domingo, 30 de junho de 2013

Crítica: Meu Malvado Favorito 2


Sequências sempre geram muitas expetativas. A maioria não vai além de mero caça-níquel de fã (Batman que o diga!). No entanto, na contramão das abomináveis derrapagens, felizmente há sempre uma ou outra que faz jus à obra original.  

Dizem que a garantia de uma futura franquia é o saldo da primeira bilheteria. Convenhamos que os 540 milhões de dólares arrecadados pela animação Meu Malvado Favorito, de 2010, não é tão descartável e, com certeza, fez luzir e reluzir os olhos dos produtores e abrir caminho para a continuação. E já que em time que está ganhando não se mexe, a missão de repetir o sucesso coube aos mesmos diretores Pierre Coffin e Chris Renaud e roteiristas Ken Daurio e Cinco Paul. Assim, sob o slogan: Quando o mundo precisou de um herói, chamaram o vilão, a história segue em frente com muita ação e aventura.


Meu Malvado Favorito 2 (Despicable Me 2, EUA, 2013) começa praticamente onde parou (em 2010). O ex-vilão Gru, totalmente regenerado, agora se dedica integralmente às suas três adoráveis filhas adotivas, Margô, Edith e Agnes, e, nos momentos de folga, à fabricação de uma exótica geleia. É claro que conta com a imprescindível colaboração (nem sempre eficiente) do ancião cientista louco Dr. Nefário e do impagável exército de Minions (que devem ganhar um filme próprio em 2014). Porém, nem tudo são frutas e flores e, quando menos espera, Gru é “convidado” pela ultra-secreta Liga Anti-Vilões, chefiada por Silas Bundovsky, para se juntar à dedicada e atrapalhada agente Lucy Wilde na caça a um novo vilão que cometeu um crime espetacular (e bota espetacular nisso!).

Já que, segundo Bundovsky, um ex-super-vilão é a melhor escolha para encontrar o esconderijo de um novo super-vilão, é dada a largada para deliciosas gags e referências aos filmes de agentes secretos tipo James Bond. O criativo roteiro, num clima pra lá de pastelão, é redondo e com sacada e soluções geniais. Pesa um pouco em algumas cenas (finais), mas nada além do que se vê em velhos desenhos animados na TV.


Repleto de pequenas histórias (paralelas), algumas emocionantes (com Agnes) e outras hilárias (com namoradas de Gru), a narrativa não perde o rumo e muito menos o ritmo. Coisa rara em qualquer gênero cinematográfico. E por falar em ritmo, o movimento de câmera da sequência de abertura é tão fascinante que leva um tempinho para se acreditar que é animação. E por falar em beleza, as cenas com o lindo carro de Lucy (toda a garotada vai querer um) são deliciosamente um espetáculo à parte.

A premissa da animação é divertir e não passar lição de moral, mas toca (sem insistir) com delicadeza (sem pieguice) numa questão difícil para o espectador de qualquer idade: rejeição amorosa. O humor é leve, meio nonsense e meio infantil (os pequenos vão gostar da escatologia infantil), mas não aborrece os acompanhantes que, se não rirem de uma piada (boba) ou outra, vão ter muitas oportunidades para curtir esta imperdível continuação.


Neste ano de grandes animações, Meu Malvado Favorito 2 (oitavo lançamento e terceira continuação) convence ao apostar em uma história tão original quanto a anterior e (algo raro!) com a mesma  qualidade. Todos os personagens têm personalidade e não estão na tela apenas para fazer número. Entre os novos se destacam o mexicano Eduardo Perez e seu filho Antonio (que protagonizam cenas tão encantadoras quanto bizarras). O 3D é bom e fica melhor nas cenas (de teste de elenco) dos Minions entre os créditos finais.  

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Crítica: Universidade Monstros


Quando lançado, em 2001, o desenho animado Monstros S.A, da Pixar, foi a grande sensação da temporada. Dez anos depois, Universidade Monstros chega com tudo para conquistar novos espectadores e, de quebra, satisfazer a curiosidade dos antigos fãs sobre o passado dos simpáticos monstrengos. Quero dizer, nem todos. Tem muita gente que não é chegada em prólogos tardios.

Em Universidade Monstros (Monsters University, EUA, 2013) o adorável monstro verde, de um só olho, Mike Wazowski, e o simpático azulão James P. Sullivan, o Sulley, cursam o primeiro ano do Programa de Sustos da concorrida Faculdade de Sustos. Wazowski, que espera ser um Assustador da Monstros S. A., sonha com isso desde monstrinho. Os dois calouros se estranham assim que se conhecem. Enquanto o determinado Wazowski se dedica de corpo e alma aos estudos, o folgado Sulley (filho de um renomado Assustador) aposta apenas na tradição do seu grito naturalmente apavorante. Por conta dessa e de outras diferenças a situação entre os dois se agrava dentro e fora da sala de aula e, para evitar a expulsão, se veem obrigados a participar de um “monstruoso” (e hilário) Concurso de Sustos. Que vença o que melhor conseguir divertir o público infantil e seus acompanhantes.


Universidade Monstros, com direção de Dan Scanlon, adapta ao universo infantojuvenil temas comuns em filmes sobre estudantes norte-americanos (bullings, brigas e intrigas entre as irmandades universitárias) e reforça (sem pieguice) a perseverança e o valor do trabalho em grupo. Uma vez que a bem-humorada história se passa antes dos tempos conhecidos no primeiro desenho animado, o espectador sabe que a desavença entre Wazowski e Sulley deve ser passageira. O que não sabe (e esse é o grande lance!) é como essa briga de egos vai terminar e quando realmente vão se tornar grandes amigos.

A narrativa, com sabor mais juvenil, guarda alguns bons trunfos (as referências aos clássicos de terror são impagáveis). O ponto alto é a inteligente virada nos últimos minutos, surpreendendo o espectador com um inusitado final. Redundância: A concepção cenográfica de Monstrópolis e do Campus é encantadora e os velhos mostrengos continuam tão carismáticos quanto os novos personagens, como o amável e tímido Scott “Esguicho” Squibbles e os integrantes da desastrada irmandade Oosma Kapa - OK. Ora, é a Pixar aprontando mais uma vez com a sua inesgotável paleta de cores e graciosos desenhos.


Especula-se sobre o porquê deste prólogo da mesma forma que se especulou sobre o “prólogo sequencial” de Star Wars. Não creio que qualquer resposta que se dê satisfaça a um ou outro espectador. Independente do padrão Pixar, é fato que o Universidade Monstros, ao explorar o passado dos habitantes do coloridíssimo mundo paralelo dos monstros, não causa tanto impacto quanto o Monstros S. A. Todavia, ainda continua bem acima da média de outras recentes animações. Por isso, se gosta destes visitantes noturnos, e quer saber como tudo começou..., o melhor é relaxar e curtir este ótimo prenúncio do animado terrir.


Um bonito desenho, em curta-metragem, contando a romântica história de um Guarda Chuva Azul que se apaixona por uma Sombrinha Vermelha, em uma tarde chuvosa, acompanha o longa. Roteiro redondo e personagens expressivos. Simplesmente fascinante!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Crítica: Minha mãe é uma peça


Conheço críticos que preferem escrever nada, a comentar negativamente um filme brasileiro. A lengalenga é mesma: ah, mas é um filme brasileiro..., ah, mas é tão difícil fazer um filme no Brasil..., ah, mas é tão difícil chegar às salas de cinema..., ah, etc. Bem, com o apoio de certos produtores nem é tão difícil assim...

Minha mãe é uma peça (Brasil, 2013) é baseado no monólogo homônimo (que não conheço) escrito e interpretado pelo ator Paulo Gustavo. No filme a história gira (praticamente!) ao redor da neurótica Dona Hermínia (Paulo Gustavo), uma quarentona, divorciada de Carlos Alberto (Herson Capri), que vive em função dos filhos Marcelina (Mariana Xavier) e Juliano (Rodrigo Pandolfo), que (como os demais personagens) fazem absolutamente nada na vida. Um dia, cansada de ser confrontada pelos insolentes jovens, Hermínia resolve sair de casa e passar uma temporada com sua tia Zélia (Suely Franco). Ela choraminga suas dores de lá e os “rebeldes sem causa” choramingam de cá.


A narrativa assemelha-se a um conjunto de batidas esquetes (de TV e de Show de Piadas) sem graça (ôps!) e sem ritmo (de cinema) em torno (e no entorno!) da histérica Hermínia, que só faz reclamar (do começo ao fim!) com sua irritante voz de taquara rachada (típica de travesti). Se no teatro o ator desperta o riso fácil do público, com a caricatura de uma solitária dona de casa, no cinema é preciso muito mais que boa maquiagem, figurino florido e bobes na peruca para convencer o espectador de que é uma mulher. E, sinceramente, na telona, travestido de Hermínia, o Paulo Gustavo está mais para crossdressing (ou seria drag queen?) do que para mulher.

Minha mãe é uma peça, dirigido por André Pellenz, é mais uma típica “comédia” ao estilo ria se puder, ou se conseguir, ou sei lá..., que insiste numa só caquética “piada” fecal. O seu “humor” infantilóide tangencia a escatologia comum na nova onda cinematográfica de chanchadas calcadas na baixaria do “humor” televisivo que o novo espectador adora. Porém, como nem tudo que funciona num palco funciona na tela, ela é vítima do roteiro (familiar) chinfrim escrito por Gustavo e Fil Braz, com a colaboração de Rafael Dragaud. Ora, cenários e performances completamente diferentes, óbvio, pedem adaptação e direção distintas. Também porque, nem todo espetáculo teatral pronto (e de sucesso!) resulta em um bom filme. Ou vice-versa.


O enredo que resvala num drama piegas (de novela chicana) sai de lugar algum para lugar nenhum. A personagem protagonista é uma chata (sem garantia de devolução!). As personagens coadjuvantes também.  Aliás, todo mundo é tão vagal na trama que cada um vai pra onde quer. Não há liga no elenco bibelô. Não há empatia com o público. É tipo..., assim (para ambos): O que estou fazendo aqui mesmo? Tudo bem que o filme é baseado em um monólogo de sucesso (seis anos em cartaz!), mas se a intenção era continuar o formato no cinema, para que enredar personagens (sem personalidade!) que nada acrescentam?

Exageros de Paulo Gustavo e sonolenta mesmice dos outros atores à parte, vale destacar nessa claudicante adaptação de 1h25 (que parece não ter fim), entre incômodas sensações de já visto e já ouvido em outros filmes nacionais, a ótima direção de arte e a boa maquiagem.  Enfim..., uma “comédia” para fãs do espetáculo teatral que queiram “rir” de novo (?).

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Crítica: Depois da Terra


Recentemente estreou a divertida animação pastelão A Fuga do Planeta Terra e agora, no mesmo vácuo, chega o filme Depois da Terra, estrelado por Jaden e Will Smith. Além do gênero ficção científica, em comum um clima retrô e o diálogo, ou melhor, o destino final de seus protagonistas.  Coincidência ou mudança de hábito?

Depois da Terra (After Earth, EUA, 2013), dirigido por M. Night Shyamalan, que roteirizou, em parceria com Gary Whitta, o argumento de Will Smith, é um filme de aventura e ação, com pinceladas dramáticas, voltado ao público juvenil (12 a 16). Todos os realizadores sabem que a explosiva relação entre pais e filhos pode gerar bons (ou enfadonhos) filmes. No entanto o “discutir a relação” (tema em pauta até nos desenhos animados) não é tão fácil quanto parece. Spielbeg, especialista no assunto (divã mal resolvido), que o diga. E também, cá pra nós, adolescente que apronta aqui não é o mesmo adolescente que sobrevive acolá. Se é que me fiz entender.


Depois da Terra fala da saga de 750 mil privilegiados (?) que, por conta de desastres naturais e degradação causada pelo próprio homem, migraram da Terra para Prime, onde enfrentam a ira da civilização Skrel, que considera o planeta como o seu santuário e os humanos como praga a ser dizimada. Esses terráqueos realmente não têm jeito..., com um universo tão grande, vão em suas “arcas” invadir justo um planeta que já tem dono?! Enfim, para defender o seu território os alienígenas têm as Ursas, feras cegas que, atraídas pelo feromônio secretado pelos humanos medrosos, matam sem dó nem piedade. Para manter a posse os imigrantes têm o astucioso comandante Cypher Raige (Will Smith), que descobriu uma forma de controlar o medo, tornando-se invisível e letal para os animais. Fora de casa o tenso Cypher é uma lenda, dentro é prepotente e não sabe como lidar com o adolescente Kitai Raige (Jaden Smith). Nas laterais, pai herói ausente versus filho admirador carente. No centro, Faia Raige (Sophie Okonedo), esposa e mãe pacificadora de ânimos. Certo dia o jovem acompanha Cypher em uma missão e quando um acidente obriga o comandante a pousar a nave no inóspito planeta Terra (de mil anos depois), colocando a vida de ambos em risco, eles terão de (aprender a) confiar um no outro.


Aproveitando o estilo mangá/anime (ainda em voga) de contar histórias juvenis, Shyamalan usa e abusa de elementos orientais, na tentativa de dar alguma profundidade à sua trama rasa.  As referências ao universo samurai estão no nome do personagem (Kitai), nos rituais de concentração, nas armas. E por falar em armas (como já visto em outras histórias), parece que a gente do futuro vai ser chegada numa lâmina e suas ramificações. Lá pelo ano 3000 e pouco a grande sensação será a compacta e eficiente Lança modelo C-40 (com suas 22 configurações, incluindo lâmina curta, lança, lâmina longa, foice, adaga). Uma maravilha “de bolso” capaz de estraçalhar qualquer inimigo. Quem apostava no laser ou em algo mais quente, dançou!

Depois da Terra tem vários pontos em comum com O Último Mestre do Ar (2010), também roteirizado e dirigido por M. Night. Em ambos há um (insolente) jovem adolescente e sua “penitente” jornada do herói rumo à gloriosa maturidade. Que autoconfiança, superação do medo, controle da mente..., são ideias recorrentes em suas exauridas narrativas, não é novidade. A questão é que o vício de linguagem acaba cansando o espectador e aí, qualquer que seja a “jornada” lhe é indiferente o “herói”.  


Kitai não é um personagem arrebatador, muito menos Cypher. Cadê o diretor? Eles passam o tempo todo de cara amarrada e estão mais para egocêntricos à beira da antipatia do que vítimas do sistema (ora, nem Clark Kent é super-herói 24h por dia). A impressão é a de que as suas diferenças vão se dissolvendo aos poucos, itinerário afora (ou adentro), mais por conta do (a)preço pela sobrevivência do que pelo desatamento dos nós familiares, que devem (?) acontecer após o prólogo piegas. Fruto de um roteiro inconsistente, o medo que motiva transformações em ambos também não é pleno..., fica, se muito, no sobressalto.

Tudo bem que se trata de “superação do medo” e não de “provocação do riso”, é um drama de ação e não uma comédia de ação..., mas em uma produção onde até o medo é linear, uma pitadinha de humor, com certeza, faria boa diferença. Depois da Terra (que não resiste à curiosidade do tipo: o que aconteceu com os humanos deixados para trás?) está focado na emoção do espectador jovem e não na razão do adulto. Portanto, o que disse pode não ter a menor importância, já que é possível a um adolescente (ainda que da geração “i”) se identificar com o drama-clichê de Kitai e mesmo assim não dispensar o combo.

Ah, nunca é demais alertar aos distraídos que erram datas na virada do ano, no futuro o d.C (depois de Cristo) será alterado para d.T (depois da Terra, daí o título). Gostou da analogia hollywoodiana? Eu, hein! Se bem que, para economizar neurônios, era só alterar o “C” de Cristo para o “C” de Cypher. Então, de olho no calendário do próximo milênio! Se é que você ainda vai se lembrar do filme quando sair do cinema.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Crítica: O Grande Gatsby


Quando lançado em 1925, O Grande Gatsby, esteve fadado ao fracasso. Recebido friamente pela crítica, o romance de F. Scott Fitzgerald mal vendeu 20 mil exemplares. Bastou a sua morte para que o livro fosse redescoberto, elevado à categoria de clássico e considerado a sua obra-prima. E desde então vem ganhando adaptações para o cinema, teatro, ópera, HQ. A arte tem dessas coisas. O ciclo vicia a cultura e quando o artista se vai, encontra-se a cura.

O Grande Gatsby (The Great Gatsby, Austrália, EUA, 2013), na alucinante visão de Baz Luhrmann, é a quinta versão cinematográfica da obra (houve uma adaptação para a TV em 2000) e com certeza a mais audaciosa. A única anterior que vi e de que me lembro vagamente é a de 1974, do diretor Jack Clayton, com Robert Redford e Mia Farrow, com roteiro de Ford Coppola, detonada pela crítica. Na época gostei. Era mais espectador que crítico. Nunca mais a revi.


Quarenta anos depois, Baz Luhrmann, reinterpreta F. Scott Fitzgerald e recauchuta o universo d’O Grande Gatsby, com furor, estética e trilha sonora “fora de ordem e de tempo” que o consagraram com os estonteantes Romeu+Julieta (1996) e Moulin Rouge (2001). Frenesi à parte, o roteiro de Baz e de Craig Pearce busca fidelidade verbal e visual da obra original e quando toma alguma liberdade poética, amarrando a narrativa, esta não chega a incomodar, pelo contrário, até realça nuances do romance crítico de Fitzgerald, que destila o american way of life nos anos 1920, sem os inconvenientes da ressaca socioeconômica do american dream.

Neste drama trágico, onde uma aventura amorosa (correspondida ou não) custa caro, a história se desenvolve catártica, ao sabor da fervilhante memória do aspirante a escritor Nick Carraway (Tobey Maguire). O jovem interiorano que chegou entusiasmado a Nova York, na primavera de 1922, e sentiu-se atraído (e traído) pelo mundo dos ricos e famosos, desvela os prazeres e dissabores da companhia de pessoas excessivas, não apenas para lembrar e esquecer os loucos anos de 1920, mas para recuperar a sanidade e, talvez, o que restou dos seus sonhos juvenis. Vizinho do misterioso milionário Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio, excelente), e primo da fútil Daisy (Carey Mulligan), esposa do egocêntrico e mulherengo Tom Buchanan (Joel Edgerton, ótimo), Carraway se enredou inadvertidamente na intimidade dos três e descobriu tarde demais que, para se viver “sem regras” (e sair ileso), mais que cacife, é preciso muito estômago (ou fígado).


Assim como em O Grande Gatsby, de Fitzgerald, o de Luhrmann não disfarça a contradição do copo cheio de nada, da melancolia dos seus festivos personagens. Por trás das máscaras, a história mais tocante é a do venturoso Gatsby, que se (re)inventou em nome de um amor que insiste num presente, sem se dar conta de que o seu tempo parou num outro campo de batalha. A história de Tom, também é interessante, mas, pautada pela devassidão e não pela paixão avassaladora, a sua carga dramática é outra, bem menos envolvente. O mesmo pode ser dito da submissa Daisy, perdida em si mesma e sem um repente suficientemente forte para retirá-la do marasmo a que se condenou.

Como se ouvisse Oscar Wilde: ... aquele que se mantém o mais longe possível do seu século é na verdade o que melhor o espelha..., Baz Luhrmann faz de O Grande Gatsby, obra que também aparece embebida da essência de Wilde, um filme deliciosamente provocante e muito bem embalado pelo efervescente jazz com batida pop-hip-hop. Mesmo abusando do preciosismo, que lhe é peculiar, (re)constrói com admirável competência uma trama (aparentemente simples e novelesca), com ares de sátira e de parábola, emoldurada por uma cenografia de cair o queixo. Diante de enquadramentos desconcertantes, coreografias arrebatadoras, belos efeitos gráficos..., é impossível não se sentir no cerne da luxuriante realidade (ilusória?) norte-americana dos 1900.  Ou não se apiedar do apaixonado Gatsby.


Nunca é demais lembrar que, se o leitor é um espectador que não gosta de excessos, e vice-versa, talvez seja melhor manter distância. Mas que vai perder uma vibrante adaptação, ah, isso vai.

domingo, 2 de junho de 2013

Crítica: Odeio o Dia dos Namorados


Que o público brasileiro está indo mais ao cinema para ver telecomédias chulas, conhecidas também como (porno)chanchadas imbecilizantes, protagonizadas por contadores de piada e atores de (um canal de) TV..., já não é novidade. E pelo andar da carroça da freguesia, digo, da franquia, vai continuar indo..., enquanto as celebridades televisivas forem protagonistas. Cada qual com seu gosto.

Odeio o Dia dos Namorados, dirigido por Roberto Santucci, esvoaça ao redor de Débora Ferrão (Heloísa Périssé), uma ambiciosa e mal-humorada publicitária (queria o quê com um nome desses?) que prefere a sua intensa vida profissional a um relacionamento amoroso com algum pretendente. Nem mesmo Heitor (Daniel Boaventura), o apaixonadíssimo namorado da sua juventude, conseguiu descongelar o seu coração. Assim, quando é “indicada” para desenvolver uma campanha romântica para um bombom, ela trava e a sua fortaleza desaba qual um castelo de cartas blefadas. Em meio a vários incidentes ela recebe a visita do fantasma do seu amigo Gilberto (Marcelo Saback), que a obriga a rever sua vida, seus conceitos e descobrir quem realmente é, na opinião dos “seus” colegas de trabalho.


Odeio o Dia dos Namorados (Brasil, 2013), que não deve ser confundido com Eu Odeio o Dia dos Namorados (I Hate Valentine’s Day, 2009), escrito, dirigido e protagonizado por Nia Vardalos..., é um filme indeciso. Pelo título óbvio, o mais correto seria acreditar que se trata de um romance, ou comédia romântica e ou drama cômico romântico.  Nada mais distante do “roteiro” de Paulo Cursino, inspirado no dramático clássico Conto de Natal, de Charles Dickens, que conta a história do avarento e mal-humorado Ebenezer Scrooge que, visitado por três espíritos, passa em revista a sua vida..., obra trocentas vezes adaptada para o cinema, teatro, HQ. O problema maior da produção brasileira nem é de argumento frouxo, mas de indefinição de gênero. O que, de certa forma, não deixa de ser novidade, já que é o espectador é quem vai decidir. Se conseguir rir: comédia. Se conseguir se emocionar: drama. Se conseguir se divertir: aventura. Se...

Longe do humor chulo de uma chanchada (tão em voga) e da escatologia (tão em voga), apesar de um rápido flerte abominável, Odeio o Dia dos Namorados claudica entre um clichê e outro, entremeando “piadas” velhas e trocadilhos infames, até abobar de vez em um previsível final. Carece de ousadia, de disritmia em sua trama (linear). A videobreguice do prólogo até ensaia a promessa de uma boa e divertida história..., porém, a videocafonice do epílogo (de volta ao começo) não deixa dúvidas, a narrativa insossa reprimiu (ah, trocadilhei!) a possibilidade de um bom deleite com essa “releitura” de Dickens. Minto, desviando de diálogos sofríveis, maquiagem constrangedora e erros de continuidade, há uma sequência até bacaninha: a viagem de Débora ao futuro.


Um filme para fãs (do elenco..., que apenas traduz a caricatura do fraco roteiro) e ou espectador pouco exigente de comédia, drama, aventura etc. Divirta se puder e enquadre-o como quiser.

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