quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Crítica: Animais Fantásticos e Onde Habitam


Animais Fantásticos e Onde Habitam
por Joba Tridente*

Para quem estava com saudades do fascinante mundo de aventuras e magia de Harry Poter, já pode começar a se alegrar. É que, cinco anos depois do adorável bruxinho se despedir dos cinemas, está estreando nas telonas o deliciosamente despretensioso e totalmente envolvente Animais Fantásticos e Onde Habitam, versão cinematográfica da enciclopédia homônima escrita pelo magizoologista Newt Scamander (Eddie Reydmayne), alter ego da também roteirista J.K. Rowling e com ótima direção de David Yates, responsável pelos últimos quatro filmes da saga HP.

Pelo que se tem lido por aí, Rowling e Yates estão prometendo de três a cinco filmes na futura franquia, que tem tudo para arrebatar novos fãs e, de quebra, satisfazer aos mais velhos, que ainda esperam por novas aventuras do “bruxinho”, já quarentão, funcionário do Ministério da Magia Britânico e pai de três crianças, segundo a peça teatral Harry Potter and the Cursed Child (Harry Potter e a criança amaldiçoada), que estreou com estrondoso sucesso, em julho de 2016, em Londres.


Animais Fantásticos e Onde Habitam (Fantastic Beasts and Where to Find Them, 2016), se passa nos efervescentes anos 1920, na cidade de Nova York, nos EUA, onde, após uma breve viagem por notícias vivas “impressas” em jornais, sobre os últimos acontecimentos no mundo da magia, o espectador acompanha a alucinante e divertida estadia do taciturno e misterioso magizoologista britânico Newt Scamander (Eddie Reydmayne) na cidade americana. A princípio, ele pretendia apenas resgatar um Animal Fantástico, mas..., depois de esbarrar no simpático sonhador Jacob Kowalski (Dan Fogler), um no-maj (trouxa americano), conhecer a agente de magia Tina (Katherine Waterston) e sua romântica irmã Queenie (Alison Sudol), se enrolar com o Congresso Mágico dos Estados Unidos da América (MACUSA), e bater de frente com o intransigente bruxo Percival Graves (Colin Ferrel)..., vai ter muito trabalho pela frente.


É interessante ver como Rowling desenvolveu a história (envolvendo tantos humanos, numa trama paralela) a partir de um “mero” Glossário de Animais Fantásticos, disponível aos alunos da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Neste universo mágico (de certo modo) novo, com roteiro bem amarrado, cujos nós vão se desatando aos poucos, para que o espectador se delicie a cada ação e ou reação dos estranhos personagens, não é recomendado ter pressa e ou ficar tentando adivinhar o que virá. O melhor é relaxar e curtir principalmente os tópicos do magnífico Dicionário de Animais Fantásticos, de Newt, que se abre atraente, desvelando seres tão cativantes quanto temerosos..., numa narrativa que vai de belas e lúdicas sequências às mais sombrias.

Mas é bom que se diga, para o espectador que gosta e ou almeja ir além da fantasia, a trama pode (também) se desvelar crítica nas entrelinhas. Longe de qualquer maniqueísmo, numa inspirada reconstituição de época “american way of life” (antes da Grande Depressão/1929), em que o sonho americano desenvolvimentista e o pesadelo moralista andavam lado a lado no caminho do imigrante..., Rowling cutuca com varinha curta (nada mágica) a intolerância e o preconceito, que insistem em se repetir (também) nas terras do Tio Sam, sempre ansioso em caçar “bruxas” e resolver a sua (doentia) xenofobia.


Enfim, considerando que a história é despretensiosa e divertida, com boas gags e humor nonsense, em meio a um eficiente terror juvenil, no melhor estilo da série HP; que o elenco (que inclui Ezra Miller e Jon Voight) é excelente e os personagens são bem resolvidos, alguns impagáveis, como o louquíssimo “ornitorrinco cleptomaníaco”; que os Animais Fantásticos são realmente fantásticos; que algumas sequências funcionam muito bem pela carga dramática e outras deslumbram pelos efeitos especiais de cair o queixo (imersão total em 3D IMAX); que as soluções narrativas envolvendo objetos mágicos, como a indescritível mala de viagem de Newt, são inteligentes; que a certa altura da saborosa trama, um emocionado Jacob diz: “Sabe como sei que não estou sonhando? “Eu jamais teria imaginação para isso”, e que essa sensação de deslumbramento do inocente personagem, com certeza será a da grande maioria do público..., para mim, Animais Fantásticos e Onde Habitam é um espetáculo da melhor qualidade! Enche o os olhos, com a magia (também) do cinema e faz o tempo passar sem a gente sentir. O único problema ter de esperar até novembro de 2017, para saber como essa história continua...


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. Cortejo, meu primeiro curta, em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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