Sequência é sempre um risco difícil de calcular.
Não é tarefa fácil superar o impacto (e a bilheteria!) do primeiro filme. Em
2011 a animação RIO, dirigida por Carlos Saldanha, foi a grande sensação.
Mas, em 2014, como o público que amou a declaração de amor ao Rio de Janeiro,
vai reagir ao retorno das cativantes araras azuis se aventurando por outras
paragens?
RIO 2,
também dirigido por Saldanha, começa com um belíssimo prólogo (arrepiante
mesmo!) da virada do ano na conhecida cidade maravilhosa, onde vivem a
domesticadíssima família das araras: o pai Blu,
a mãe Jade e os filhotes adolescentes:
Bia, sempre com um livro nas asas; o aventureiro Tiago; a rebelde Carla, com seu fone de ouvido. Vivendo numa confortável casa, ao
lado da residência dos cientistas Túlio
e Linda, eles adquiriram todas as
idiossincrasias dos humanos: cozinham, leem, jogam, veem tv, acessam gps, ouvem
música etc. Preocupada com tanta mania estranha à sua espécie, Jade propõe aos filhos e a Blu, uma viagem à região amazônica, com
a desculpa de reencontrar os biólogos e, na esperança de que suas família
aprenda a agir como pássaros. E é claro, na imensa floresta tudo pode
acontecer: reencontros emocionantes e descobertas preocupantes.
Ao fazer um bem-vindo retorno às origens, RIO 2 não traça (necessariamente) a
jornada do herói (Blu). Está mais
para o despertar (a tomada de consciência) do herói para uma vida social mais
saudável (ainda que pesem as manias urbanas). O roteiro é bem infantil, com lindos
números musicais, divertidas audições artísticas da fauna amazônica, partidas
esportivas..., que não chegam a desagradar aos acompanhantes adultos. As
engraçadas audições me pareceram o ponto alto da trama.
Sei que é redundância, mas, plasticamente o
filme é irretocável, difícil acreditar que tudo seja CGI. Se as cidades
encantam com sua arquitetura..., o esplendor da selva é de cair o queixo. Neste
impressionante universo em 3D, os personagens animais, continuam graciosos e ou
maldosos, como a impagável cacatua shakespeariana Nigel (sempre roubando a cena!), com seus novos comparsas: Gabi, uma rã venenosa, e Carlito, um tamanduá louco por uma
formiga. A barulhenta e conservadora família perdida de Jade, que não abre asas das suas características selvagens e normas
rígidas, que garantem a proteção e a sobrevivência do bando, é um espetáculo à
parte.
Contrabando e abuso de animais continuam em
pauta, mas o assunto em evidência é o desmatamento. Pena que o seu desfecho (mesmo
com boa surpresa!) ficou a desejar. O que faz a gente pensar que os realizadores
só olham para o próprio umbigo, alheios a outros filmes com o mesmo tema. Ou
não estão nem aí para “- repete a ação!”.
A criançada, sem se importar com o clichê,
vai amar, com certeza, afinal é uma bonitinha cena de ação. Mas (excetuando o
elemento surpresa!) insisto, a luta por território poderia ser melhor resolvida,
já que várias animações, focando o embate entre animais (em defesa de seu
território) e humanos (exploradores), já apresentaram sequências muito parecidas
e até mais criativas: animais unidos
jamais serão vencidos.
Todavia, essa é apenas uma sequência-cochilo que
compromete em nada a belíssima e bem animada floresta preservada!