O Filho Eterno
por Joba
Tridente
Desde o lançamento, em 2007, o romance O Filho Eterno, do escritor brasileiro
Cristóvão Tezza, recebeu vários prêmio no Brasil e no exterior. Em 2011, o
livro já editado em diversos países, foi adaptado para o teatro pela Cia Atores
de Laura, e o ator Charles Friks mereceu o Prêmio
Shell de Teatro pela sua notável performance no monólogo. Agora, em 2016,
chega aos cinemas numa interessante produção. Nada mal para uma obra “incômoda”
que fala de um assunto invisível: pais x filhos com Síndrome de Down.
"Você
é tão inteligente e não conseguiu nem fazer um filho direito."
O Filho Eterno
(romance/teatro/cinema) traz à tona um drama familiar mais comum do que a
“sociedade” prefere admitir: a aceitação de filhos e ou parentes com Síndrome
de Down. Embora a trama da obra homônima de Cristóvão Tezza, seja ambientada
nos anos 1980 (período de pouca informação sobre o assunto “mongolismo”), nos
bastidores da vida, os avanços da medicina (nas décadas seguintes) e mesmo a
abertura de mercado de trabalho, não mudou muito o (pré)conceito social. Lares ainda
são desfeitos por mães ou pais que, incapazes de conviverem com o quê lhes
parece uma grande “trapaça” do destino, abandonam seus filhos. O romance, para
quem não sabe, é baseado no drama familiar de Tezza, que tem um filho (Felipe)
com Síndrome de Down. Para alguns leitores, essa ficção escrita na terceira
pessoa e que conjuga-se na realidade, seria uma catarse do autor. Quando a
ficção “imita” os fatos, a sua aceitação é mais abrangente. Ou mais tocante!
No drama que chega à telona: Após as melhores
expectativas de um futuro radiante, de parceria e de cumplicidade, é grande a frustração que toma conta do escritor Roberto
(Marcos Veras), casado com a
jornalista Claudia (Débora Falabella, excelente), ao saber
que o seu filho Fabrício (Pedro Vinícius, espontâneo) nasceu com
Síndrome de Down. Conhecia-se pouco o mongolismo
nos anos 1980..., não que isso pudesse ter feito alguma diferença para ele. E
na vida que segue e vergonha que cega, enquanto a conformada Cláudia se dedica rotineira e
amorosamente aos cuidados da criança, Roberto,
tomado por sentimentos contraditórios, ao perceber que as suas tentativas de
“consertar” o menino são infrutíferas, perde a dignidade e torna-se um “pai”
ausente e acovardado por cerca de dez anos...
O Filho Eterno
não é, evidentemente, a adaptação literal do livro, mas um recorte, uma releitura (do texto visceral de Tezza) onde os pais ganham nomes (Roberto e Claudia), o filho (Felipe)
é renomeado (Fabrício), e a história
recebe um “enxerto romântico” (descartável!), que, se não chega a comprometer,
provoca um “ruído” estranho. O drama tem um argumento razoável e não deve
decepcionar o grande público acostumado ao tema família-medicina, tão comum (e
querido) ao cinema hollywoodiano, que lota salas pelo mundo e chega a concorrer
ao Oscar. Ao contrário, pode até
surpreender a quem é alheio ao tema, principalmente por sua imparcialidade.
Com roteiro de Leonardo
Levis, focando no essencial do romance (relação do pai com o filho) e na
força dos seus diálogos (alguns doloridos socos na boca, também, do estômago!),
e direção de Paulo Machline, evitando
o caminho fácil da melodramaticidade, do sentimentalismo barato, a narrativa,
com um ou outro senão, se desenvolve satisfatoriamente, ali na zona de conforto...,
ainda que haja espaço e motivo suficientes para aprofundar com mais ousadia as
personagens Claudia e, principalmente,
Roberto. É claro que, aí, um olhar em
falso e tudo poderia escorrer para a zona da pieguice... Mas é um risco que, às
vezes, vale correr.
Enfim, considerando suas cenas geralmente breves e
intimistas; a história envolvente e a direção de arte cuidadosa; a
interpretação de Débora Falabella (Claudia)
inspiradíssima - a sequência dela falando (que monólogo!) sobre o aniversário
do filho (haja coração!), vale o filme inteiro e mais um pouco; a escolha
acertada do menino Pedro Vinicius, que tem Síndrome de Down (assim como as
outras duas crianças que interpretam Fabrício
mais novo)..., O Filho Eterno é um
drama que emociona e que, com certeza, fará o espectador refletir: E se fosse comigo? Ah,
e não se preocupe, nessa história (da vida real), o coitadinho é o pai e não o
filho!
Joba Tridente: O primeiro filme vi
(no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990.
O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer
crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se
compara à "traumatizante" e divertida experiência de
cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do
norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
Joba, em que cinema você viu o filme? Procuro há dias e nada. Tua resenha me parece uma leitura super equilibrada. Abraço
ResponderExcluir..., vi na Cabine de Imprensa, Carlos. O filme estreia dia 1 de dezembro. ..., grande abraço e grato pelo seu comentário!
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