domingo, 18 de dezembro de 2016

Crítica: Sing - Quem Canta Seus Males Espanta


Sing - Quem Canta Seus Males Espanta
por Joba Tridente

Está chegado às salas de cinema mais uma deliciosa, cantante e dançante animação: Sing - Quem Canta Seus Males Espanta, produzida pela Illumination (O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida, Meu Malvado Favorito, Minions, Pets - A Vida Secreta dos Bichos)..., tomara que ao menos ela consiga levantar o astral dos espectadores sobreviventes deste nefasto ano de 2016.


Sing - Quem Canta Seus Males Espanta (Sing, 2016), escrita e dirigida por Garth Jennings, acompanha o dia a dia do incansável produtor teatral Buster Moon (Matthew McConaughey), um coala apaixonado pelo palco e que, mesmo amargando prejuízo com os últimos espetáculos, acredita que o seu teatro pode voltar a ser a grande sensação da cidade onde convivem diferentes espécies animais. Para tanto, num momento de “ou tudo ou nada” (pois quando se está no fundo do poço o único caminho é para cima), ele junta seus parquíssimos recursos e cria um Programa de Calouros.


Muitos pretendentes à fama de cantor(a) vêm pelo prêmio, mas outros querem mesmo é soltar a bela voz. Da multidão de excelentes candidatos, Moon e a sua assistente Senhorita Crawly, uma lagarta camaleão muito idosa, selecionam o impagável Gunter (Nick Kroll), um simpaticíssimo porco cantor e dançarino literalmente brilhante; o jazzista ególatra Mike (Seth MacFarlane), um rato branco malandro; Rosita (Reese Whiterspoon), uma porca engenhosa, mãe de 25 leitões, que não abre mão da oportunidade; o adorável Johnny (Taron Egerton), um jovem gorila que vai ter de escolher entre os negócios ilegais da família e o seu sonho; a rebelde Ash (Scarlett Johansson) uma porco-espinho punk-rock buscando reconhecimento; a adolescente Meena (Tori Kelly), uma elefanta com bela voz, mas tímida demais...


Após o prólogo vertiginoso, com um impressionante “movimento de câmara” destacando recortes, enquadramentos, planos-sequência, Sing entra no ritmo tradicional (mas não menos ousado) das hollywoodianas histórias musicadas..., entremeando, sem nenhum exagero (apenas o essencial!), pitadas de romance, aventura, ação e drama, na descrição singular e distinta de cada personagem. Numa trama envolvente, em que todos os carismáticos protagonistas têm luz própria, há que saber dosar a energia, para não queimar o filme de nenhum deles.

Sing - Quem Canta Seus Males Espanta tem um roteiro básico e na medida da diversão para todas as idades. É deliciosamente leve, sem ser raso. É bem-humorado, sem precisar se sujeitar à escatologia. As gags são ótimas (a sequência de Moon no lava-carros é sensacional). Na verdade, todos os personagens (até os coadjuvantes!) têm os seus “15 minutos” arrebatadores (alguns, infelizmente, já vistos nos trailers).


A trama criativa (cheia de boas reviravoltas) não força nenhuma mensagem edificante piegas e ou lição de moral conservadora, mas, subliminarmente, dá uns bons toques sobre perseverança e triunfo na carreira (principalmente) artística e deixa espaço para se refletir sobre a rotina das donas de casa; a desestruturação familiar; o mercado de trabalho burocrático e ou artístico para o sexo feminino; a valorização do artista de rua (acredite, já vi artista reagindo da mesma forma que Mike, por conta de alguns trocados)...


Enfim, Sing, codirigido por Christophe Lourdelet, é mais uma boa surpresa neste 2016 de belas animações, como Kung Fu Panda 3; Pets - A Vida Secreta dos Bichos; Cegonhas - A História Que Não Te Contaram; o erótico Festa da Salsicha; Trolls; a obra-prima Kubo e as Cordas Mágicas, o magnífico A Tartaruga Vermelha. Sob direção tão cuidadosa, falar da qualidade técnica é redundância. Os personagens, além de graciosos, têm grande personalidade e uma vida crível. O cenário é bacana, o figurino é perfeito e as canções variadas (cerca de oitenta) para satisfazer a todo público (pop, rock, rap, punk, clássico) dão ritmo e arredondam maravilhosamente a já colorida narrativa.


A cópia que deve chegar aos cinemas brasileiros é a que traz (apenas) os diálogos “dublados” por “celebridades” e as canções (no original inglês americano) sem legenda. O que é uma pena, já que algumas composições têm a ver com a história dos intérpretes (se conseguir, se segure ao ouvir a clássica My Way, numa apresentação arrebatadora de Mike/Seth MacFarlane). Quanto à “dublagem”, a pior (e a voz mais reconhecível) é a da cantora Sandy. Toda via melodiosa, no entanto, se gosta dos gêneros animação e musical, não se deixa levar por esses detalhes (pecaminosos!) da dublagem e da falta de legenda.

Sing - Quem Canta Seus Males Espanta é um espetáculo emocionante e grande na sua inocência. Mesmo que seu enredo não dure muito na sua memória, após a sessão (o que eu duvido!), vale cada minuto da sua exibição.


Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Crítica: ELIS



ELIS
por Joba Tridente

Que o Brasil tem grandes nomes das artes, inclusive de alcance mundial, que merecem uma bela cinebiografia, não resta a menor dúvida. Já foram parar na telona músicos como Cazuza, Gonzagão e Gonzaguinha (em De pai pra filho), Tim Maia... Mas não é uma tarefa fácil agradar a todos os públicos, principalmente aos fãs (fé cega).

Há sempre quem ache que um filme biográfico mostra mais ou menos fatos do que deveria. Uns preferem a (cine)biografia incluindo todos os “erros” (pra mostrar que o artista não era santo) e “acertos” (pra mostrar que o sujeito não era néscio). Outros, adeptos da hagiografia, acreditam que falar de problemas familiares, sociais, envolvimento com drogas etc..., denigre a imagem de quem “só trouxe alegria” para o povo, enquanto vivo. Digo “enquanto vivo”, porque raramente se faz algum filme sobre um “astro” em plena atividade (que pode contestar informações, principalmente sensacionalista e de caráter “íntimo e pessoal”!).

Hoje em dia (?), na exposição do cinebiografado, o cinema privilegia mais o recorte de apelo “comercial”, o roteiro simplificado que “vai direto ao assunto” (conhecido!), com seleção de fases e abordagem de impacto dramático, numa narrativa nem sempre linear ou tradicional (começo/meio/fim)..., por vezes preterindo a inventividade em favor da comoção.


Elis, cinebiografia da cantora e intérprete Elis Regina (1945-1982), dirigida por Hugo Prata, também roteirista ao lado de Luiz Bolognesi e Vera Egito, conta e canta muito, mas não conta e nem canta tudo da vida-gangorra desta artista brasileira. O drama musicado, que vai de 1964, quando Elis (Andreia Horta, divina) chega ao Rio de Janeiro, vindo de Porto Alegre (RS), aos 18 anos, até a sua morte, aos 36, em São Paulo, no ano de 1982, apresenta algumas fases/cenas da sua intensa vida artística (boates, estúdios, festivais, teatros, tv), vida amorosa (Ronaldo Bôscoli e César Camargo Mariano) e vida familiar (filhos: João Marcelo Bôscoli, Pedro Camargo Mariano, Maria Rita). Como há muito assunto para pouco tempo..., nem tudo recebe a atenção merecida. Se algumas cenas são dignas de nota, outras são tão supérfluas que não fariam a menor falta. E olha que ficou muito mais coisa interessante de fora do que as que estão dentro da “fita”.


Embora tenha vivido em uma época bem menos expositiva que hoje, Elis era uma personalidade muito crítica. Assim como as fortes opiniões, os seus envolvimentos românticos e ou profissionais (bem ou mal) repercutiam nos veículos de comunicação. Nesse sentido, ao dar ênfase aos casamentos e desquites com o empresário e produtor Ronaldo Bôscoli (Gustavo Machado) e com o pianista César Camargo Mariano (Caco Ciocler), e ou ressaltar os ensaios de palco com Miéle (Lúcio Mauro Filho) e com o genial dançarino e cantor Lennie Dale (Júlio Andrade, ótimo), o filme pode soar mais como um álbum de fotos e fatos conhecidos.

Ainda que a composição (reconstituição de época) seja cuidadosa e por mais envolventes que sejam apresentações nos palcos e na tv, bem como relevantes as entrevistas polêmicas no Brasil e em Paris (numa performance excepcional de Horta), no todo, fica a sensação de se ver cenas soltas (boas mas fora de contexto), de capítulos aleatórios de uma história já (re)vista e lida. Será que ainda há algo sobre Elis que já não tenha sido publicado em artigos e biografias e ou mostrado em matérias televisivas?

Toda via narrativa, no entanto, há que se pensar (também?) no público que desconhece a trajetória de vida da cantora que saiu de cena há 34 anos e não está “preparado” para um turbilhão de informações (e emoções). Ainda que seja difícil saber se as novas gerações que curtem rap, funk, sertanejo, gospel etc, se interessariam em conhecer (ao menos no cinema) uma artista de mpb (música popular brasileira) que nunca ouviram falar e ou cantar. Tenho minhas dúvidas se hoje alguma rádio ainda toca as suas gravações.


Enfim, Elis (2016) é um bom drama ou, no mínimo, acima da média. Nem vai com tanta sede ao pote das belas canções quase esquecidas e nem deixa a plateia morrer de sede por não ouvir alguns sucessos emblemáticos (se são ou não os hits preferidos de cada um, aí é outra história). É provável que a trama alcance o velho e saudoso espectador mais pela impressionante atuação de Andreia Horta, perfeita na dublagem e nos trejeitos de Elis, do que pelo resumo de uma vida tão intensa, numa narrativa, digamos, por vezes rasa: quase nula ao falar da relação da artista com as drogas e excessiva, ao tratar da sua vida amorosa. Amizades e parcerias musicais (Gil, Caetano, Chico, Tom, Rita Lee) foram "esquecidas", mas, prioridades (dos roteiristas) são prioridades (do diretor) e cortes ou recortes (imagens fugazes) fazem parte da meta que se quer alcançar. Se relevantes ou não os fatos selecionados, o público e fã da “pimentinha” (como era conhecida por conta do seu gênio forte) é que poderá responder (com bilheteria?).

Pode ser que este filme (também) vire minissérie da tv Globo..., assim como De Pai Para Filho (em 2013), de Breno Silveira e Tim Maia (em 2015), de Mauro Lima..., e, aí, quem sabe, o material (re)surja bem mais rico!


Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35 mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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