quarta-feira, 22 de junho de 2016

Crítica: Independence Day - O Ressurgimento


Independence Day - O Ressurgimento
por Joba Tridente

Assistir ao Independence Day, em 1996, foi uma experiência e tanto. A sala era a do extinto Cine Palace Itália..., ampla e superconfortável, localizada no 7º andar do Centro Comercial Itália, em Curitiba, Brasil. Na época a novidade era o som surround e a imersão na trama era total, já que as caixas de som, estrategicamente distribuídas, faziam o áudio percorrer toda a área. A impressão era a de alguém falando ao lado ou atrás de você. As aeronaves “cruzavam” e estremeciam toda a sala. Um componente imprescindível para curtir o exagerado sci-fi de Emmerich, onde não falta a histeria norte-americana (diante do caos), o patriotismo estadunidense (diante da adversidade), a exaltação nacionalista dos sobrinhos do Tio Sam, sempre dispostos a “salvar” o mundo de qualquer ameaça externa, até mesmo alienígena.

Acho que sou um dos raros críticos brasileiros assumidamente fã do patriótico e bizarro Independence Day (1996), de Roland Emmerich, o diretor dos mais caros (alguns até divertidos) trash movies de Hollywood. O filme de ação, que qualquer cinéfilo, com esperteza mínima, detecta logo de cara que a inspiração atualizada (com bactéria substituída por vírus de computador) vem do romance de ficção científica Guerra dos Mundos (1898), de H.G.Wells, cuja adaptação para o cinema, com roteiro de Barré Lyndon e direção de Byron Haskin, em 1953, está entre as melhores de todos os tempos..., é o tipo de produção que se ama ou se odeia. Em 2005, a obra de Wells, que deveria descansar em paz, também serviu de inspiração para uma versão insossa de Steven Spielberg.


Agora, aproveitando a onda revivalista hollywoodiana que, em 2015, já despertou em refilmagens toscas O Exterminador do Futuro, Star Wars e Jurassic World, os produtores assopram as velhas brasas de Independence Day..., para ver o que ressurge dos escombros e pode seguir iluminando economicamente o caminho da tremulante bandeira americana. Como soprar as cinzas, 20 anos depois, exige um bom fole, além de Roland Emmerich, Dean Devlin, Nicolas Wright, James A. Woods e James Vanderbilt roteirizaram a “nova” invasão: Independence Day - O Resurgimento (Independence Day - Resurgence, 2016).

Independece Day - O Ressurgimento, dirigido com o costumeiro estardalhaço destrutivo por Roland Emmerich é pouco mais e pouco menos do mesmo. No pouco mais: as dimensões da nave mãe (praticamente um planetoide do tamanho do Oceano Atlântico e que nem cabe na tela) e um novo alienígena. No pouco menos: a falta de humor, de nonsense, de ironia (adoradores de ETs); de ingenuidade, de cenas icônicas (destruição da Casa Branca) que marcaram o Independence Day (1996). Em comum, entre os dois 4 de Julho, além da data que deve ser importante também para os alienígenas, a presença da grande maioria dos personagens/atores (David Levinson/Jeff Goldblum, Thomas J. Whitmore/Bill Pullman, Dr. Brackish Okun/Brent Spiner, Julius Levinson/Judd Hirsch)  do filme anterior, agora mais velhos e meio psicóticos, mas ainda cheios de gás para combater o mal que vem do espaço sideral. Os velhos personagens podem até estar datados, mas “empolgam” mais que os jovens militares (Jake Morrison/Liam Hemsworth, Dylan Dubrow-Hiller/Jessie Usher, Patricia Whitmore/Maika Monroe, Rain Lao/Angelababy) dispostos a morrer pelo mundo (americano).


Por conta de um argumento pouco original para o Ressurgimento..., resgate de meia dúzia de ETs pingados e (como sempre) extermínio de toda vida na Terra para apropriação da sua maior fonte de energia..., o roteiro, a cinco cabeças pensantes, é claudicante. Ou melhor, é infantil com entorpecimento juvenil (adolescente): sem imaginação! Haja buracos! Os personagens (todos sem nenhum carisma) e os arcos melodramáticos têm a profundidade rasa de um pires. Sequências barulhentas sucedem sequências barulhentas, embaladas por uma invasiva e horrenda trilha sonora, do princípio ao fim, e pelo (descerebrado) discurso militaresco americano de salvador (único!) do mundo. O que até poderia ser divertido se não faltasse o sarcasmo, o sabor trashão (involuntariamente?) típico de Emmerich.


Enfim, considerando que a sua narrativa (ainda que confusa) é tão previsível (já vista em trocentos filmes-catástrofe) e sem qualquer sinal de perigo imediato; que nenhum espectador vai sentir frio na espinha, ficar grudado na cadeira e ou perder muita coisa se for ao banheiro; que o 3D e os efeitos (CGI) especiais são razoáveis (embora os de agrupamento de aeronaves pareçam amadores); que as sequências de destruição grandiloquentes não chegam a surpreender; que as gags não funcionam e o humor é zero; que os clichês de salvamento (incluindo a de um cachorro), o chororô e mortes ou desaparecimento (sem sangue) de um bocado de gente, os equivocados traumas familiares e as insinuações amorosas são enfadonhas..., por se levar muito a sério (?), quando a pedida é de puro escracho (!), Independece Day - O Ressurgimento me pareceu apenas um filme de “boas” intenções que infelizmente não se concretizaram.

Não sou saudosista, mas me lembro (e me empolgo mais ao me lembrar) de cenas do Independence Day, que vi há 20 anos, do que das que vi há dois dias.

sábado, 4 de junho de 2016

Crítica: Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos


Como não conheço o famoso RPG Warcraft de mesa ou vídeo e ou versão que o valha, fui assistir ao Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos por causa de algumas cenas, imaginando mais um animation que um live-action...., e pela excelência do seu diretor Duncan Jones (do magnífico Lunar e do bom Contra o Tempo). Não ter visto ao trailer e ou me inteirado mais do conteúdo foi a melhor decisão para poder acompanhar filme em live-ation/animation com imparcialidade e sem a obrigação de compará-lo ao game.  


Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos, com roteiro de Charles Leavitt e Duncan, é uma fantasia de ação, com pretensões épicas, baseada no jogo Warcraft: Orcs and Humans, que (em 1994) deu início à jornada de sucesso do RPG. Para os leigos, uma escolha acertada, pois é ali que é aberto um portal ligando o agonizante planeta Draenor, com sua horda de orcs, à bucólica terra de Azeroth, habitat de humanos, elfos, anões, duendes, que convivem em harmonia. O que não quer dizer que a referência seja facilmente assimilável pelo espectador de primeira viagem, já que no mundo dos orcs há uma hierarquia meio complexa, com diversos clãs..., onde se destaca o Clã Lobo do Gelo, com seu expressivo líder (e o melhor personagem) Durotan (Toby Kebbell - por captura de performance). Mas, nada que o impeça de acompanhar esta história (até rasteira) sem muitas novidades de conteúdo: 1 - raça (alienígena?) predadora que depois de devastar o seu mundo sai em busca de outras terras para repetir a devastação; 2 - raça (humana) que é surpreendida por uma força (alienígena?) avassaladora e fará de tudo para sobreviver ao ataque; 3 - magos ambiciosos (drenadores de energia) às voltas com o poder das magias branca e negra; 4 - romance, relação (e escolhas) entre pais e filhos, traições, batalhas sem fim, selvageria etc. Elementos coincidentes em peças (e franquias) do gênero (ação, aventura, ficção científica, guerra, faroeste etc).


Há um certo desequilíbrio no desenvolvimento dos personagens..., os insanos orcs saem-se muito melhor que os sensatos humanos..., que parecem mais passivos que pacíficos. Possivelmente a psique (e lerdeza?) dos humanos tenha a ver com o roteiro "simplificado" (de game?) e pode ser que mude, caso a franquia tenha êxito. E se mudar, que pelo menos a próxima rodada e ou jogo ganhe em humor, já que nessa primeira cartada não há espaço para gracejo algum. A não ser que a ovelha seja uma piada? Seriedade excessiva pode cansar nesse tipo de narrativa onde se quer acreditar que os personagens estão comprometidos demais com a dramaticidade da guerra para perder tempo com piadinhas (ou blefe) no ir e vir do campo de batalhas e ou nas enfadonhas discussões de estratégias.


Já que jamais joguei o RPG, não sei o quanto Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos assemelha-se e ou reproduz a plataforma (e níveis) do game..., mas, com seus cenários fantásticos (reais e em CGI), é um espetáculo de encher os olhos. O destaque, sem dúvida, fica com a excelente animação (em CGI) dos orcs, elaborada com impressionante detalhamento. Embora crie um ruído curioso, ao misturar a notável animação com humanos, se você pensar que o título fala em “dois mundos”, então não há problema em aceitar universos (tecnicamente) tão diferentes, mas cheios de pontos em comum: heróis e vilãos, benevolência e traição..., onde o bem e ou o mal está na subjetividade do espectador (jogador?) diante da trama (linear). Um viés de amoralidade que não deixa de ser um ponto positivo.


Enfim, para um mero espectador, o Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos não me soou tão ruim quanto a muitos colegas de crítica (e talvez jogadores do game). Embora tenha pontos soltos (o que aconteceu com os lobos?) e algumas “soluções” apressadas (nada convincentes, talvez a serviço de um argumento futuro), um ou outro tropeço na edição e personagens humanos sem nenhum carisma, a ser creditado mais ao script do que ao elenco..., desembarquei relativamente satisfeito da fantasia. Talvez não seja tão relevante, mas certamente algum cinéfilo irá se divertir (mais?) fazendo analogias míticas, com nomes e sequências que remetem, principalmente, às lendas judaico-cristãs..., ou passar batido pelas insignificâncias que, propositais ou não, com certeza têm nada a ver com a onda de filmes para a evangelização. 

Ah, e verdade não seja ocultada, apesar da falta de humor (me) incomodar, seria injusto não saudar a ousadia de Duncan em matar personagens importantes na história..., pelo menos neste capítulo. Para tamanho gesto, há que se ter uma ótima carta na manga.

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