terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Crítica: Poder Sem Limites



O que você faria se descobrisse, de uma hora para outra, que tem superpoderes, tipo aqueles dos super-heróis das HQs e que, atualmente, infestam também os cinemas? Iria combater os marginais e ou (primeiramente) “dar um pau” naqueles seus “colegas” da escola (que te humilham) ou nos vizinhos “do mal” (que te esfolam)? Essa é a questão proposta pelo curioso Poder Sem Limites (Chronicle, EUA, RU, 2012).

Play: O filme de aventura e ação (desenfreada no final), com boas doses de melodrama e horror, é praticamente um filme de estreias: do diretor Josh Trank, do roteirista Max Landis e dos protagonistas Dane DeHaan, Alex Russell e Michael B. Jordan. A produção vem com aquela pegada “videogravação encontrada”, que consagrou A Bruxa de Blair, Atividade Paranormal e Cloverfield, mas que já está dando sinal de cansaço. Poder Sem Limites (ô titulozinho horroroso) é narrado tão somente do ponto de vista dos protagonistas, através de gravações digitais, às vezes interessantes e outras (me poupe!) impossíveis de acreditar, já que nem o mais geek adolescente, logado em redes sociais, é uma câmera em ação por 24 horas.


O roteiro é meio rasteiro, mas deve prender a atenção do público infantojuvenil que busca uma leitura diferenciada do fascinante (e catastrófico) mundo dos heróis. Andrew Detmer (Dane DeHaan) é um garoto introvertido e saco de pancadas em casa e na escola. Tem problemas com o pai alcoólatra, Richard Datmer (Michael Kelly), com a vizinhança delinquente e com alunos-clichês do colégio. A vida do adolescente não tem como ficar pior, já que não pode contar com o apoio da mãe (Bo Petersen), entrevada numa cama, esperando a morte chegar e não considera o seu primo Matt Garetty (Alex Russel), jovem intelectual que adora curtir a vida e citar filósofos (Schopenhauer, Platão), exatamente um amigo.

Certa noite, durante uma festa rave, Andrew, Matt e Steve Montgomery (Michael B. Jordan), o “rei da escola”, se aventuram por um buraco no chão, encontram “algo” bizarro e ganham poderes telecinéticos. A princípio eles se divertem movendo objetos, mas conforme vão dominando esses poderes, o perturbado Andrew começa a agir estranhamente, colocando em risco o segredo e a cumplicidade do trio. Apesar de superpoderosos (“grandes poderes exigem grandes responsabilidades”, lembra?) os três jovens não formam uma equipe (para livrar o mundo dos criminosos), nem estão preocupados com isso. Não são super-heróis, são apenas garotos deslumbrados com as suas novas habilidades, que precisam fortalecer os laços de uma amizade incipiente e confiar em si mesmos. Se para um adolescente comum descobrir o seu lugar no mundo já é difícil, para aquele com poderes extraordinários é fatal.


Poder Sem Limites guarda algum resquício de X-Men (principalmente de First Class), Heroes e Carrie (1976), mas tem uma lógica de entretenimento, digamos, própria. Na maior parte da trama a narrativa se dá através dos vídeos de Andrew, interrompida momentaneamente, por gravações feitas por Matt e Steve, pela blogueira (“o que está acontecendo?!”) Casey Letter (Ashley Hinshaw) e pela própria câmera (quarta parede), levitando em posição estratégica. Não é o 1984 (de George Orwell), mas a câmera (aqui) é o mais onipresente dos personagens. Essa constância, no entanto, ao mesmo tempo em que dá ritmo, fragmenta e torna a história um bocado cansativa. É que tudo acontece muito rápido e sem muita explicação, da descoberta do buraco misterioso ao conhecimento e evolução do poder dos adolescentes, das brincadeiras jocosas aos atos irracionais. 


Pause: O foco das “gravações” de Andrew não é o de exposição em redes sociais, mas, sim, de autoconhecimento. Ele filma a si mesmo, não apenas como arma de defesa, mas para compreender o porquê da autodefesa. A câmera é o seu divã, o seu diário crônico de somatizações. O porém é que, independente do ângulo que vê (o “inimigo”) e ou é visto (pelo “inimigo”), o seu monólogo nunca se transforma em diálogo. E aí, então, só resta ao verbo explodir e lançar farpas para todos os lados. No belíssimo filme sul-coreano O Homem Que Era O Super-Homem (2008), há uma frase: “Mesmo a força não abre portas grandes de ferro, mas uma pequena chave, sim. Todos nós temos essa chave dentro de nós... Para abrir a porta a um novo futuro.” A câmera de Andrew é, sem dúvidas, uma chave, o problema é que ele não consegue encontrar a “sua” porta.



Play: Poder Sem Limites tem alguns furos imperdoáveis e alguns desculpáveis (no roteiro), mesmo assim vale a pena dar uma olhada sem compromisso. A história é boa, os atores são ótimos, a direção é bacana e, para um filme que dizem ter custado míseros US$ 15 milhões, tem sequências espetaculares, como a do jogo de futebol nas nuvens ou das criações com Lego. Todavia, há uma cena (em especial) que vai ficar na cabeça de muita gente, tamanha a estética da maldade na sua realização: a da levitação de uma aranha (puro sadismo!). Ela é tão perturbadora quanto eficiente ao delinear a adolescente face de um terror anunciado. Vale ressaltar que o filme de Josh Trank tem nada a ver com o violentíssimo Kick-Ass (2010), de Matthew Vaughn, apesar da insanidade que o perpassa culminar numa batalha de acerto de contas típica das HQs. Aparentemente é o fim da história. Não há porque se pensar em continuidade. Mas em tempos de franquia..., nunca se sabe. Stop

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