terça-feira, 20 de setembro de 2011

Crítica: Missão Madrinha de Casamento




Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, EUA, 2011), dirigido por Paul Feig, com roteiro de Kristen Wiig e Annie Mumolo, é a clara demonstração de como uma boa história pode ser deturpada pelo imediatismo, na exploração desenfreada do mix adolescência retardada e escatologia, o novo filão milionário da indústria cinematográfica norte-americana que também está fazendo escola no Brasil. 

A narrativa curiosa (apesar de pouco original) acompanha os passos de Annie (Kristen Wiig), uma mulher frustrada com a sua vida amorosa e profissional, que é convidada por Lillian (Maya Rudolph), um amiga de infância, para ser a Dama de Honra do seu casamento. Uma função que seria fácil se, para organizar a festa, não fosse preciso conviver com quatro madrinhas de personalidades distintas: Megan (Melissa McCarthy), Rita (Wendi McLendon-Covey), Becca (Ellie Kemper) e a onipresente Helen (Rose Byrne), rica, bonita, bem situada, mulher do patrão do noivo de Lillian, a quem considera a sua melhor nova amiga. Com tanta gente dando palpites, o entrosamento destas novas conhecidas não será fácil e vai por em xeque o valor da amizade. O bom é que elas vão economizar uma grana com psicoterapeuta.


Missão Madrinha de Casamento tem umas sacadas legais e elenco para uma deliciosa comédia de costumes, com pinceladas dramáticas e românticas. Porém, promete mais do que oferece. Meio que um Clube da Luluzinha, entre uma discussão e outra, as personagens, na faixa dos 30 e 40 anos, falam do sexo do homem (como se fosse um órgão alienígena) e de sexo com homem (como se fosse uma tortura), de casamento e filhos (como se fosse um suplício). A receita é boa, o problema está na mistura dos ingredientes, que acaba desandando e deixando o bolo com cara de broa seca. 

Não acreditando na trama, que aborda a crise de identidade e de relacionamento (entre mulheres e mulheres e mulheres e homens), os realizadores apelaram para o que o cinema americano tem apresentado de pior, mas que o público e grande parte da crítica adoram: “piadas” escatológicas, fétidas, em quantidade suficiente para cegar e ensurdecer os incautos. E aí, haja caco. Sobrou até para uma indigesta depreciação da comida brasileira, numa sequência apelativa que começa no estacionamento de um restaurante chicano, travestido de brasileiro: Churras Chi, cujos atendentes falam espanhol (igual que nosotros en Brazil), e vai terminar constrangedoramente no hall e no banheiro de uma butique especializada em roupas de casamento, e na rua que passa em frente. Se contar o espectador não vai acreditar. Em todo caso, para evitar efeitos colaterais, é melhor esquecer a pipoca e o refrigerante. A cena é de matar de inveja os realizadores de Se Beber Não Case e outra babas do gênero. 


Missão Madrinha de Casamento até começa bem, mas escorrega no meio e decepciona no fim, quando todas as arestas são aparadas, em nome da tradição (bíblica), família (piegas) e patrimônio (brega). É claro que não poderia ser diferente, afinal trata-se da cultura estadunidense para exportação. Talvez, se fosse dirigida por uma mulher, valorizando as sutilezas que propõem o argumento, a pretensa ousadia da narrativa não terminasse tão careta e banhada no mais puro arroz de noiva. Enfim, é uma produção basicamente direcionada ao público feminino (não muito exigente). Mas, por conta do besteirol de última hora, pode agradar a alguns marmanjos desocupados.

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