segunda-feira, 11 de junho de 2012

Crítica: Prometheus



Na mitologia grega Prometeu é o titã que livrou o homem das trevas e da subserviência divina, dando-lhe o Fogo do Conhecimento. No cinema, Prometheus é a espaçonave que leva uma equipe de cientistas e exploradores em busca do Fogo Primordial.

Dizem que uma parte da humanidade olha para o céu à espera do seu criador e que outra parte perscruta as estrelas (e as águas) ansiosa por saber quem somos, de onde viemos e, mesmo, para onde vamos. Em Prometheus (Prometheus, EUA, 2012), a ficção científica de ação e horror, do diretor Ridley Scott, dois arqueólogos, Elisabeth Shaw (Noomi Rapace) e Holloway (Logan Marshall-Green), encontram, em várias civilizações, indícios da presença de seres oriundos de um mesmo planeta (LV223) e de que estes seriam os deuses criadores da vida na Terra. Com a pesquisa na mão e um projeto na cabeça os cientistas convencem a Weyland Industries a financiar a missão que leva a bordo da espaçonave Prometheus, comandada pelo capitão Janek (Idris Elba), além dos cientistas e o pessoal de segurança, Vickers (Charlize Theron), "executiva" da megacorporação e o androide David (Michael Fassbender), criado pela WI.


Para Elizabeth, cristã criacionista, e seu namorado Holloway, um leigo, digamos, agnóstico, pode ser a chance de desvendar o mito da criação divina dos homens. Para a maioria da tripulação de exploradores é só mais um trabalho. Pelo menos é que eles imaginam, até pousar no inóspito planeta que está longe da imagem do paraíso celestial. Prometheus pode ser visto como prequel (prólogo) da “franquia” Alien, pela referência ao Space Jockey, o gigante extraterrestre com um buraco no peito. Mas também oferece uma leitura paralela à série, para quem não conhece a franquia: Alien, O Oitavo Passageiro (Ridley Scott, 1979), Aliens ( James Cameron, 1986),  Alien 3 (David Fincher, 1992), e Alien Resurrection (Jean-Pierre Jeunet, 1997). As tranqueiras AVP (2004 e 2007) são apêndices estuporados fora do jogo.

À primeira vista, para os amantes da curiosa sci-fi, Prometheus parece meio deslocado, pelo avanço da cinematografia em trinta e três anos e pela mudança de foco no frouxo roteiro dos espetaculosos Jon Spaihts (A Hora da Escuridão) e Damon Lindelof (Lost e Cowboys & Aliens). Vale lembrar que, quanto a tecnologia, o mesmo ocorreu com a franquia Star Wars (George Lucas), cujos episódios I, II, III, filmados 22 anos após os IV, V, VI, eram tecnicamente superiores. Passado o impacto do deslumbre visual, que valoriza ainda mais a obra surreal do artista plástico suíço HR Giger, e a depuração de uma série de referências a filmes (2001 - Uma Odisseia no Espaço, Lawrence da Arábia, Blade Runner, entre outros), é capaz do espectador cinéfilo, chegado em charada, se dar conta de que não sobrou muito espaço para o desenvolvimento da história procedente (?).


O filme inicia com um bocado de perguntas, propondo uma curiosa gênese e explorando bem a ideia do mito de Prometeu (crime e castigo), configurado na nave Prometheus, uma espécie de Olimpo onde a tripulação (feito deuses e homens) discute hierarquias. Ali, o menosprezado e servil androide David, acumulando mais conhecimento que os “companheiros” de viagem, faz as vezes de Prometeu, Epimeteu (criador de homens) e de Pandora (inocente fatal). Assim como, em contrapartida à ciência de Prometeu, a curiosidade de Pandora desencadeou todos os malefícios sobre a humanidade, o emblemático e “infantil”, David, provará sua superioridade sobre os humanos, ao decifrar os códigos que abrem a porta (caixa) que “guarda” segredos e uma força praticamente incontrolável. Se este compartimento estava lacrado para proteger quem estava dentro ou fora da sala, os terráqueos vão descobrir assim que se livrarem de incômodos aliens em fase de evolução. Os limites da ciência e da fé serão testados até o embate final, quando a lei do verbo retornar ao “por quê?” original.

Gostar ou não de Prometheus tem a ver com a capacidade do espectador, fã do Alien (Scott) “viajar na maionese” e descobrir o que é metáfora e o que é embromação (ou filosofia de botequim). Os símbolos (involuntários?) são muitos, mas a maioria leva a lugar nenhum (por enquanto...). O público que aprecia uma história mais profunda, com um roteiro desafiador ao estabelecido, vai ficar na vontade ou esperar por prováveis continuações. É que todo entusiasmo inicial, que dá asas à imaginação, acaba perdendo a corrente de ar em diálogos toscos e situações já vistas em outras produções.


Todavia, quem curte apenas a casca, com certeza vai gostar, porque o filme é muito bonito, alguns efeitos são impressionantes (holograma na pirâmide é de encher os olhos), mas se espera tremer nas bases, com o ataque dos alienígenas, pode se decepcionar. É que neste “prólogo” os bichos estão longe da crueldade daqueles que no futuro atacarão os tripulantes da Nostromo. Não é que sejam bonzinhos, só não convencem. Há, sem dúvida, sequencias pesadas (não de horror), mas elas não afligem tanto. Bom, talvez a cena do parto seja um pouco horripilante. O problema é que quando ocorrem os ataques, o mistério já foi levado pela tempestade de poeira estática.

Prometheus é praticamente o embate dos excelentes Fassbender e Rapace. Frutos da ciência e da fé, seus personagens, David e Elizabeth, são mais completos e complexos que os outros (quase figurantes). Ambos, assim como o replicante Roy Batty (Rutger Hauer), de Blade Runner (1982), são “criaturas” em busca do “criador”, mas por razões diferentes. A única trégua possível, em uma guerra (de egos), é quando sobrevivência de um depende do conhecimento do outro. Pelo menos na ficção, ciência (razão) e fé (esperança) dividem o mesmo “por quê?”. O restante do bom elenco, não tem culpa de seus personagens-clichês e do curto tempo em cena. Quem entrou mudo e saiu calado não deve ter reclamado, já que seu grito não seria ouvido no espaço.

Bom, dizem que no mundo real o que move o homem (espécie) e, por conseguinte, a ciência, são as perguntas e não as respostas, que poderão ser modificadas diante de um novo problema. Certo!? Mas, e no mundo da ficção, o que move um filme, a bilheteria e, por conseguinte, a franquia? Se a resposta (do criador) a um personagem (e ao público) é indiferente, por que perguntar? No caso de Prometheus a narrativa não disse a que veio, pois a questão que o motiva, além de continuar sem resposta, gerou novas questões, agora relacionadas à evolução dos Aliens. Estratégia interessante, mas perigosa, porque, dependendo da bilheteria, a história termina aqui, apesar da promessa final.

2 comentários:

  1. Sobre esse aí, acabei de escrever umas linhas pseudofilosóficas e negativas... dê uma espiada:

    arquivoscriticos.blogspot.com

    Abraço e até mais ler!

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    Respostas
    1. Olá, Ravel.
      Li o seu texto furioso.
      Acho que é por aí, também!

      Ah, gostei demais do seu artigo sobre Melancholia.
      Análise diferenciada, além da crítica tradicional
      e bem ponderada.

      Abração!

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