terça-feira, 24 de novembro de 2015

Crítica: O Presente


Já disse várias vezes que um bom cartaz e um bom título são meio caminho para içar o espectador para uma sala de cinema. Recentemente o cartaz do divertidíssimo “B” Como Sobreviver a um Ataque Zumbi me deixou curioso, e não me arrependi de gargalhar com a paródia. No mesmo período o pôster de O Presente também chamou a minha atenção. Pensei ser filme de terror, mas é um thriller psicológico da melhor qualidade. Quer dizer, se a praga, digo prática do bullying for considerada terror, o filme não deixa de dividir o gênero e o adjetivo.


O Presente (The Gift, 2015), escrito e dirigido com muita expressividade por Joel Edgerton, é um drama de suspense daqueles de mexer não apenas com os nervos, mas com a consciência de muitos espectadores. Com bom argumento e excelente roteiro, o tema não poderia ser mais pertinente e consequentemente mais perturbador: bullying (do passado assombrando o presente). A história enreda o apaixonado casal Simon (Jason Bateman) e Robyn Callum (Rebecca Hall) e Gordon “Gordo” Moseley (Joel Edgerton), um antigo “colega” de escola de Simon. O casual reencontro dos dois “amigos” traz à tona um passado que Simon quer esquecido e o cordialmente estranho e solitário Gordo ainda espera que seja exorcizado..., o que faz com que aos poucos ele se intrometa inconvenientemente na rotina do casal, trincando o seu alicerce.

Na ensolarada Califórnia, nos arredores de Los Angeles, à beira da Cidade dos Sonhos, o pesadelo pode estar à espera de Simon e Robyn, na entrada da elegante casa, embalado num belo pacote com um bilhete pessoal e ambíguo num envelope vermelho, e ou bater à sua porta e ser entregue em mãos, com gentilezas de boas-vindas por um novo velho “amigo”. O quê busca Gordo? O quê teme Simon? O quê sabe Robyn da perversidade envolvendo os dois? A crueldade juvenil, impune no passado, pode ser responsável por adultos problemáticos, no futuro?


O Presente é um filme tenso que, sequência a sequência, te surpreende ao fugir dos clichês e da previsibilidade ao falar de amor, amizade, crueldade estudantil, baixa autoestima, mercado de trabalho. Uma narrativa que coloca uma pulga atrás da sua orelha sobre a conjugação do verbo magoar. Um filme que não acaba antes do último plano, ainda que alguma “verdade” seja “desvelada” pouco antes do epílogo. Leva-se um tempo para a gente se levantar da poltrona e segurar a emoção após imergir na mente turva e ou confusa de seus protagonistas (o que te deixará pensativo e cabisbaixo por horas) enquanto sobem os créditos finais.

Enfim, considerando que este é um drama psicológico, cujo teor chiaroscuro não subestima (mas estimula!) a inteligência do espectador; que a direção de Joel Edgerton é refinada e eficaz e seu econômico roteiro (excetuando dois desnecessários áudio-sustos) é um primor no desenvolvimento da envolvente trama muito bem fotografada e editada; que as performances do trio protagonista são notáveis; que este é um dos melhores filmes de suspense que vi nos últimos anos..., se gosta do gênero, se dê de presente uma sessão de O Presente.

Ah, se possível, não assista ao trailer, também porque nada tem a ver com a tensão filme. E lembre que, nem tudo que enterramos (bem enterrado!) no passado, acaba ficando por lá..., quando menos se espera, alguém pode querer uma exumação...

3 comentários:

  1. Eu realmente gostei do seu texto, e fui um dos que ficou intrigado com esse poster, embora eu ainda não tenha visto o filme. Ou mesmo faça parte da sua fraternidade.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. ..., olá, Ozymandias Realista,grato pela sua visita e leitura. ..., o filme está programado para estrear nesta semana. ..., como já foi lançado até em DVD, nos EUA, não se acreditava que chegasse aos cinemas por aqui. ..., a pertinência e a condução do tema, com suas reviravoltas, me agradou muito..., e também me emocionou. ..., se assistir, volte e diga o que achou. ah, a primeira vez em que vi o cartaz pensei se tratar de um filme de terror gore..., ainda bem que estava enganado. abs.

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