Ainda que até hoje não tenha lido nenhuma obra do escritor John Green, o que me levou a ver Cidades de Papel, dirigido por Jake Schreier, foi ter amado o filme A Culpa é das Estrelas
(2014), de Josh Boone.
Baseado no romance homônimo de Green, lançado no Brasil em
2013, a adaptação de Cidades de Papel,
feita pelos mesmos roteiristas do filme anterior, Scott Neustadter, Michael H.
Weber, traz novamente para o cinema o jeito diferenciado do autor se comunicar
com seus jovens leitores. A narrativa juvenil, na contramão das atuais produções,
cheias de aventura e muita ação, mas de pouca ou nenhuma personalidade, é no
mínimo simpática e creio que tem charme suficiente para cativar grandes plateias.
Assim como em A Culpa é das Estrelas, não é
necessário o conhecimento prévio do livro Cidades
de Papel. O roteiro é simples (mas não simplório) e bem amarrado ao falar
da insegurança adolescente, dos desejos sexuais (à flor da pele) e dos amores
não confessados. A história gravita em torno do tímido (bom menino) Quentin (Nat Wolff), que nutre, desde a infância, um amor platônico pela
descolada vizinha Margo Spiegelman (Cara Delevinne), que o ignora
totalmente. Na adolescência a vida dos dois segue sem um “oi”, até que certa
noite Margo o “convida” para ser seu cúmplice
num impensável missão noturna e desaparece na manhã seguinte sem nem um “tchau”.
O garoto exemplar, claro, fica preocupado e acreditando que a garota tenha
deixado pistas sobre seu paradeiro, com a ajuda dos seus amigos Ben (Austin Abrams) e Radar
(Justice Smith), sai em seu encalço
numa jornada que o fará compreender que nem todo mundo é um livro aberto e ou
uma guia de viagem atualizado.
Cidades
de Papel (Paper Towns,
2014), tem umas duas cenas bobas, mas passa bem longe da clicheteria do gênero.
O elenco é enxuto e Jake Schreier, fazendo jus ao ótimo argumento, conta a estranha
história de amor, obsessão e desapego juvenil, num ritmo agradável e sem
atropelar o envolvente enredo. Dos jovens atores o destaque fica com Wolff e
seu convincente nerd Quentin.
Delevigne pode não render tanto quanto a sua complexa personagem exige..., mas também
não compromete no todo.
Considerando que é um drama (com ar melancólico) que não
subestima a inteligência de nenhum espectador; que seus personagens são interessantes;
que a trilha sonora incidental é de qualidade; que as curiosas citações (não
gratuitas) de alguns ícones da contracultura, como Woody Guthrie e Walt Whitman,
são lumes raros; que algumas mensagens (subliminares) são resolvidas de forma
inteligente e sem traumas; que os diálogos são divertidamente possíveis; que a
história contemporânea fala de um cotidiano que já parece distante, nostálgico...,
sendo leitor ou não de Green, acho que vale cada minuto em tão boa companhia...
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