sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Crítica: La La Land: Cantando Estações


La La Land: Cantando Estações
por Joba Tridente*

Em tempos de violência generalizada no mundo do cinema e no mundo dos espectadores, assistir a uma boa fantasia com vocação melodiosa é um bálsamo..., como se dizia antigamente, e ou nos tempos áureos dos grandes musicais norte-americanos. Em 2016 foi uma delícia assistir aos descompromissados e excelentes desenhos muitíssimos animados Trolls e SING ou ao curioso melodrama brasileiro Elis. Ainda não é possível saber se toda a safra cinematográfica prometida para 2017 será de qualidade, mas começa bem com o simpático musical La La Land: Cantando Estações, escrito e dirigido por Damien Chazelle (Whiplash) e protagonizado por Ryan Gosling (Sebastian) e Emma Stone (Mia), uma dupla de atores cheia de disposição para tocar, dançar e cantar os sonhos e frustrações das suas personagens no vai e vem das estações do ano pela ensolarada Los Angeles...


La La Land: Cantando Estações (La La Land, EUA, 2016) é um musical com mais diálogos que números musicais e de dança. Ou seja, tem mais gente falando ou reclamando da indústria do entretenimento do que cantando e dançando. Seu roteiro é simples, mas não chega a ser totalmente raso: um músico radicalmente apaixonado pelo jazz conhece uma atriz apaixonada pelo cinema e, claro, se enamoram. Ambos vivem na Cidade dos Sonhos: Los Angeles. Ele é Sebastian (Gosling), pianista que odeia o jazz moderno (e o samba!), toca esporadicamente em casas noturnas e sonha em abrir o próprio bar temático. Ela é Mia (Stone), trabalha como barista, num café instalado dentro dos estúdios da Warner, vai a todos o testes de elenco e sonha em atuar em algum filme. Os dois sabem que LA é mãe e madrasta dos artistas e que apenas a perseverança os levará ao estrelato na música e ou no cinema.


Com uma trama que lembra as histórias (por vezes melancólicas) do diretor e jazzista Woody Allen (como, por exemplo, o ferino Café Society) e referências aos melhores musicais norte-americanos, embora não traga nenhuma canção realmente memorável e ou coreografia (original) espetacular, La La Land é envolvente pela química entre os atores Gosling e Stone que, se não são excepcionais cantores e bailarinos, dão conta do recado com certa graciosidade nos números de dança e interpretação segura nos diálogos e cantoria. Essa “deficiência” dos atores, na música e na dança, acaba até tornando os seus personagens muito mais críveis.


Mas, como nem tudo que brilha são estrelas no céu hollywoodiano, na trama musicada há ao menos uma nota bem desafinada nos arredores de um bar com música ao vivo. Sem a eloquência woodyalleniana (já que não é um filme do mestre), a narrativa trata com exagerada nostalgia (e até escárnio) a questão dos músicos puristas estadunidenses que não conseguem aceitar os rumos que o jazz e o blues tomaram nos EUA e nem a chegada de uma nova geração (norte-americana) de compositores e intérpretes ao mercado, fundindo ritmos em busca de nova sonoridade e plateias. Nesse imbróglio sobra até para o samba (brasileiro)..., ainda confundido (pelo insano Tio Sam) com gêneros musicais latinos (rumba, salsa, bolero, mariachi)..., em duas ou três cenas constrangedoras e totalmente fora de contexto, porém, ao gosto xenofóbico de Trump e onde caberia, sem dúvida alguma (em resposta ao roteirista e diretor Chazelle), a recente fala de Meryl Streep, na premiação do Globo de Ouro: “Hollywood está cheia de estrangeiros. Se expulsarmos todos eles vocês não terão nada para assistir, exceto por futebol e artes marciais mistas”.

Aliás, eu nem sabia que o (execrado) samba (acompanhado de “malditos” petiscos latinos) faz tanto sucesso nas casas noturnas de Los Angeles, a ponto de ser citado no musical como responsável por desempregar tradicionais jazzistas estadunidenses e ser a razão de destempero do personagem Sebastian, numa ridícula cena noturna de vandalismo. Haja fobia! E por falar em estrangeiros, nem vou comentar (pra não me repetir) o destino da personagem Mia.


Bem, piada (?) de mau gosto com o samba e com a comida mexicana (que você pode nem notar!) à parte, La La Land: Cantando Estações é um bom programa para os amantes de musicais aerados. Ao público acostumado a musicais arrebatadores, a canção-tema, principalmente cantada, pode não soar das mais bonitas. Digamos que, assim como as outras músicas da trilha, está mais para estranha do que para marcante. Mas cumpre a sua função narrativa e, em meio ao cenário e danças, acaba razoável. Se bem que, possivelmente, ao final da sessão, você não vai lembrar nem da letra e nem da melodia. No entanto, toda via passada não importa mais. Já no quesito dança, há ao menos três interessantes coreografias customizadas de outros musicais (autoestrada, praça/rua, observatório) que resistem na memória até você ligar algum aparelho eletrônico...


Enfim, La La Land é uma nostálgica comédia romântica leve e bem comportada (sem sexo e com beijo técnico) sobre os percalços da vida de artista em Los Angeles. Não chega a ser hilária (está bem longe disso), mas tem algumas gags legais relacionadas às apresentações de Sebastian (Gosling) e às audições de Mia (Stone). Inclusive, em uma delas (de puro humor negro), creio que a primeira, Emma Stone está soberba numa performance tão desconcertante quanto toda a cena ao redor. Ryan Gosling também tem ótimas performances.

Com sua história conservadora (assim meio retrô/vintage e com pitadas de melancolia), algumas sequências brilhantes e outras nem tanto, La La Land: Cantando Canções pode não ser tão divertido e criativo quanto SING, mas é um filme que pode ser saboreado sem contraindicação e sem pressa num boa sala de cinema, por toda a família..., desde que a criançada goste de jazz (puro ou fusão) e de dança. Pelo que me lembro, é isso!


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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