domingo, 5 de agosto de 2012

Crítica: Bel Ami - O Sedutor



Bel Ami, o clássico romance de Guy de Maupassant (1850 - 1893), escrito em 1885, e inacreditavelmente contemporâneo, fala de uma época onde a arte de seduzir, de intrigar e de manipular dados (e fatos!) é a mais eficaz arma para a ascensão social e política. Em sua recente versão para o cinema a história mantém a sua acidez crítica à sociedade, à política, à imprensa. Todavia, pela velocidade da narrativa e a pressa em finalizar o layout e a boneca, a adaptação aparenta mais um resumão da obra homônima do que mesa posta para degustação da fina ironia dos entretítulos e ou das entrelinhas.

Bel Ami - O Sedutor (Bel Ami, UK, França, Itália, 2012), dirigido pelos estreantes Declan Donnellan e Nick Ormerod, vindos do teatro, se passa em 1890, na França, onde o ambicioso jovem Georges Duroy (Robert Pattinson), vivendo à mingua, acaba esbarrando na sorte grande ao encontrar Charles Forrestier (Philip Glenister), um companheiro de combate na Argélia, que o apresenta ao lucrativo quarto poder, também conhecido como imprensa. Para um aspirante a alpinista social, sair do submundo miserável direto para os salões mais requintados de Paris, trocar a companhia de prostitutas e vagabundos por “gente” influente e da mais alta sociedade, é uma oportunidade que não tem preço. Na verdade até tem, mas esse ele paga de bom grato.


Os filmes de época geralmente fascinam o espectador pelo cuidado da produção na reconstituição detalhada de um tempo possível apenas na sua imaginação de leitor. No entanto, nem sempre o mesmo apuro técnico (cenografia, figurino e trilha sonora) é percebido na construção e condução satisfatória de um roteiro baseado em romance histórico. Em Bel Ami - O Sedutor, a narrativa apenas tangencia em pontos capitais da obra homônima de Maupassant. Aí, sem a profundidade necessária, fica difícil acreditar na ascensão do curioso personagem que é retratado como um completo imbecil. Não que ele fosse um poço de sabedoria, mas deve ter lá alguma qualidade além do talento (?) natural de “galinho”, pronto a satisfazer os inconfessáveis desejos sexuais das “galinhas” que cacarejam ao seu redor.

Além de alguns segredinhos colhidos nas suas “rapidinhas”, com o trio de mulheres: Madeleine Forrestier (Uma Thurman), a influente e maquiavélica autora das suas matérias jornalísticas; a alegre e oportunista Clotilde de Marelle (Christina Ricci) e a recatada Madame Rousset (Kristin Scott Thomas), mulher de Rousset (Colm Meaney), o editor do La Vie Française..., há pouca coisa para se ver e saber sobre a sua ascensão no jornal e em como, sendo um jornalista tão medíocre, causou tanto “estrago” no governo. Uma vez que o foco está mais interessado na estampa de Delroy, o tal Bel Ami (Belo Amigo) das mal-amadas, do que no conteúdo sarcástico da trama, o filme acaba por lembrar as famosas adaptações da obra Les Liaisons Dangereuses (As Ligações Perigosas, 1782), de Choderlos de Laclos, que também trata de sedutores charmosos e diabólicos.  


Bel Ami tem uma narrativa lenta (parece ter muito mais que 100 minutos) e truncada (por conta do saltitar de sequências), na suposição errônea de que o público já conhece a obra e não deve se importar com a falta de detalhes (importantes!) que dão consistência ao livro. O que se percebe em cena é uma abreviada interpretação (teatral) do texto original. É claro que toda obra literária sofre (necessariamente?) alguma mudança na adaptação (de linguagem) teatral e ou cinematográfica. O tempo e o tratamento de imagem do teatro são diferentes do cinema. Por isso, raramente o que funciona em uma mídia funcionará na outra. Bel Ami - O Sedutor, em sua síntese, é até razoável, mas resultaria melhor em um palco.

O adjetivo de Sedutor, ao título brasileiro, é uma “sutileza” tão misteriosa (?) quanto a barba de um dia (todo dia) de Pattinson, que ainda não perdeu o cacoete de tremer a boca e apertar os olhos (para ficar mais sedutor?). O ator continua se esforçando, mas ainda não encontrou um diretor que realmente acredite nele e exija que faça das tripas coração. Por enquanto ainda é um chamariz (Sedutor?). 

fotos: divulgação

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