quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Crítica: O Tempo e o Vento


Na adolescência li um livro por causa da beleza do título: Olhai os Lírios do Campo. Hoje me lembro mais do título e do autor, Érico Veríssimo, que do enredo. E por falar em títulos interessantes, conferi no cinema as adaptações de Um Certo Capitão Rodrigo (1971), de Anselmo Duarte, com Francisco di Franco (Rodrigo) e Elza de Castro (Bibiana), e de Ana Terra (1971), de Durval Garcia, com Rossana Ghessa (Ana) e Geraldo del Rey (Pedro Missioneiro)..., ambos capítulos extraídos de O Continente, da saga O Tempo e o Vento, também do mestre Erico Veríssimo. Da minissérie O Tempo e o Vento (1985) o que ficou (dos poucos capítulos que vi), foi o belíssimo tema de abertura escrito por Tom Jobim, na sua mais perfeita tradução do tema.

Em 2013, após sete anos de preparação, 27 roteiros, e um orçamento de R$ 13 milhões, finalmente estreia nos cinemas a versão condensada de O Tempo e Vento, inspirada no tomo O Continente. O drama dirigido por Jayme Monjardim, a partir da adaptação de Leticia Wierzchowski e Tabajara Ruas, é um épico fiado ao sabor do tempo e desfiado ao sabor do vento que acalenta a memória da velha Bibiana Terra (Fernanda Montenegro), tecelã da secular história da família Terra Cambará. Seu dileto ouvinte é o mesmo jovial e fanfarrão Capitão Rodrigo (Tiago Lacerda) que há décadas apareceu por aquelas bandas: “Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé.”..., arrebatou o seu coração e dele não saiu nem depois de morto.


Ambicionando o todo e não apenas os dois capítulos mais populares da saga, Monjadim foca a narrativa na voz cansada de Bibiana Terra (neta de Ana Terra), que conta o quê de mais importante ouviu e viu sobre a sua família. Como a coser uma colcha de retalhos, ela vai juntando, com fios imaginários, pedaços mais ou menos coloridos de 150 anos de histórias. Algumas estampas, como a paixão de Pedro Missioneiro (Martin Rodriguez) por Ana Terra (Cleo Pires) ou mesmo a paixão dela (Bibiana) pelo sedutor Rodrigo, ganham maior relevância. Outras, pertinentes à formação do Rio Grande do Sul, como a Revolução Federalista, Farroupilha, Guerra do Paraguai, ou de menor (?) destaque na árvore genealógica Terra Camará, acabam nos contornos laterais. Ou seja, por mais que a premissa seja de uma colcha multicolorida, ela não vai muito além do tricolor. Ana Terra e Capitão Rodrigo estão ali, quase por inteiro. Somente um olhar mais apurado percebe os remendos.


O Tempo e o Vento impressiona pelo apuro técnico, não pelo roteiro (superficial) e direção claudicante (televisiva?). Excetuando o simpático Capitão Rodrigo (Lacerda, ótimo), os personagens parecem estar em cena apenas para decorar a paisagem ou a passagem de um causo ou fato, como a jovem Bibiana (Marjorie Estiano). A bela fotografia de Affonso Beato, com sua inacreditável nuance de luz e cor, dá o tom preciso da itinerância do tempo e do vento: Era assim que o tempo se arrastava, o sol nascia e se sumia, a lua passava por todas as fases, as estações iam e vinham, deixando sua marca nas árvores, na terra, nas coisas e nas pessoas (Ana Terra). Porém, filtros à parte, se nos enquadramentos externos as imagens são de encher os olhos, o uso exagerado de (efeito) Lens Flare, no interior do sobrado de Bibiana, incomoda (haja sombra tremulando!). A cena em que ela, anciã, desce as escadas é constrangedora..., nem J.J. Abrams ousaria tanto!

Jayme Monjardim disse que seu estilo (na direção) “é mais emocional, popular, mais feminino”. Logo, já encontrou o seu público.

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