domingo, 30 de outubro de 2011

Crítica: O Palhaço


Em 2006 o consagrado ator Selton Mello deu seus primeiros passos, na direção cinematográfica, com o belo curta-metragem Quando o Tempo Cair (uma pungente reflexão sobre a velhice), num bem vindo “resgate” do ator Jorge Loredo (o Zé Bonitinho). Em 2008 estreou na direção com o taciturno longa-metragem Feliz Natal, uma obra sombria e trágica, mas sem novidades, que vale mais por outro “resgate”: Darlene Glória. Agora ele retorna, dividindo o roteiro com Marcelo Vindicatto, em um filme mais luminoso e original, um delicioso drama cômico que, de tão ingênuo, beira o nonsense: O Palhaço.


Nesta nova produção, Selton Mello é Benjamin, um jovem artista que ajuda o pai Valdemar (Paulo José) a administrar o Circo Esperança e também divide com ele as glórias do picadeiro, quando encarnam a dupla de palhaços Pangaré e Puro Sangue. O circo é pequeno, cabe num caminhão. A trupe de artistas se arranja em uma kombi e uma caminhonete. Mas, além da subsistência dos mambembes, o que inquieta o jovem Benjamin é a dupla crise de identidade: civil (carrega apenas um velho Registro de Nascimento, como prova de sua existência), e profissional (ele é melancólico: “Eu faço o povo rir, mas quem vai me fazer rir?”). O que o impede comprar um ventilador ou mesmo acreditar na graça que faz. Apesar da boa acolhida aos artistas, nas pequenas cidades em que se apresentam, a vida errante e as dificuldades financeiras do circo, ajudam a agravar a sua depressão. No entanto, como não há dor que um belo amor não atenue, pensando na possibilidade de viver uma nova vida, Benjamin decide correr atrás de um doce sonho, para descobrir exatamente quem é.


Com alguma referência a Renato Aragão, Charles Chaplin, Wes Anderson, Fellini..., O Palhaço é uma história repleta de pequenas outras histórias poéticas, engraçadas, nostálgicas, que ganham vida e graça nas marcantes participações especiais de Moacyr Franco (prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Paulínia), no corpo do impagável Delegado Justo, Tonico Pereira, no papel dos mecânicos gêmeos Beto e Deto Papagaio, Jorge Loredo, como o piadista Nei, dono da loja de eletrodomésticos, e Luiz Pereira Neto (o Ferrugem, lembra dele?), faz um “brincalhão” atendente da Prefeitura. Na verdade todo elenco que, passa longe do elenquinho de novelinhas da Rede XXXX, está bem. Selton Mello e Paulo José, é claro, estão perfeitos. É difícil não reconhecer a vitalidade de Paulo e o carinho com que Mello o homenageia na referência ao antológico Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988).


O Palhaço é singelo, sincero e faz rir sem exagero. Ele emociona ao falar de pessoas reais, que remoem os seus pequenos problemas e continuam seguindo em frente com o seu espetáculo (embaixo ou fora das lonas), e ainda resgata a infância de muita gente que viveu no interior, onde o circo era a única diversão cultural possível. Resgata um tempo em que, talvez pareça enganoso pensar assim, viver era (bem) mais simples. Poético, o filme traz um Selton mais solto e tecnicamente muito bem acompanhado, seja na fotografia, com estudados enquadramentos, no apuro do figurino, na cuidadosa direção de arte ou (mesmo) na trilha sonora, com sua romântica breguice dos anos 1980, época em que se passa a narrativa. Neste terceiro trabalho Mello não perdeu a intensidade e parece estar bem a caminho (ou já ter chegado) aonde o público está.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Crítica: Contágio



Há um grande número de filmes tematizando algum tipo de vírus terrestre e ou alienígena. No vale-tudo do cinema sempre há alguém querendo contar (mais) uma história com alguma variação de humor e ou de terror. Se o agente infeccioso não está transformando cidadãos (de bem e de mal) em zumbis, está matando indiscriminadamente e criando a maior paranoia em uma e ou em outra situação. Aí, o medo acaba fazendo mais estragos que o próprio vírus, quer seja ele de origem animal, laboratorial, militar, alien e até mesmo digital.

Ficção literária ou cinematográfica (científica ou não) à parte, a verdade é que, na vida real, à simples menção de algum vírus, o pandemônio é geral. Em 2011 a bactéria E.coli (Escherichia coli) causou estragos comerciais na “União” Europeia e até mudou hábitos alimentares, em 2009 quem apavorou foi a Gripe Suína e em 2004/2005 a Influenza Aviária foi a gripe da vez. Ah, por falar em literatura, vale lembrar que o médico e escritor Robin Cook é um autor de best sellers (Contágio, Vírus, Febre, Coma) que explora as mais diversas doenças, num clima que mistura ciência medicinal, ética e um bocado de fantasia, para a felicidade dos seus leitores (não necessariamente hipocondríacos) chegados em histórias hospitalares de suspense. Algumas já foram adaptadas para o cinema e televisão.


Contágio (Contagion, EUA, 2011), de Steven Soderbergh, é um filme que, a despeito do tema central (vírus avassalador), se atém à fragilidade do ser humano. Baseado no roteiro de Scott Z. Burns, o drama de suspense não tem exatamente (e ou apenas) uma história. A trama começa com retorno da executiva Beth Emhoff (Gwyneth Paltrow), para Minneapolis, após viagem de negócios a Hong Kong. Dois dias depois ela e seu filho morrem sem que se saiba a causa mortis. Ao mesmo tempo surgem notícias de outras mortes idênticas em Tóquio, Chicago, Londres, Paris e Hong Kong. A classe médica acredita que o responsável por tantos óbitos é um vírus desconhecido e inicia-se, então, uma corrida para encontrar a cura.

Contágio traz um elenco estelar em uma narrativa repleta de personagens protagonistas (cada um aproveitando muito bem seus “15” minutos): Laurence Fishburne é o Dr. Ellis Cheever, o Vice-Diretor do CDC, responsável pela coordenação das pesquisas sobre o vírus; Kate Winslet, no corpo e alma da Dra. Erin Mears, é uma médica que trabalha junto aos infectados; Marion Cotillard, na pele da Dra. Leonora Orantes, é a pesquisadora da OMS que investiga a origem do vírus; Jude Law é o inquieto jornalista blogueiro Alan Krumwiede que, na busca da (sua) verdade e na publicação de matérias alarmantes, cria muita confusão entre os seus seguidores, o governo e a classe científica; Matt Damon é Mitch Emhoff, marido de Beth, a primeira vítima conhecida. O curioso é que nenhum personagem se destaca mais que o outro. Alguns entram e saem (até desaparecem) da trama sem maiores explicações. Assim, como se fosse coisa natural. 



No mundo cinematográfico o inimigo da hora é a China, com ou sem metáfora. O tema, sem dúvida, é sensacionalista e Soderbergh procura evitar os clichês espetaculosos do gênero. Porém, sempre um ou outro acaba deslizando para dentro do enredo, como a abnegação dos dedicados pesquisadores médicos (no Dia de Ação de Graças, Natal, Ano Novo), ou o bom pai que se sacrifica pela filha e ou ainda a desprotegida mulher amada... Nem por isso o filme fica menos frio ou menos intenso em sua narrativa. Excetuando o gentil Mitch e o falastrão Krumwiede, que dão uma certa humanidade à história, os outros personagens, com suas (até instrutivas) falas científicas (Não converse com ninguém. Não toque em ninguém. Fique longe das pessoas. Não toque o rosto. Lave as Mãos.) não causam qualquer empatia. Parecem estar além do próprio umbigo.

Contágio é uma ficção possível e (sendo americana) com um enaltecedor final provável. Em meio ao caos gerado pela pandemia há uma rápida “intriga” sobre quem ganha (indústria farmacêutica) com a desgraça alheia e ou tem o privilégio (americano) de encontrar e usufruir da vacina salvadora, e o dia a dia do cidadão comum que, pela incerteza da informação que recebe, entra em pânico, motivando uma reação em cadeia. Nada de novo, é verdade, a não ser a linguagem que apresenta vários pontos de vista sobre o mesmo assunto (vírus: origem e consequência). Em sua fragmentação há, também, uma história de amor (e apego) à vida e outra de selvageria, quando, na iminência da morte, o homem comum (ou instruído) justifica o seu egoísmo (e egocentrismo) em gestos que podem comprometer a sobrevivência de todos. A edição soderberghiana lhe dá um ritmo especial e só no final o espectador vai entender a contagem dos dias (na tela) e o que ocasionou o vírus. Não deixa de ser (mais) um filme-alerta que, em seu momento de medicina preventiva, (re)ensina ao público as noções básicas de higiene dentro e fora de casa.

Este, evidentemente, não é um programa indicado aos apreciadores das divertidas obras trash do catastrofista Roland Emmerich, mas pode agradar e até surpreender quem sempre se preocupa com um segundo diagnóstico, digo, opinião sobre vírus.



sábado, 22 de outubro de 2011

Crítica: Contra o Tempo


Filmes que tratam de viagem no tempo não são novidade e poucos fazem a diferença. Contra o Tempo (Source Code, EUA, 2011), a nova ficção científica do diretor Duncan Jones, tem uma boa produção, mas é difícil não relacioná-lo, entre outros, ao Déjà Vu (2006), filme de Tony Scott. Ambos têm terrorista (a ser detido), uma mulher (por quem o protagonista se apaixona), mensagens (tipo: estive aqui), um “herói cobaia”, indo e voltando no tempo, através de experimentos de alta tecnologia militar, tentando evitar a tragédia num navio (antes) e num trem (agora). 

Duncan estreou muito bem com o ótimo Lunar (Moon, 2009), que infelizmente não fez carreira nos cinemas brasileiros, saiu apenas em DVD, mas este seu Contra o Tempo parece meio apressado. O roteiro de Ben Ripley narra as desventuras do capitão Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) que, em nome da pátria, do governo e do militarismo, se vê obrigado a viajar no tempo para evitar um atentado terrorista. Para descobrir o responsável e evitar a tragédia, Stevens assume o corpo físico de um estranho e tem apenas (alguns) oito minutos para salvar vidas e (ainda) se rebelar e se apaixonar.


Contra o Tempo é um filme de ação e tensão contínuas que explora de forma interessante os mistérios da (vida e) morte cerebral, sem se preocupar com a anima. O bom da ficção científica é que, no campo da imaginação, tudo é possível e não há muito o que se questionar. Aceita-se ou não e ponto. Também porque, se começar a pensar muito a respeito, vai ter gente mergulhando no buraco de minhoca, subindo a escada transversal, apossando a mecânica quântica, para explicar todo e qualquer pré e pós conceito científico. O que dá assunto para muita discussão e filosofia de botequim, como foi o caso de Matrix.

Toda ficção que tematiza a viagem no tempo sabe o imbróglio em que se meteu e as consequências futuras, para o bem e ou para o mal. Em Contra o Tempo não é diferente e o seu final (piegas) talvez não agrade a todos. Para o espectador não acostumado aos filmes do gênero pode parecer curioso, em vez de cansativo, as mirabolantes idas e vindas de Colter, em busca do terrorista, em meio aos passageiros do trem, que nem imaginam quantas vezes seus desígnios ser repetirão. Uma situação já explorada exaustivamente em diversas séries televisivas americanas (até mesmo na divertida Supernatural), mas que ainda funciona, quando bem dirigida.


Contra o Tempo é um bom trabalho de Duncan Jones, mas não tem a mesma ousadia do excelente Lunar. Mesmo sendo mais comercial, demorou tanto para ser lançado por aqui que se acreditava sair, também, apenas em DVD. O filme tem dividido opiniões do público e da crítica, mas não há como negar que o jovem diretor, se não se deixar domar por Hollywood, tem um belo futuro.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Crítica: Transeunte


Transeunte (Brasil, 2010), de Eryk Rocha, é um doc-drama sobre um cidadão em trânsito em uma cidade em transe. A vida transformou Expedito (Fernando Bezerra) e a cidade do Rio de Janeiro. Ele, um aposentado de 65 anos, é quase puro silêncio em seu anonimato. Ela, quatrocentona, é toda ruídos. O Expedito é um homem solitário que passa o tempo que lhe sobra olhando, de seu apartamento, a cidade que se eleva, e na rua, o povo que se leva. O Rio é uma capital (in)diferente ao destino dos transeuntes. 



Com uma fotografia curiosa, em preto no branco, de Miguel Vassy, repleto de closes, detalhamentos faciais, registro de “coisas”, meio que tendência em filmes mais ou menos alternativos, Transeunte é um street movie para um público seleto, talvez mais seleto do que o público de Glauber Rocha, pai de Eryk. A narrativa convida o espectador a fazer uma caminhada de observação (que talvez já tenha feito e nem se dado conta), na companhia do monossilábico Expedido que, de posse de um radinho à pilha e fones de ouvido, passeia anônimo pela cidade, flagrando fragmentos de conversas de outros anônimos. 


Andar pelo Rio de Janeiro (e ou qualquer outra capital brasileira), hoje em dia, é uma aventura de risco. No entanto, enquanto transita de um lado para outro, sem compromisso ou pressa, se atentando a gestos, rugas e rusgas de estranhos, Expedido não demonstra qualquer temor, a que uma pessoa de sua idade está sujeita. A preocupação com a sua segurança, andando por ruelas escuras ou no meio do povo, fica por conta do publico já anestesiado pelas notícias de mau agouro televisivo. A cidade carioca de Eryk é uma cidade que parece desconhecer o medo de uma bala perdida ou do assalto saidinha de banco. É um Rio (possível?) de paz. Não há qualquer sinal de violência..., apenas solidão e anonimato até num sexo fugidio. Uma cidade que parece estacionada nos idos dos anos 1950. 


Baseado no roteiro de Manuela Dias e de Eryk Rocha, praticamente sem diálogos e com boa dose de “experimentalismo”, Transeunte é um filme inquietante que se projeta longe das neochanchadas brasileiras ou da cinematografia de ocasião. O distraído e ou apressado espectador nada pode fazer quanto ao seu ritmo e nem tão pouco antecipar o destino de Expedito que, como uma canção bossa nova insistindo em harmonizar o funk, vagueia, dono de si mesmo, mas não alheio ao mundo carioca que o cerca, virando construção ou cantoria no botequim que habita o seu caminho.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Crítica: Winter, O Golfinho



Winter, O Golfinho é um típico drama-terapia, inspirado em fatos reais, que conta (mais) uma história bacana sobre esperança e superação animal e (também) humana. Um prato cheio para os biólogos e psicoterapeutas. Não é o primeiro filme sobre personagens com alguma deficiência física e ou psicomotor, e, com certeza, não será o último. Um Sonho Possível (The Blind Side, 2009), dos mesmos produtores, até garantiu o Oscar à Sandra Bullock, em 2010.  

Dirigido por Charles Martin Smith, baseado no roteiro de Karen Janszen e Noam Dromi, é uma produção que pode ser vista sem sustos por toda a família que gosta de filmes que mexam com as suas emoções. A história é centrada em dois personagens: Sawyer (Nathan Gamble), um garoto introspectivo, com problemas de socialização familiar e escolar que, ao se relacionar com Winter, um golfinho fêmea que perdeu a cauda num acidente, acaba encontrando um novo sentido para a sua vida. Ao redor deles circulam Lorraine Nelson (Ashley Judd), mãe de Sawyer, o Dr. Clay Haskett (Harry Connick Jr.), que administra o Clearwater Marine Hospital, e sua filha Hazel (Cozi Zuehlsdorff), e o Dr. Cameron McCarthy (Morgan Freeman), médico especialista em prótese que tem a difícil missão de criar uma nova cauda para Winter.


A narrativa, que exercita uma pegada no “estilo” documentário mundo animal, acentua os dramas paralelos (falência do Hospital e soldados mutilados), para destacar a importância das pesquisas médicas na área de próteses e de terapias alternativas. A sua trama é simples e, clichês de ocasião à parte, funciona bem como filme-autoajuda ao demonstrar que sempre haverá alguém com um problema maior que o seu e que a solução para todas as aflições está no altruísmo. Convenhamos que o amor universal não é o maior dos sentimentos humanos, mas os americanos tratam a questão com tanta convicção que o espectador acaba aceitando e, até acreditando que o mundo (dos homens) tem salvação. Pelo menos na ficção.


Apoiado numa trilha sonora que provoca emoções até no mais frio dos espectadores, Winter, O Golfinho (Dolphin Tale, EUA, 2011), pode não ser um grande filme, mas cumpre o seu papel de utilidade pública (intencional ou não) ao denunciar o desrespeito dos pescadores com a fauna marinha, vitimando muitos animais. O elenco, que traz ainda Kris Kristofferson, como Reed, o pai de Clay, é irregular, mas não chega a comprometer a produção cujas estrelas (por uma boa causa) são Winter e Sawyer

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Crítica: Os Três Mosqueteiros


O romance de aventura capa-e-espada Os Três Mosqueteiros, escrito em 1844, por Alexandre Dumas (1802 - 1870), que teve duas continuações: Vinte anos depois (1845) e O Visconde de Bagelonne (1847) - do qual faz parte O Homem Com a Máscara de Ferro, ganha uma inimaginável e grandiloquente versão cinematográfica. A divertida obra literária, com mais de 20 adaptações para o cinema, diversas animações e séries, volta às telas numa produção bem humorada, usando e abusando do melhor que a tecnologia pode oferecer. 


A história clássica fala do intrépido adolescente D’Artaghan (Logan Lerman), que deseja fazer parte da guarda palaciana e ruma a Paris onde, literalmente, acaba esbarrando nos “inseparáveis” três mosqueteiros: Athos (Matthew Macfadyen), Aramis (Luke Evans), Porthos (Ray Stevenson), e provocando um combate com soldados do malévolo Cardeal Richelieu (Christoph Waltz). Finda a luta, em vez de punição, ele é “premiado” e passa a servir o inseguro e fútil Rei Luis (Freddie Fox), que está sempre preocupado com a renovação do seu guarda-roupa. Em pouco tempo o intrépido garoto vai conhecer a graciosa Constance (Gabriella Wilde) e, na companhia dos novos amigos, enfrentar o “cão de guarda” Rochefort (Mads Mikkelsen), o oportunista e arrogante Duque de Buckingham (Orlando Bloom) e a bela espiã-dupla Milady de Winter (Milla Jovovich), capaz de abalar as estruturas da França, da Inglaterra, de Athos e do espectador desacompanhado. 


Os Três Mosqueteiros (The Three Musketeers, Alemanha/França/Reino Unido, 2011) dirigido por Paul W.S. Anderson, a partir do roteiro de Andrew Davies e Alex Litvak, (como é usual) mantém a trama central da obra de Dumas, e toma alguma liberdade (mudando identidades civis, ordem das intrigas políticas e românticas, traições, espionagem, furtos), fazendo a narrativa ganhar novos rumos na terra e no céu. Juvenil, e com boa dose de ingenuidade nas piadas, o filme recupera o frescor perdido de Os Piratas do Caribe, numa aventura repleta de personagens divertidos e humanos (?) em sua vilania ou heroísmo. 


A riquíssima produção enche os olhos do espectador e também lhe tira o fôlego, tamanha a beleza cenográfica, figurinos e efeitos especiais capitaneados por ótimo 3D. É provável que grande parte do público, que se assustou com o (coerente) sanguinolento Conan, note (positiva ou negativamente) a falta de sangue, violência explícita, erotismo, mas vale (re)lembrar que esta (re)leitura é infanto-juvenil. A suavização da obra de Dumas (que é baseada em personagens históricos), em nada tira a graça desta suntuosa produção fantasiosa que ensaia a continuidade (com o Cerco de La Rochelle), parecendo querer contar a história completa.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Crítica: Meu País


Meu País, longa de estreia de André Ristum, ao contrário do que possa sugerir o título (que tanto pode aguçar a curiosidade e ou afastar de vez o espectador) não tem nenhuma conotação sócio-política (sequer fictícia) relacionada ao Brasil. A sua trama gira em torno de Marcos (Rodrigo Santoro) um empresário que mora na Itália e raramente se comunica com a sua família brasileira, o pai Armando (Paulo José) e o irmão Tiago (Cauã Reymond). Entretanto, com a morte do pai ele se vê obrigado a voltar ao seu país de origem, para colocar ordem nos negócios da família, e se depara com um irmão perdulário e um imbróglio complicado: Manuela (Débora Falabella), uma irmã (com deficiência intelectual), que não sabia existir e que vive internada numa Clínica. 

Recentemente premiado no 44°. Festival de Cinema de Brasília do Cinema Brasileiro: diretor (André Ristum), ator (Rodrigo Santoro), montagem (Paulo Sacramento), trilha sonora (Patrick de Jongh) e Juri Popular, Meu País é um drama familiar intenso e idílico, cuja concepção lembra o cinema gaúcho e italiano. Talvez pelo distanciamento dos personagens (frios) e seus dramas familiares, que estão mais próximos da literatura do que da novela (costumeira no cinema). Apesar do bom ritmo narrativo e da curiosa história, não há clima para o envolvimento do espectador que (também) não se reconhece na tela. É com se ele estivesse passando por algum lugar e ouvisse pedaços de um relato, sem muito detalhamento, e captasse apenas a essência do que esta sendo dito. O que pode ser melhor que a prosa inteira. Ou um fiasco. 


Na trama proposta pelo roteiro de Ristum, Marco Dutra e Octavio Scopelliti, o público tem pouca ou nenhuma referência sobre o comportamento dos personagens, e sairá da sala sem nenhuma resposta à sua dezena de por quês. É claro que poderá conjecturar durante todo o filme, por conta de um olhar, gesto e ou sequencia intempestiva, e concluir a história como quiser. Porém, num enredo (econômico) que só tem o meio, ele terá que conceber um princípio e um fim. O que não deixa de ser interessante para alguns espectadores, mas incômodo para a maioria que gosta de tudo explicadinho. 

Segundo André Ristum, o “Meu País” do título refere-se ao “país interior” de Marcos. Ou seja, tem mais a ver com sentimentos familiares do que com ufanismo (para o bem ou para o mal). Se o país físico (chão) confunde-se com o país afetivo (família), Marcos deve ser um sem-pátria. A ternura (se muito) só lhe é possível através da deficiência da irmã e da eficiência da esposa Giulia (Anita Caprioli), que o acompanha, mas se sente estrangeira nos braços do marido que se sente estrangeiro no seio da (própria) família que vive de aparências. Egoístas e egocêntricos, cada irmão é “um país” em vias de explosão, enquanto Manuela é um “mundo novo”, um estorvo que pode acirrar a disputa pelo “território alheio”, ou ser o “país neutro” da conciliação. 


O ponto em comum, entre os três, é a identidade perdida de cada um. A linha entre o “cuidar” e o “amar” é tênue e “cuidar” não que dizer, necessariamente, “amar”. Os irmão sabem que afeto (perdido) se (re)conquista, mas não se obriga. Partir ou ficar pode ser muito mais que uma metáfora. O que lembra uma antiga canção: O amor é o meu país (Ivan Lins / Ronaldo Monteiro De Souza), de 1970: Eu queria, eu queria, eu queria/ Um segundo lá no fundo de você/ Eu queria me perder, ah! me perdoa/ Porque eu ando a toa sem chegar/ (...) Quão mais longe se torna o cais, lindo é voltar/ É difícil meu caminhar, mas vou tentar/ Não importa qual seja a dor,/ Nem as pedras que eu vou pisar/ Não me importo se é pra chegar/ Eu sei, eu sei/ De você fiz o meu país/ Vestindo, festa e final feliz/ (...) Eu vi, eu vi/ O amor/ É o meu país/ (...) Sim, eu vi/ O amor/ É o meu país. 

O diferencial de Meu País está no seu foco narrativo, que conta com direção segura e um elenco (contido) eficiente. O grande destaque, sem dúvida, é a excelente atuação de Rodrigo Santoro (que vem surpreendendo desde o inquietante O Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky e o belíssimo Abril Despedaçado, de Walter Salles, ambos de 2001) e a marcante participação de Paulo José. Não é um filme fácil, mas se deixa ver com um certo prazer.

sábado, 8 de outubro de 2011

Crítica: Melancolia



Lars Von Trier e sua obra despertam nos cinéfilos, e no público ocasional, sentimentos de amor e ou de ódio, cujo grau de intensidade varia conforme a obra em questão ou o nível de compreensão. Não há meio termo. Com Melancolia não é diferente. Muitos espectadores resistem até o final, outros se ausentam ainda na colisão dos personagens (na primeira parte), enquanto os cientistas questionam se a colisão de dois mundos é um fato iminente ou mera ilusão de ótica. Há que se preferir a ficção ou caos real. 

Melancolia (Melancholia, Dinamarca, 2011), com roteiro e direção de Lars Von Trier, é uma ficção científica com conteúdo trágico, como convém a uma boa ficção que se propõe à leitura do comportamento humano diante do inesperado e do fracasso material e imaterial. Se a vida é contínua, geração após geração, os perigos que a cercam, também! Sejam eles de ordem familiar, religiosa ou científica. Dividido em duas partes, com um prólogo de grande beleza (comparável ao entreato da Criação do Universo, no magistral A Árvore da Vida, de Terrence Malick) o drama narra as expectativas de duas irmãs, Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg), possivelmente vivendo seus últimos dias, à espera do fim do mundo, que se dará com o provável choque entre os planetas Terra e Melancholia. 


Na Terra, durante a atribulada “festa” de casamento de Justine e Michael (Alexander Skarsgård), na suntuosa mansão do casal John (Kiefer Sutherland) e Claire, a intromissão dos pais da noiva, Gaby (Charlotte Rampling), e Dexter (John Hurt), acaba provocando um desconforto geral. No Céu, o Melancolia brilha e, tal qual O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel, influencia a todos, despertando estranhos (e infames) sentimentos nos convidados que, aos poucos, abandonam a casa que “aprisionará” Justine, Claire, John e o filho do casal, Leo (Cameron Spurr), até a derradeira hora fatídica. 

O Apocalipse revela o flagelo oculto no planeta e também a fraqueza do homem. Revelar-se (fora de hora) pode não trazer a paz de espírito desejada. Desesperar-se, também não. Do metódico casamento ao encontro dos planetas, a vida do quarteto sofre um revés, desvelando os medos de cada um em busca (ou fuga) da razão. Enquanto a passagem do Melancolia encanta e aguça a curiosidade do garoto, a sua atração apavora, angustia os adultos. O novo é um enigma a ser decifrado a cada dia, assim como a morte a ser domada a cada sono. Porém, quando o tempo urge e a desordem fende famílias e tradições, questões do ser e não e ser, e ou de onde para onde, são irrelevantes. 


Melancolia, o filme, não de fácil absorção. Apesar de deslumbrante, a sua narrativa é facetada e incômoda. É, sem dúvida, mais “linear” que A Árvore da Vida, porém mais denso. Ambos são metafilmes (obras extremamente pessoais) que buscam o porquê da vida e da morte e da onipresente ausência de Deus. Cabe ao espectador assimilar ou não o discurso de que a vida (segundo Malick) é tão complexa quanto a morte (segundo Trier). Sem a cumplicidade do público, com a sua leitura muito particular, o discurso é vazio. 

Com excelência técnica e performances irretocáveis (com destaque a Charlotte Gainsbourg e Kirsten Dunst), esta ficção científica, com seu viés psicológico, é um típico filme ruminante. Por mais que o espectador ignore, uma fala, uma sequência, uma imagem sempre retorna à mente, para maiores considerações individuais e ou coletivas.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Crítica: O Zelador Animal


Que os animais (dito irracionais) se comunicam com os humanos (dito racionais), desde que partilham o mundo real e o do cinema, não é novidade alguma. Mexe e vira aparece uma teoria nova sobre a forma de “conversação” entre as duas espécies, na tela dos homens, e a razão da “conversação” na tela do cinema. A intenção em pauta de O Zelador Animal (Zookeeper, EUA, 2011) é zooilógica. Ou seja, assim é, se lhe parece que é, e ponto. 

A nova “comédia dramática” do mediano diretor Frank Coraci (depois da água, da música, do turismo e do controle remoto) explora os “fundamentos” da psicologia sexual animal para salvar a vida amorosa de um zelador de zoológico. Escrito a catorze mãos (quatro no argumento e dez no roteiro) a trama-clichê é de uma bobagem romântica ímpar. Uma prova (inexorável?) de que quantidade não quer, necessariamente, dizer qualidade. 


A narrativa rasteira trata do cotidiano de Griffin Keyes (Kevin James), o zelador (panaca) do Zoológico Franklin Park, que se dá muito bem com os animais aprisionados, mas não tem sorte com Stephanie (Leslie Bibb), a garota (basbaque) dos seus sonhos. Um dia revê o frustrado amor do seu passado e se dá conta de que ainda a ama. Mas, temendo uma nova rejeição, não se aproxima. Enquanto busca uma saída, descobre que os seus amigos enjaulados falam e, melhor, querem ajudá-lo a reconquistar a sua destemperada paixão, transformando-o num macho alfa. No desespero, Griffin resolve dar ouvidos aos conselhos animalescos da bicharada e a confusão está armada. Para sair da jaula apertada em que se meteu, por conta da sua paixonite aguda, só vai poder contar com a colaboração da veterinária Kate (Rosario Dawson). 

O Zelador Animal lança a rede para todos os lados, na tentativa de apanhar algum tipo de espectador. Os distraídos (de qualquer idade) que se deixarem prender verão uma produção insossa onde, se muito, salva-se uma ou outra sequência animal. Nada surpreendente, já que o tema (bicho versus gente) é batido até mesmo em desenho animado. Espera-se em vão que o humor apareça, que a graça aconteça, mas nem tropegamente ele dá as caras. A comédia carece de ritmo, de personagens (e performances) convincentes, de um roteiro, já que o argumento não é lá essas coisas. Porém (nunca é demais repetir), quem gosta de filme previsível, edificante, com clichê jaula-a-jaula, amor cego e outras bobagens tradicionais em um filme-família americano, vai se esbaldar (de sono!).

Pré-Estreia: Atividade Paranormal 3



Tweet decidirá quem no mundo será o primeiro a assistir Atividade Paranormal 3.
  
A Paramount Pictures lança, pela primeira vez, a promoção global “Tweet para assistir primeiro”, em 18 de outubro de 2011, três dias antes da sua estreia global, o esperado 3°. filme da franquia de suspense.

O pré-lançamento de Atividade Paranormal 3 acontecerá exclusivamente em 20 cidades, onde a maioria dos fãs participar da ação “Tweet para assistir primeiro”. A campanha se inicia hoje e está aberta para os fãs de todo o mundo. Para votar, basta acessar www.atividadeparanormal3.com.br e selecionar a sua cidade, em um mapa global que servirá também de ponto de entrada para a criação de um tweet, com um conjunto especial de hash tags que conectam diretamente com o Twitter. Quando o tweet é publicado, ele conta como um voto. Um quadro de liderança mostrará os 20 principais mercados globais em tempo real.

A competição “Tweet para assistir primeiro” termina na quinta-feira 13 de outubro de 2011, às 19h59 (Horário de Brasília). As 20 primeiras cidades serão anunciadas no dia seguinte.

O apoio dado a esta franquia, pela comunidade on-line, é fenomenal. Novamente procuramos recompensá-la, por este apoio, oferecendo-lhe a chance de assistir o filme primeiro, desta vez expandindo nosso alcance de forma global”, disse Rob Moore, executivo da Paramount Pictures.

Atividade Paranormal 3 é uma produção de Jason Blum, Oren Peli e Steven Schneider, com direção de Henry Joost e Ariel Schulman, a partir de um roteiro de Christopher Landon. 
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