quarta-feira, 31 de julho de 2013

Crítica: Bling Ring - A Gangue de Hollywood


Em Hollywood, onde a arte está sempre tentando imitar a vida como ela é ou se acredita que seja, entre 2008 e 2009 a realidade imitou a ficção, quando uma gangue de adolescentes roubou celebridades do mundo artístico só pelo prazer de usar o que os seus “ídolos” usavam e sentir o gostinho do que é ser uma celebridade.

Fazendo jus a Andy Warhol: "um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama", essa garotada mal-amada e cabecinha de nada, “barbarizou” as casas de famosos como Paris Hilton, Audrina Patridge, Lindsay Lohan, Rachel Bilson, Orlando Bloom e outros milionários que, por “azar” do sucesso instantâneo e ou merecido, conquistaram o direito de viver em luxuosas mansões em Sherman Oaks, Los Feliz e Hollywood Hills. Os furtos renderam aos “inocentes jovens influenciados pela mídia” a bagatela de três milhões de dólares em joias, roupas e dinheiro, que ostentaram em points físicos (boates) e virtuais (Facebook) da moda..., até que a polícia arrombou la fiesta.

Bling Ring - A Gangue de Hollywood (The Bling Ring, 2013), escrito e dirigido por Sofia Coppola, tem por base real o artigo The Suspects Wore Louboutins (Os suspeitos usavam Louboutin - referência a uma marca de sapato caríssima), escrito por Nancy Jo Sales para a Vanity Fair, em 2010. A narrativa, que vem dividindo opiniões por sua imparcialidade, está mais para constatação de fatos do que contestação dos fatos. O grande lance deste drama (meio documentário nonsense e meio reality show) é praticamente se bastar na superficialidade dos integrantes da gang formada por alunos do ensino médio “alternativo”: Rebecca (Katie Chang), Marc (Israel Broussard), Chloe (Claire Julien), Nicki (Emma Watson) e Sam (Taissa Farmiga).


Coppola não se aprofunda muito além da casca de cada um dos (perturbados?) adolescentes. Não há razão. O que é mostrado (fragmentos da intimidade) é o suficiente para se conhecer a personalidade deles. Também porque, nas entrelinhas, a leitura apurada sugere que por trás dos atos (de rebeldia?) há o triste retrato de famílias disfuncionais. Todos são filhos de pais ausentes e ou inconsequentes, como a sugestionável Laurie (Leslie Mann), mãe da sem noção Nick, que educa as filhas com as regras de “otimismo” exacerbado do livro de autoajuda O Segredo, em uma mão, e pílulas de Adderall em outra.

Por vezes Bling Ring - A Gangue de Hollywood é calculadamente tão incômodo quanto a distorção do duo Sleigh Bells com a sua dissonante Crown on the Ground (perfeita tradução sonora da gangue), que abre a temporada de roubo. No mote do crime (sem culpa) e do castigo (que virá sumário), o que importa a Coppola é a cinematografia dos furtos praticados com algum planejamento (via web), porém contando com o acaso e o vacilo dos confiantes moradores. Afinal, essa garotada marginalizada pela mídia e explorada exaustivamente pela publicidade está mais para a estupidez do que para a genialidade. Vítimas da própria armadilha, eles vão descobrir (atrasados!) que o preço para irem além dos 15 minutos de fama depende da precisão do relógio do juiz..., ou da própria sorte.

Assim como a câmera de Harris Savides (1957-2012), que começa invasiva e aos poucos se distancia, gerando sequências tão fascinantes quanto perturbadoras, como a do assalto à Casa de Vidro..., também o espectador (pelo cansaço) se afasta da “ação” contínua de roubos e exibicionismo. O que não alivia a sensação de conivência no roubo-tour, por exemplo, à exuberante casa de Paris Hilton (cenário real), como se em uma reconstituição de crime..., e ou o riso incontido em uma cena com o cachorrinho de estimação da socialite.


Bling Ring - A Gangue de Hollywood é como que o reverso da moeda de Um Lugar Qualquer (2010), também de Sofia, em que um célebre autor se cansa da própria fama. Quem tem tudo e não é feliz sempre alega que o dinheiro não traz felicidade..., no que é retrucado por quem tem nada: - se não traz eu compro! Para a Gangue de Hollywood, obcecada por nomes famosos e muito mais pelas marcas que desfilam, a grife é o limite da classe social. Ou seja, se a fama não traz classe a uma celebridade instantânea, compra-se a classe..., ou melhor, a grife. Um fulano afamado pode até continuar sem classe, mas, quem nota quando se está vestindo uma fortuna da cabeça aos pés? Um ladrão vestindo terno e gravata continua sendo um ladrão, porém, bem vestido, passará tranquilamente por um Dr.

A história que Sofia Coppola (re)conta não é uma comédia, mas resulta irônica e pertinente, sem ser moralista. Tampouco acende luz de alerta e ou farol orientador aos percalços da fama. Apenas registra o que se viu e ouviu sobre o ocorrido. O riso, se vem, é mais pelo desconforto da situação ou dos diálogos vazios e desconexos. A psicótica Nick (Watson) e a sua (in)crédula mãe, Laurie (Mann) roubam as cenas. Na verdade todo o elenco está muito bem. O público juvenil vai gostar da trilha barulhenta.

Bling Ring é, no mínimo, um filme curioso. Não me parece muito distante da realidade brasileira com seus mauricinhos e patricinhas que, na calada da noite, também aprontam das suas. Enfim, nessa fogueira das futilidades que, via publicidade, torra até mesmo o cérebro humano mais tenro, tão cedo o churrasquinho de vaidades não descarta o tempero das mais caras grifes do mercado.

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