domingo, 17 de novembro de 2013

Crítica: Blue Jasmine


Quanto mais velho, mais surpreendente. Assim me parece Woody Allen a cada novo filme. O seu discurso continua tocando com ironia as relações familiares, amorosas, sociais..., mas o seu olhar sempre encontra um outro viés narrativo.

Blue Jasmine é um drama no fio da navalha tragicômica que raros mestres têm habilidade para manusear com precisão.  Falar com classe e elegância sobre decadência não é para qualquer autor/diretor, naturalmente. Na trama, cuja catarse final pode justificar ou não o prólogo, Jasmine (Cate Blanchett), ex-socialite e ex-mulher-bibelô do investidor financeiro Hal (Alec Baldwin), perde o rumo e o chão, ao se divorciar, e se vê obrigada a passar uma temporada com a irmã Ginger (Sally Hawkins), em San Francisco. Decadente, na rua da amargura, mas sem perder a elegância dos tempos de fartura, enquanto não decide o que fazer da sua vida, continua sonhando alto, via web.


As duas irmãs foram adotadas quando crianças, mas o destino tratou de separá-las social e economicamente: uma para o glamour e a outra para a labuta. Enquanto Jasmine (com o mundo aos seus pés) se “aprisiona” no faz de conta, “ignorando” a lógica das aparências e os tropeços da mentira, Ginger (com o mundo fora de seu alcance) se conforma com a mediocridade da sua rotina de comerciária.  Iguais nas suas diferenças, ambas buscam a felicidade ou algo parecido no cotidiano possível. O ingrediente econômico (a gosto) que dá um sabor agridoce à vida de Jasmine, à beira de um surto, e de Ginger, voando baixo para evitar turbulências, tambem dá ponto à receita e ganha a cumplicidade do espectador que alterna sentimentos de ódio, amor e compaixão por elas. Gosta-se ou não das personagens woodyallenianas porque elas lembram gentes que conhecemos do lado de cá da vida, cuja imagem é muito mais nítida e nem se precisa efeito 3D para emular a realidade.

Blue Jasmine (2013) é um vendaval de emoções arrebatador. Allen sabe a ocasião de fazer a piada, cortar o riso, provocar a lágrima, numa mesma cena. Sob uma trilha sonora menos evocativa, é tão prazeroso quanto constrangedor a ebulição de sentimentos que provoca. O filme pode ser de Cate Blanchett, magnífica na pele de Jasmine, mas tanto Hawkins quanto Baldwin se saem bem de escada.

Num ambiente de frustrações e impulsos de vingança, crime e castigo podem ter peso e medida diferentes e ou equivalentes. Já que cada um é muito mais carrasco e vítima da sua própria vida do que imagina..., um final feliz ou à francesa é muito relativo.

2 comentários:

  1. Muito boa suas percepções... sem dúvida há ingredientes de vida, experiências e muito trabalho mental desta genialidade toda de Wood Allen.

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    1. ..., obrigado, pela sua consideração. ..., sou fã de Woody Allen e quando ele sai da sua zona de conforto, como agora, e com a mesma competência, me fascina ainda mais. ..., saber (o quê) olhar e (o quê) ouvir é fundamental para a uma obra de excelência.

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