quinta-feira, 14 de maio de 2015

Crítica: Mad Max: Estrada da Fúria


Sempre que ouve falar em refilmagem de clássicos, como se faltassem ideias no reino da fantasia hollywoodiana, muito cinéfilo sente um frio na espinha. Por isso o antigo anúncio do “resgate” da franquia de Mad (Mel Gibson) Max deixou muita gente em suspense por quase uma década. Ainda que se divulgasse que o “resgate” seria feito pelo seu criador George Miller e o personagem reencarnado por Gibson. Tempo foi e tempo veio e depois dos contratempos, eis que o filme pronto chegou às telonas. Os cinéfilos e fãs da trilogia - Mad Max (1979), Mad Max 2 (1981) e Mad Max - Além da Cúpula do Trovão (1985) - vão sentir um frio mais intenso na espinha e o estômago revirar, mas de felicidade. O Mad Max: Estrada da Fúria é muito melhor do que poderia supor a nossa enorme impaciência. É fascinante, criativo, desconcertante, surreal, bizzaro..., uma “ópera punk heavy metal” pra ninguém botar defeito. Quer dizer, tem uma ou outra nota fora da pauta, mas tão insignificante que compromete em nada o ritmo ensandecido deste filme que parece já ter (re)nascido clássico.


Trinta anos. O tempo não parou e a tecnologia seguiu célere no mundo real caótico e, por muitas vezes, à beira de um cenário apocalíptico, quer pela força da natureza, quer pela demência humana. E demência é o que não falta aos sobreviventes do caos no escaldante mundo pós-apocalíptico (?) de Max Mad, com suas estradas e “acampamentos” cheios de fúria e miséria, onde a solidariedade é mínima. É esse mundo de ontem, com resquícios de hoje, no pesadelo do amanhã, que nos chega pelas mãos de George Miller, aguçando e perturbando novamente os nossos sentidos com um argumento insano (?), um roteiro crível e um apuro técnico de cair o queixo.


Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, 2015) acelera pela desértica Terra tomada pela secura, onde um oásis, como a Cidadela, é uma dádiva rara. Tão rara que é defendida com impressionante reserva de artefato bélico, pelo seu “imperador" tirano Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne) e seus asseclas descerebrados e sempre prontos para ir para o Valhala.  É nesse paraíso oculto, onde “subir” ao céu e ou “descer” ao inferno é bem mais que uma metáfora-motriz nos pés e mãos descartáveis alavancando plataformas, que Mad Max (Tom Hardy) é aprisionado. E é dele que, em meio à tortura, na perseguição à Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) ele escapa para viver uma saga que pode lhe trazer alguma paz de espírito (errante) após a perda da mulher e filho.


Mad Max: Estrada da Fúria é um filme de aventura e ação, mas muita ação e violência pós-apocalíptica. Se os diálogos são mínimos a expressividade dos atores, principalmente de Hardy e Theron, é hipnotizante. Há que se destacar também a performance difícil de  Nicholas Hoult na pele do inocente útil Nux, um guerreiro-menino à serviço de Immortan Joe. A fotografia de John Seale é uma pintura rara que só aumenta a credibilidade da trama sonorizada pelos acordes ensurdecedores de Junkie XL (Tom Holkenborg). O desenho da frota de carros customizados (e de seus condutores) é precioso, vai deixar muita gente querendo um “brinquedinho” daqueles de presente de Natal..., enquanto ainda existe Natal!

A inventividade de Miller, que dividiu a excelência do roteiro com Brendan McCarthy (escritor de HQ) e Nico Lathouris, parece não ter limites na criação de personagens e coreografias automotivas capazes de embasbacar até os fãs do Cirque du Soleil. Se o Mad Max de 1979 (e os dois que o seguiram) foi exaustivamente “imitado” (e jamais igualado), com certeza o de 2015 não será diferente.


Com seu humor negro e sequências de fazer disparar o coração, se agarrar na cadeira, suar frio e até se emocionar..., saber se este Mad Max é melhor que algum dos três filmes anteriores é o que menos importa, já que a época e até as emoções são outras. Ainda que algo emblemático continue forte e influente por décadas ou séculos, não se deve esquecer que é na sua criação que ele mais resplandeceu. Portanto, rever a trilogia de ontem para comparar com o filme de hoje me parece uma grande bobagem, já que a nova produção não é refilmagem e sim uma história original. Apenas o universo é o mesmo. O argumento contorna e contempla o feito passado, mas de olho na plateia futura.

Para quem quer uma sensação muito mais intensa, recomenda-se assistir em tela gigante numa sala com potentes alto-falantes, principalmente para curtir o grande achado de Miller: dois carros sonorizados. Em um, instrumentos de percussão e, no outro, um guitarrista alucinado, com sua guitarra incendiária, dando moral aos guerreiros de Immortan Joe. Mais uma maluquice deliciosa num roteiro em que a presença dos artistas e seus dublês é mais forte que o CGI que, quando preciso, comparece em sequências (tempestade de areia!) e efeitos inacreditáveis.

Enfim, considerando o que disse acima (apenas o básico, para não estragar a surpresa)..., simplesmente imperdível! Ah, e acredite, você só verá uma loucura maior que esta, se houver uma próximo Mad Max pelas mãos do genial George Miller.

2 comentários:

  1. Fantástico, Joba! Como sempre, você conseguiu expor toda a riqueza do filme. Vc é mesmo especialista nisso! Posso divulgar meu post aqui? Já divulgando, rs... Faça o mesmo lá no meu, se quiser...

    http://arquivoscriticos.blogspot.com.br/2015/06/a-fury-road-de-mad-max-percalcos-e.html

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