sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Crítica: R.I.P.D - Agentes do Além


Quando, pela enésima vez, não consegue reciclar velhas ideias, Hollywood recorre, pela enésima vez, ao mundo fantástico dos quadrinhos.  Entre outubro de 1999 e janeiro de 2000, a Dark Horse lançou, em quatro edições, a hilária HQ R.I.P.D (Rest In Peace Department), de Peter M. Lenkov, Lucas Marangon e Randy Emberlin, que conta a tresloucada aventura do Xerife Roy Powell e do Detetive Nick Cruz, caçadores de mortos endemoniados fujões, entre o Céu, a Terra e o Inferno. Um velho cowboy cumprindo pena alternativa e um policial buscando pelo seu assassino. A HQ, por certo enfoque, lembra o sci-fi M.I.B (1997).

Na comédia sobrenatural R.I.P.D - Agentes do Além (R.I.P.D, 2013), o policial Nick Walker (Ryan Reynolds), que serve em Boston, nos dias atuais, é morto. Por causa de um grave delito ele iria direto para o Inferno, mas, por conta de outras ações, acaba no Departamento Descanse em Paz, uma espécie de Purgatório Policial, onde é “convidado”, a integrar uma equipe que caça almas bandidas (fugitivas da Justiça Divina) que se escondem na Terra. O seu parceiro é o falastrão Xerife Roy Pulsipher (Jeff Bridges), arregimentado diretamente do oeste americano do século 19. É claro que, independente da incompatibilidade de séculos, os dois vão se estranhar até “descobrir” que, para salvar a Terra da invasão de metamorfos, vão ter de partilhar experiência e armas celestialmente mortais para os "já" mortos.


R.I.P.D, dirigido por Robert Schwentke, tem uma boa premissa, mas acaba se perdendo no previsível roteiro de Phil Hay e Matt Manfredi, que não faz questão de esconder algumas referências cinematográficas: Os Caça-Fantasmas, M.I.B, Ghost. Vagamente inspirada no título (e não na história) da HQ homônima, a comédia policial de ação não vai muito além dos clichês: tiroteio, correria, portal (mais um?!), explosões (a lá Emmerich), pieguice... O resultado é uma obra um bocado irregular. O seu humor é pontuado e varia entre o absurdo e o divertido pastelão de desenho animado. Algumas piadas, principalmente as de humor negro, são engraçadas, mas duvido que o grande público vá entender a tirada sobre o Steely Dan.  

Robert Schwentke, que se saiu bem com o simpático A Mulher do Viajante do Tempo (2009) e o insano RED (2010), parece ter turvado a vista com R.I.P.D. e se perdido na trilha da redenção.  A dupla Reynolds e Bridges tem boa química e o clichê da parceria antagônica não chega a incomodar tanto quanto os efeitos especiais que variam entre o razoável e o medíocre. Não se sabe se o CGI quer fazer jus (?) a HQ ou agradar (sem assustar) ao público juvenil. Tudo bem que é um filme esquecível e que... Do que é eu estava falando mesmo? Mas... Era alguma coisa sobre levar a sério... Ah, não importa, gostei bem mais da HQ!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Crítica: O Tempo e o Vento


Na adolescência li um livro por causa da beleza do título: Olhai os Lírios do Campo. Hoje me lembro mais do título e do autor, Érico Veríssimo, que do enredo. E por falar em títulos interessantes, conferi no cinema as adaptações de Um Certo Capitão Rodrigo (1971), de Anselmo Duarte, com Francisco di Franco (Rodrigo) e Elza de Castro (Bibiana), e de Ana Terra (1971), de Durval Garcia, com Rossana Ghessa (Ana) e Geraldo del Rey (Pedro Missioneiro)..., ambos capítulos extraídos de O Continente, da saga O Tempo e o Vento, também do mestre Erico Veríssimo. Da minissérie O Tempo e o Vento (1985) o que ficou (dos poucos capítulos que vi), foi o belíssimo tema de abertura escrito por Tom Jobim, na sua mais perfeita tradução do tema.

Em 2013, após sete anos de preparação, 27 roteiros, e um orçamento de R$ 13 milhões, finalmente estreia nos cinemas a versão condensada de O Tempo e Vento, inspirada no tomo O Continente. O drama dirigido por Jayme Monjardim, a partir da adaptação de Leticia Wierzchowski e Tabajara Ruas, é um épico fiado ao sabor do tempo e desfiado ao sabor do vento que acalenta a memória da velha Bibiana Terra (Fernanda Montenegro), tecelã da secular história da família Terra Cambará. Seu dileto ouvinte é o mesmo jovial e fanfarrão Capitão Rodrigo (Tiago Lacerda) que há décadas apareceu por aquelas bandas: “Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé.”..., arrebatou o seu coração e dele não saiu nem depois de morto.


Ambicionando o todo e não apenas os dois capítulos mais populares da saga, Monjadim foca a narrativa na voz cansada de Bibiana Terra (neta de Ana Terra), que conta o quê de mais importante ouviu e viu sobre a sua família. Como a coser uma colcha de retalhos, ela vai juntando, com fios imaginários, pedaços mais ou menos coloridos de 150 anos de histórias. Algumas estampas, como a paixão de Pedro Missioneiro (Martin Rodriguez) por Ana Terra (Cleo Pires) ou mesmo a paixão dela (Bibiana) pelo sedutor Rodrigo, ganham maior relevância. Outras, pertinentes à formação do Rio Grande do Sul, como a Revolução Federalista, Farroupilha, Guerra do Paraguai, ou de menor (?) destaque na árvore genealógica Terra Camará, acabam nos contornos laterais. Ou seja, por mais que a premissa seja de uma colcha multicolorida, ela não vai muito além do tricolor. Ana Terra e Capitão Rodrigo estão ali, quase por inteiro. Somente um olhar mais apurado percebe os remendos.


O Tempo e o Vento impressiona pelo apuro técnico, não pelo roteiro (superficial) e direção claudicante (televisiva?). Excetuando o simpático Capitão Rodrigo (Lacerda, ótimo), os personagens parecem estar em cena apenas para decorar a paisagem ou a passagem de um causo ou fato, como a jovem Bibiana (Marjorie Estiano). A bela fotografia de Affonso Beato, com sua inacreditável nuance de luz e cor, dá o tom preciso da itinerância do tempo e do vento: Era assim que o tempo se arrastava, o sol nascia e se sumia, a lua passava por todas as fases, as estações iam e vinham, deixando sua marca nas árvores, na terra, nas coisas e nas pessoas (Ana Terra). Porém, filtros à parte, se nos enquadramentos externos as imagens são de encher os olhos, o uso exagerado de (efeito) Lens Flare, no interior do sobrado de Bibiana, incomoda (haja sombra tremulando!). A cena em que ela, anciã, desce as escadas é constrangedora..., nem J.J. Abrams ousaria tanto!

Jayme Monjardim disse que seu estilo (na direção) “é mais emocional, popular, mais feminino”. Logo, já encontrou o seu público.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Crítica: Elysium


Ficção científica é um assunto fascinante. Para os apaixonados, a trindade formada por Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein é imbatível. Eu prefiro o poeta Ray Bradbury.

Quanto mais distante o retrato do amanhã, maior a confiança na ficção. Quando tragicamente viável, dói nos nervos. Em 2009 o sul-africano Neill Blomkamp surpreendeu e apavorou o mundo com o seu alegórico Distrito 9. Agora, com Elysium, seu segundo longa, o diretor novamente se utiliza da metáfora para falar de um futuro que é a cara do presente.

A trama se passa em 2154, época em que os absurdamente ricos vivem numa paradisíaca cidade-satélite (Elysium), na órbita da Terra, e os absurdamente pobres, na gigantesca favela em que se tornou Los Angeles (e o resto do mundo). Enquanto os abastados têm à disposição aparelhos Med-Pods, que curam quaisquer doenças, os favelados vivem ao sabor amargo do azar de terem nascido miseráveis e sujeitos a todos os males. Em Elysium os privilegiados são servidos por robôs, em LA os esquecidos são oprimidos por robôs..., que eles mesmos fabricam. Palcos ideais para o espectador refletir sobre utopias e distopias, contrastes e confrontos de classes.


A história escrita por Blomkamp é ferina em sua crítica aos sistemas governamentais cegos aos anseios básicos da população. Empregado de uma indústria de “droids” (robôs), o favelado Max (Matt Damon) sofre um acidente grave e decide viajar à inacessível Elysium em busca de cura. Para driblar a segurança e escapar da mira do sanguinário agente Kruger (Sharlto Copley) que, sob as ordens de Delacourt (Jodie Foster), a Secretária de Defesa, abate qualquer aeronave de imigrantes terrestres, ele decide prestar um favorzinho ao mercenário Spider (Wagner Moura). Quando se tem apenas cinco dias de vida, um sujeito desesperado não mede as consequências dos seus atos para sair do inferno e entrar no paraíso.

Elysium (2013) pode não surpreender tanto quanto Distrito 9, talvez pela proximidade temática (segregação racial e social), explicitando questões anteriormente implícitas: imigração, saúde pública, miséria, tráfico, corrupção. Mas levanta e deixa em aberto pontos curiosos. Ontem a perturbadora convivência de ETs e humanos em uma favela imunda dava um nó na cabeça do espectador. Hoje, uma favela ocupada apenas por “seres humanos”, em situação igualmente degradante, já não causa o mesmo impacto..., é notícia velha no Brasil. Em tempos de mídia-manipulação e anestesia cerebral, qual será o grito que ainda nos revolta? Tomar e domar o espaço é a solução para os problemas socioeconômicos ou apenas um meio para os poderosos se livrarem deles, como fazem os afortunados moradores da desvirtuada (?) cidade-satélite Elysium (na mitologia grega Elísio ou Campos Elísios é a morada pós-morte de heróis, poetas, justos)?


Ainda que redundante em seu argumento, Elysium se destaca não apenas por agregar crítica político-social a um filme sci-fi de ação, mas por continuar dando voz aos excluídos. Para Neill Blomkamp não há barreira que não possa ser derrubada pelos segregados. É só uma questão de tempo e ou de estratégia para que uma fronteira que não ceda pela diplomacia, acabe caindo pela força bruta. Visão tão romântica quanto trágica, numa aldeia global brutalizada por chefes (blefadores) sempre em pé de guerra com outros chefes (idem). Se o poder é a “alma do negócio”, morder também é. Efeitos especiais impressionantes e a excelência do elenco garantem um ótimo (e reflexivo) espetáculo.

Nota: Um detalhe (pairando no ar dos EUA) pode levar o espectador a viajar no iogurte tutti frutti ou no cozido de jiló, fazendo-o crer que talvez Elysium seja a parte dois (não assumida!) de Distrito 9. Por quê? Ora, por causa do objeto (espacial) de cobiça em um (pelo governo) e em outro (pelo povo). Se a aeronave alienígena estacionada no espaço aéreo de Johanesburgo contém tecnologia que interessa aos militares, a cidade-satélite Elysium contém tecnologia que interessa aos rejeitados. Ou seja, a Nave Mãe, que abrigava milhares de alienígenas doentes e subnutridos, remete (ou vira) a Elysium, a cidade-satélite que abriga a bem nutrida nata da sociedade terráquea. O céu que já foi da elite alienígena, agora é da elite (extra)terrestre.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Crítica: Invocação do Mal


Quem já viu algum filme de exorcismo, de alma penada assombrando famílias em uma casa isolada (óbvio), comprada com as últimas economias (óbvio), já viu, praticamente, todos. A variação é mínima. Invocação do Mal não foge ao clichê do gênero, mesmo apelando para o discutível “baseado em uma história real” (com fotos e tudo mais no prólogo e no epílogo).

Programados a altos decibéis, para acordar o espectador sonolento, a narrativa morna relata fatos que teriam ocorrido em 1971, envolvendo os investigadores paranormais Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) e o casal Carolyn (Lili Taylor) e Roger Perron (Ron Livingston), que os contrata para descobrir o que há de errado com a casa em que moram com as cinco filhas. Uma simpática família comum (é claro!), um lugar tétrico, disfarçado de bucólico, casa labirinto, mobiliários antigos, portas rangedoras, cachorro vidente, relógios que param exatamente naquela hora “h”... etc. Ou seja, só pelo trilha barulhenta ou propensão o distraído espectador pode “levar” algum sustinho. Se resolver tapar os ouvidos, vai sentir absolutamente nada! 

Invocação do Mal (The Conjuring, EUA, 2013), dirigido por James Wan, sofre do mesmo mal da maioria dos filmes do gênero: o cansativo e barulhento “horror” explícito, sem nenhum espaço para a imaginação. Os gêmeos roteiristas Chad e Carey Hayes, “especialistas” no assunto, não vão além do lugar comum (citado acima) nessa colcha de retalhos apodrecidos de outras tramas genéricas. O que fica é o eficiente trabalho do elenco e o movimento de câmera de John R. Leonetti, em algumas sequências e enquadramentos.  Ainda não assisti, nestes últimos anos, a um filme tão apavorante quanto o Atividade Paranormal (2009), mesmo com o ridículo final sugerido por Spielberg.

Crítica: Rush - no limite da emoção


O cenário esportivo é o ideal para fomentar rivalidades reais e ou midiáticas. Conforme o valor (patriótico, monetário, pessoal) em disputa, a animosidade entre os competidores ganha proporções absurdas. Lauda e Hunt, Senna e Prost..., a Formula 1 está repleta de grandes duelos e de histórias emocionantes como, por exemplo, a do campeão póstumo Jochen Rindt, que morreu durante a temporada de 1970, correndo pela Lotus.

Rush, no limite da emoção (Rush, 2013), produção europeia dirigida por Ron Howard, traz para o cinema algumas das mais fascinantes páginas da crônica esportiva da Fórmula 1, dos anos 1970. Em cena: o metódico austríaco Niki Lauda e o desregrado britânico James Hunt (1947 - 1993)..., ambos em busca da corrida perfeita e, é claro, do pódio. Lauda (Daniel Brühl) e Hunt (Chris Hemsworth) deixaram para trás a tradição das suas famílias para dar rodas ao próprio sonho: competir (arriscar a vida?) em pistas de automobilismo mundo afora. Campeões que sabiam a hora certa de trocarem farpas e ou afagos. Dizem que há controvérsia sobre o relacionamento inamistoso deles..., mas como se diz: quando a lenda é maior, imprime-se a lenda!

Após breve introdução sobre o início de carreira, família, encontro e desavenças entre os dois esportistas, o excelente roteirista Peter Morgan centra foco na fatídica temporada de 1976, ano em que o líder Niki Lauda sofreu grave acidente em Nurburgring. Assim como fala de pilotos e suas regras (com e sem limites) que podem ser o diferencial na vitória ou na derrota, garantindo adrenalina ao espetáculo do grande circo da Formula 1, também desvela o curioso universo ao seu redor. Rush faz um “raio x” não tão intenso quanto o documentário Senna (2010), de Asif Kapadia, mas igualmente curioso, em uma arena que abrigava tanto a exposição festiva de Hunt (cerveja, cigarro e mulheres) quanto a introspeção de Lauda (caseiro, disciplinado, quase romântico).


Filmado na Inglaterra, Alemanha e Áustria, Rush não trata de um eventual acerto de contas do tricampeão Niki Lauda (1975, 1977, 1984) com o passado, mas da garra de dois grandes pilotos que (se) desafiaram (e as) intempéries para conquistar preciosos pontos e campeonatos, pelas vias do (simples) prazer de Hunt e ou da (forte) determinação de Lauda. Instantes de um 1976 de ânimos acirrados e que nem mesmo os percalços das curvas em circuitos ultrapassados os fizeram desistir, apesar de deixar marcas no corpo e no caráter de ambos. Vale lembrar que Rush tampouco é uma história de piloto bonzinho versus piloto mauzinho, também porque é impossível saber quem é quem na pista.

Rush tem uma produção de cair o queixo, não faltam nem as máquinas originais: Ferrari 312T2, de Niki Lauda, e McLaren M23, de James Hunt, conduzidas pelos protagonistas. A fotografia de Anthony Dod Mantle deslumbra não apenas por colocar o espectador dentro da ação, mas pela correção de imagem que a faz parecer de época. Um filme onde se busca o realismo em cada detalhe narrativo, a interpretação de Brühl e Hemsworth não poderia ser menos que impecável. Há críticos apostando em Oscar para Daniel Brühl, que rouba as cenas. Um filme imperdível para amantes de corridas e ou de cinema. Um dos melhores do ano.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Crítica: Jobs


Para boa parte de leitores e ou de espectadores, seja no livro ou na tela de cinema, a biografia de uma personalidade jamais satisfaz plenamente. A suspeita é a de que o biografado é ou era (muito) melhor e ou pior do que o desvelado. Quando se trata de autobiografia, a desconfiança é maior.

Em 2011, logo após a morte de Steve Jobs, aos 56 anos, em consequência de câncer no pâncreas, descoberto em 2003, começaram a aparecer biografias e matérias na mídia, abordando as mais diversas facetas do homem que revolucionou e popularizou a informática e a comunicação móvel. São tantas histórias polêmicas e ou bizarras que não se sabe quais merecem créditos e ou algum desconto. Jobs, a cinebiografia do cofundador da Apple, traz a síntese de um bocado delas e a se crer no que se vê, o gênio era genioso, difícil no tratamento e no relacionamento com qualquer pessoa (mesmo!) ao seu redor.

Jobs (Jobs, EUA, 2013), dirigido por Joshua Michael Stern, chega aos cinemas dividindo opiniões entre parceiros, críticos e admiradores. O conteúdo (superficial) do período retratado (1971 a 2001) é discutido conforme o grau de interesse e ou de conhecimento da vida atribulada desse empreendedor visionário. Para o leigo, a primeira impressão é a de que se trata da parte um ou dois de uma trilogia, o que justificaria a “superficialidade” do intrincado assunto que envolve processos de criação, disputa de patrimônio, exploração de mão de obra, amizades, drogas, família.
  

Longe de ser uma hagiografia (como muitos fãs gostariam), o dramático roteiro de Matt Whiteley, detêm-se apenas no que lhe parece essencial para se conhecer (vagamente) a complexa personalidade do antissocial Jobs (Ashton Kutcher) em família e no trabalho. Assim, os fatos que ganham maior foco são os relacionados à sua formação profissional: associação com Steve Woziniak (Josh Gad); Atari; Apple; Macintosh; Lisa; NeXT. A “falta de tempo” (?) para aprofundamentos também se nota na ausência de questões mais explosivas, envolvendo a Xerox (PARC) e Bill Gates (Microsoft), e ou o lucrativo investimento na Pixar e na The Walt Disney Company.

Jobs é um filme independente para iniciantes em Jobs, para quem, se muito, o conhece de ouvir falar e não necessariamente de fã para fã.  Tem uma boa produção e narrativa razoável, mesmo limitada em flashbacks e praticamente batendo numa tecla só. Kutcher fez um bom trabalho de casa e excelente laboratório, pois impressiona na pele do arrogante Jobs. No entanto não creio que este drama (com raras pinceladas de humor) seja o suficiente para a maioria leitores-espectadores que o louvam cegamente (e não aceitam o seu lado nada cult). É mais provável que pareça apenas um aperitivo para a sua próxima cinebiografia, que deve estrear em 2014.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Crítica: Aviões


Houve um tempo em que filmes direcionados ao público infantil, principalmente animações, eram lançados, preferencialmente, nas férias. Neste atípico 2013 tem chegado, às salas de cinema, ao menos um desenho por mês (*). O de setembro é Aviões, alçando voo diretamente do “mundo de Carros”. Ou mais ou menos, já que não é exatamente uma produção Pixar, mas um, digamos, similar meio genérico, do Estúdio Disneytoons que, por sua vez, é uma divisão do Estúdio Walt Disney Animation. Ou seja, em família, pero no mucho.

Aviões (Planes, EUA, 2013), dirigido por Klay Hall, voa entorno de Dusty, um pulverizador de defensivos agrícolas, gente boa, digo, aeronave boa, que sonha em se tornar um grande “piloto” de competição aérea..., mesmo não tendo sido criado para isso. Assim como Turbo, o caracol que (em animação recente) se tornou um az das pistas de corrida, Dusty, o avião caipira que tem medo de altura, costuma sonhar alto e não desiste da ideia de participar de uma competição profissional e se tornar um az do céu. Não é preciso de spoiler para saber como vai bater asas essa trama de aventura e ação!


Todo o universo automatizado da franquia Carros está reciclado em Aviões. Qualquer espectador vai reconhecer a turma do orgulhoso Relâmpago McQueen na turma do determinado Crophopper Dusty e se familiarizar com o inocente caminhão tanque: Chug; a confiante empilhadeira: Dottie; o misterioso: Skipper; o arrogante campeão: Ripslinger; o romântico conquistador El Chupacabra (o que há de melhor na fita!) etc. Uma repetição de personalidades (caricatas) que torna a história ainda mais redundante e bem menos reluzente.

Apesar da simpatia de alguns personagens, Aviões é uma animação que voa às cegas, em meio a turbulências do limitado roteiro de Jeffrey M. Howard, que não define a faixa etária do aeroporto em que deseja pousar. Nesse voo rasante, quicando aqui e acolá, o humor hilário acabou extraviado e o que ficou na bagagem de mão não é suficiente para fazer gargalhar.

No saguão é até possível resgatar alguns gracejos culturais: avião britânico e seu chá; tratores-bois indianos. Ou aproveitar o tempo de espera para admirar algumas belas sequências, como a do voo de planadores brancos, feito garças rumando ao Taj Mahal; dos balões vaga-lumes; ou da tempestade em alto mar. Mas é preciso estar atento ao painel, já que são pontuações breves. Muito breves!


Pensado, a princípio, para a televisão e lançamento direto em DVD, Aviões, é mais do mesmo já visto e revisto em outras animações (inclusive) de outros estúdios e outras ficções protagonizadas por “gente” de carne e osso. Nem na TV seria original, já que há um bocado de animações onde barcos, trens, caminhões falam e alguns até interagem com humanos. Para (ao menos) parecer original, não basta que um carro “vire” um avião, mas que a sua (batida) história de superação seja realmente diferente..., se é que é possível reinventar o assunto superação.

Em todo universo paralelo que se preze há espaço para todo tipo de vida que se imagina. No de Carros, a Terra é o habitat de máquinas com características (sociais, políticas, esportivas, sexuais) humanas. Para um espectador adulto, um planeta tomado por seres automatizados, que agem tal e qual os humanos, pode parecer bizarro, mas, para uma criança, a imaginação não tem limites. Será? Há controvérsia.

Apesar de descartável, o previsível Aviões deve encontrar seu público aeronauta no campo dos meninos (de 6 aos 10 anos) e dos aeromodelistas (de todas as idades).


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