O grande problema da maioria dos trailers e
sinopses é desvelar demasiadamente a trama dos filmes anunciados. Não que isso
importe muito no caso de Entre Nós,
de Paulo Morelli e Pedro Morelli, já que o “segredo” da
trama é desvelado desde o começo, cabendo ao espectador a paciência de acompanhar
o desfecho (!?). O drama, com insinuações de suspense, reforçado pela irritante
e intrusiva trilha sonora, trata de dois encontros de um grupo de sete amigos numa
aprazível casa de campo, na Serra da Mantiqueira.
O primeiro é em 1992, quando, entre as abobrinhas
(bobagens!) sobre sexo, política, esporte, literatura, que dão o tom às suas
conversas, regadas a muito álcool e erva..., os sete resolvem expor seus
anseios em cartas pessoais para serem abertas após dez anos. O segundo é em
2002, quando, entre as abobrinhas (bobagens!) sobre sexo, política, esporte,
literatura, que dão o tom às suas conversas, regadas a vinho e comida..., eles sentem
que estão bem menos amistosos. Rusga daqui e dali, frustração e inveja acolá...
Até a árvore que sombreava a cova onde foram enterradas as cartas está diferente.
Entre Nós, que
tem a fotografia monumental de Gustavo
Hadba como protagonista, traz em seu elenco Caio Blat, Júlio Andrade,
Maria Ribeiro, Martha Nowill, Carolina
Dieckmann, Lee Taylor e Paulo Vilhena, em um enredo que equilibra
mal seus excessos melodramáticos. Enquanto o preciosismo fotográfico, mesmo
dando sinais de cansaço (na ânsia de um ângulo novo), chega ao final com algum
gás, a narrativa acaba muito antes, perdida na puerilidade, na pretensão de fazer
a história parecer maior do que realmente é. O pretérito é uma grande cilada
para quem não consegue conjugar além do lugar comum da frase feita (ninguém chega ao poder sem se sujar). Prever
um futuro conhecido é fácil, basta selecionar as informações, conforme o
impacto desejado, e jogá-las na tela. O grande exercício da ficção é prever o
amanhã, sem uma cápsula midiática do tempo.
O elenco, com personagens pouco inspirados, tem
uma interpretação irregular, convence mais em 1992 (natural) do que em 2002
(caras e bocas). Já o roteiro, simplório em seu argumento, subestima a
inteligência do espectador, ao preferir “falar” (com a profundidade de um
pires) das mazelas da amizade (e outras frugalidades) em detrimento de um
assunto muito mais interessante e pertinente: a ética. Todavia,
como qualquer “diálogo” (entre os amigos) não vai muito além de uns dois ou
três rebates inconclusivos (óbvio!), talvez o melhor é que (a ética) continue
no subtexto. Ah, a falta que faz um bom vocabulário!
Entre
Nós
é pontilhado por signos (pedra, escaravelho, árvore) que, dependendo da leitura
do espectador, podem resultar em interessantes metáforas ou em boa viagem na
maionese, tipo: livro Ponto de Fusão = cordeiro no forno. O que remete ao
“dilema” do escritor (em 2002), que já foi assunto melhor resolvido em recente
filme de Woody Allen. Quanto à
trilha, vale apenas pela inclusão da deliciosa canção Na Asa do Vento, de João
Donato, mesmo não provocando a ruptura desejada.
O ”drama” (à beira do dramalhão), que parece
escrito a toque de caixa, carece de humor, antes de se perder (em 1992) e
principalmente depois de se encontrar (em 2002), quando a rabugice (e a
caricatura!) bate o ponto. Na verdade, a primeira parte até que tem alguma
graciosidade, mas está longe de ser engraçada. A insistência (!) em dramatizar
a tudo acaba resultando na superficialidade de toda a trama: personagem
hipócrita: O que eu fiz da minha vida?;
personagem que sabe da falcatrua do personagem hipócrita: O que você fez da sua vida?; espectador que condenar o personagem
hipócrita: O que ele fez da vida dele?
Achei que o filme valeu pela ousadia de Morelli, diferente do que temos visto nas últimas produções cinematográficas brasileiras, ele ousou em um suspense. Muitos ótimos filmes brasileiros já foram lançados, mas recentemente a comédia tem dado um tom pitoresco no cinema nacional. Eu gostei bastante do filme, principalmente na segunda fase, quando a nostalgia, os anseios mal realizados e todo o suspense vêm a tona. Acho que a interação entre os atores é boa também, fato devido a amizade deles fora das telas.
ResponderExcluirEnfim, não é o melhor filme de março, mas também merece ser aplaudido por suas qualidades fotográficas e por fazer diferente.
..., olá, Retrato de Iaiá,
Excluiro bom da arte é permitir sempre um olhar diferenciado...,
provocar as mais diversas leitura...,
tocar a cada espectador conforme as suas vivências
e ou expectativas diante da obra em questão.
..., pelo menos temos um coisa em comum:
a maravilhosa fotografia.
..., grato pelos seus comentários.
abs.
T+
Joba