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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