quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Crítica: O Vingador do Futuro (2012)



Total Recall é o nome “fantasia” que o conto We Can Remember It For You Wholesale, de Phillip K. Dick, ganhou (e passou a ser conhecido!?) ao servir de inspiração (mínima) para o filme Total Recall (O Vingador do Futuro, 1990), de Paul Verhoeven, com Arnold Schwarzenegger (Doug Quaid) e a belíssima Sharon Stone (a dissimulada e fatal Lori), ambos no auge da carreira. O filme de Verhoeven continua bom, com malícia e humor na medida certa..., mas nem as famosas sequências de matança (como a da escada rolante) provocam o mesmo impacto dos anos 1990. Todavia, como a criatividade anda em falta em Hollywood, o conto (meio kafkiano) de K. Dick, publicado em 1966, voltou a servir de desculpa para inspirar (com o mesmo nome “fantasia”) o recall de Total Recall, que já nem é tão total assim, em 2012.

O Vingador do Futuro (Total Recall, EUA, Canadá, 2012), dirigido por Len Wiseman, fala de um Planeta Terra, em fins do século 21, praticamente arrasado por guerra química. Há apenas duas regiões habitáveis (Grã-Bretanha e Austrália), conhecidas como Federação Unida da Grã-Bretanha (rica) e Colônia (pobre), interligadas por um elevador chamado de Queda. Numa gigantesca favela de Colônia vive o pacato operário Douglas Quaid (Colin Farrel) e sua mulher Lori (Kate Beckinsale). Ele anda estressado por causa da sua rotina de trabalho e de um mesmo sonho que o atormenta toda noite. Acreditando que a ilusão de férias em Marte o ajudará, Doug procura a Rekal Incopored, especializada em memórias artificiais, e acaba descobrindo que ele não é exatamente quem pensa que é, e muito menos as pessoas ao seu redor. Ao tentar elucidar os fatos ele se vê metido numa dramática aventura, envolvendo a sua mulher, o chanceler da Federação, Vilos Cohaagen (Bryan Cranston), e os rebeldes Melina (Jessica Biel) e Matthias (Bill Nighy). O problema é que Quaid não tem certeza se o que está vivendo é real e ou faz parte do programa de falsa memória de férias da Rekal.


O frágil roteiro de Mark Bomback, James Vanderbilt e Kurt Wimmer, tem como base o filme de 1990 e não o conto de K. Dick. É uma versão pretensiosa, mas a sua ousadia acaba ficando pelo meio do caminho, ali entre a refilmagem (imitando cenas e até diálogos da produção anterior) e a busca de originalidade (situando a ação na Terra). É inevitável a comparação entre as versões de Verhoeven e Wiseman, principalmente porque abordam um mesmo futuro distópico e em convulsão social. Se o leitmotiv de um é a exploração (irracional) do minério (marciano), o do outro (desconhecendo o controle de natalidade?) é a apropriação (irracional) do território terceiro mundista.  

Wiseman se mostra fã de sci-fi e toma “emprestado” o clima e a cenografia de Blade Runner, de O Quinto Elemento e de diversos Animes, bem como os modelos de robôs de Star Wars e de Eu, Robô, para compor uma narrativa que acaba se tornando irregular por ser levada a sério demais. Se tanto empréstimo familiariza o espectador fã de ficção científica, também o decepciona pela falta de criatividade no desenvolvimento do roteiro e direção. Entretanto, quem não conhece os filmes citado e muito menos o de Verhoeven, vai ficar fascinado (ao menos) com o visual. Algumas cenas de ação até são bacaninhas, mas chega uma hora que cansa ver o tal do bate um pouquinho e apanha um pouquinho e sem um machucadinho em sequências sem fim com os mesmos bandidos e mocinhos... De novo?!


Preferindo sempre o original ao genérico, acho que uma boa história só deve ser recontada na total (ops!) falta de opção e ou desde que traga realmente um novo olhar sobre um velho tema. Nunca é demais lembrar que nos últimos 22 anos apareceram muitos filmes tramando com a memória “plantada” em um cidadão, tirando o “sabor de novidade” de O Vingador do Futuro. O que me leva a perguntar: Se o universo literário sci-fi, com milhares de histórias originais excelentes, é riquíssimo, por que remaquiar uma que já rendeu tantos genéricos? Até mesmo o conto We Can Remember It For You Wholesale, na íntegra, daria um filme melhor que as duas produções, já que o seu foco (real e de discussão) é outro. Leia o conto (é curtinho!) de K. Dick e descubra até onde vai (ou para onde vai) a imaginação dos roteiristas.

O público alvo é o adolescente (principalmente) norte-americano e o conteúdo, é claro, foi nivelado por ele. A prostituta de três seios e alguns elementos que faziam sentido na antiga versão, agora, fragmentados e totalmente fora de contexto, dizem absolutamente nada. Quanto ao elenco, ver a inexpressiva mulher do diretor no papel de uma psicopatética Lori, faz a gente sentir saudades da insinuante Lori da linda Sharon Stone e da antológica e sagaz cena do acerto de contas com Quaid: Doug... Você não iria me machucar, não é, querido? Querido, seja razoável. Afinal, estamos casados! (...) Considere isso um divórcio! A atriz Jessica Biel é outra que não disse a que veio, com a sua insossa rebelde Melina. Sobra mesmo para Colin Farrel, em boa e convincente interpretação, segurar o tranco da produção.

O Vingador do Futuro é descartável, como a maioria dos remakes. No entanto, pode surpreender quem não é familiarizado com o tema e ou não exigir muito de um filme pipoca clichê daqui e refresca clichê dali. Caso contrário, parodiando o Douglas Quail (Ele acordou e desejou Marte.), do conto de Phlip K. Dick, o espectador vai acordar e querer o seu dinheiro de volta.

fotos: divulgação

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