sábado, 27 de agosto de 2011

Crítica: O Homem do Futuro



Ufa! Finalmente estreia mais um filme brasileiro capaz de provar que, para entreter o espectador, não é preciso baixar o nível e nem subestimar o público que tem se deixado envolver pela nova e avassaladora onda de pornochanchadas que tomou conta dos cinemas.

O Homem do Futuro, escrito e dirigido por Claudio Torres, traz Wagner Moura, na pele de Zero, um cientista infeliz, egocêntrico e rancoroso que, por conta de um acidente, volta no tempo e decide acertar as contas com o seu passado. O que ele não contava é que, ao evitar uma humilhação pública, numa festa estudantil, onde se encontram a sua grande paixão, Helena (Alinne Morais), o namorado dela, Ricardo (Gabriel Braga Nunes), e a sua grande amiga, Sandra (Maria Luisa Mendonça), alteraria o futuro de todos. Como se vê, um tema que, com algumas variantes, ainda serve de inspiração para autores em todo o mundo. O melhor exemplo é o antológico e original conto Um Som de Trovão (1952), do mestre Ray Bradbury, já adaptado para HQs, TV e cinema. Mas, será que é possível trapacear o Tempo para, digamos, tirar proveito próprio? No final há uma resposta, se ela vai satisfazer a todos já é outra viagem.


O Homem do Futuro é repleto de referências cinematográficas assumidas pelo autor: “Usei referências de filmes que gosto de assistir e que assisti na minha infância. É uma junção dos seriados que passavam nas tardes de quando era criança como o Túnel do Tempo, Perdido no Espaço e Jornada nas Estrelas. Depois vieram De Volta para o Futuro 1, 2, 3; O Exterminador do Futuro 1, 2, 3 e 4; Peggy Sue; O Efeito Borboleta; A Dona da História de Daniel Filho e A Máquina do João Falcão. É possível perceber para quem tem mais de 40 anos que o figurino do Wagner é uma mistura de Buck Rogers com o professor Robinson de Perdido no Espaço, já a Alinne tem o figurino inspirado em Barbarela.”.  A boa dosagem na mistura de comédia, drama, romance e ficção científica, resultou num filme juvenil, cheio de reviravolta amorosa e profissional, bem ao gosto do público jovem. Quer dizer, desde que não espere a pancadaria típica americana em filmes do gênero. Aqui a ideia é outra, talvez mais “civilizada”.


Quem se acostumou com a linguagem de baixo calão, das recentes comédias brasileiras e americanas, pode estranhar a falta de piadas escatológicas, mas verá que é possível fazer um filme divertido e sem apelações. A produção surpreende com bom roteiro e ótimos efeitos especiais. Porém, decepciona com uma desastrosa continuidade (típica de continuísta de novelas da Rede XXXXX) e uma trilha sonora instrumental acidental (é isso mesmo, acidental!) horrorosa, irritantemente presente nos momentos dramáticos, cortando todo o clima das sequências. Infelizmente, trilha sonora de gosto duvidoso não é falha isolada nos filmes brasileiros (e americanos). O espectador que assistiu ao VIPs, de Toniko Melo, talvez encontre pontos em comum com a performance de Wagner Moura cantando e encantando na pele dos vários personagens criados por Marcelo da Rocha, já que agora, em O Homem do Futuro, ele “é” um, digamos, amalucado triunvirato. Esta aí um ator que realmente se multiplica!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Crítica: O Planeta dos Macacos - A Origem



Não sou muito fã de refilmagens. São raras as que valem a pena serem vistas. E mais raros os filmes que merecem tal “privilégio”. Mas reconheço que O Planeta dos Macacos - A Origem (Rise Of The Planet Of The Apes, EUA, 2011) saiu muito melhor que a encomenda.

Quem conhece a versão original de O Planeta dos Macacos (1968), e principalmente as sequencias, com toda conotação sociopolítica: De Volta ao Planeta dos Macacos (1970), Fuga do Planeta dos Macacos (1971), A Conquista do Planeta dos Macacos (1972) e Batalha do Planeta dos Macacos (1973), feitas a toque de caixa e com pouquíssimo dinheiro (conforme os Comentários sobre a franquia, no Disco 2 da Edição Especial de 35º Aniversário), vai se surpreender com esta, digamos, releitura da ideia primordial.


O Planeta dos Macacos - A Origem, na verdade, trata-se de uma origem alternativa aos fatos apresentados em A Conquista do Planeta dos Macacos e Batalha do Planeta dos Macacos. Ou seja, Cesar (Andy Serkis) não é filho de pais fugitivos do futuro, mas de chimpanzés capturados na África, para serem cobaias de laboratório, nos dias de hoje. O filme dirigido por Rupert Wyatt faz algumas referências ao O Planeta dos Macacos (1968), que, por sua vez, tomou suas liberdades na adaptação do livro La Planète Des Singles (1963), de Pierre Boulle, mas são apenas homenagens divertidas (e invertidas). E também passa longe da enigmática versão de Tim Burton, de 2001.

O roteiro do casal Rick Jaffa e Amanda Silver, situa a trama na cidade americana de São Francisco. Will Rodman (James Franco) é um cientista a serviço da indústria farmacêutica Gen-Sys, onde desenvolve pesquisa genética na cura do Mal de Alzheimer, doença que aflige o seu pai, Charles (John Lithgow). Por conta de um acidente com os símios usados no experimento, Will se vê obrigado a criar o filho de uma chimpanzé. Enquanto cresce e toma consciência do mundo ao seu redor, Cesar, com inteligência superior à de muitos humanos, desenvolve profundos laços afetivos com Will e com Charles. Nesta convivência familiar de dependência, cooperação e proteção, o primata vai conhecer o lado bom e o lado cruel dos homens, que acabará influindo na hora de tomar uma decisão que irá mudar o seu destino e o de toda a humanidade.


A narrativa de O Planeta dos Macacos - A Origem dosa muito bem as cenas de ação e drama. A história, bem contada e envolvente, abre caminho para reflexão sobre a ética científica no desenvolvimento da ciência e na manipulação de “animais de laboratório”. Por mais que os espectadores mais velhos pensem que conhecem a trama, ela traz um sabor de novidade. Algumas sequências apavoram, mas outras são de grande ternura, de uma beleza estonteante, como aquela em que Will, Charles e Cesar fazem uma refeição, e outra onde Cesar sai de casa para proteger Charles dos desaforos de um vizinho. São de arrepiar! A emoção que vai tomar conta do público e fazer muita gente lacrimejar é por conta da performance de dois grandes atores, um de carne e osso, John Lithgow, com seu personagem portador de Alzheimer, e o ator de captura Andy Serkis (responsável por dar vida anteriormente ao Gollum, de Senhor dos Anéis, e ao King Kong), na criação do expressivo e inesquecível Cesar. James Franco, é claro, também contribui para a qualidade da fita.

Uma vez que esta leitura do mundo dos macacos e homens é diferente, não há como saber o que acontecerá na continuidade da franquia que criou um início, quando a história real começa pelo fim. É esperar para ver. Por enquanto são apenas macacos “de volta para a casa”, se (re)organizando num Parque de Sequoias, nos redores da cidade. Se mantiver a mesma qualidade técnica, já valerá uma olhadela.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Crítica: Amor A Toda Prova


Como criatividade não é o forte dos tituladores brasileiros e pouca gente se lembra de Amor A Toda Prova (Unconditional Love, EUA, 2002), de P. J. Hogan, uma “nova” comédia americana, com o mesmo título em português, estreia para a felicidade dos românticos de plantão que acreditam na tradicional família e no amor filial acima de tudo.

A história (é claro!) não é das mais originais. Cal Weaver (Steve Carell) é um cara certinho que tem a vida que pediu a seu Deus: uma bela esposa Emily (Julianne Moore), um bom emprego, boa casa, filhos e amigos adoráveis. Porém, como dizem que até mesmo o que é sólido desmancha no ar, o seu mundo perfeito se espatifa quando Emily pede o divórcio e diz que o traiu. Cal vira um choramingas no bar da cidade, onde acaba conhecendo o galanteador Jacob Palmer (Ryan Gosling). O bon vivant que pega todas e não repete mulheres, decide ajudá-lo a esquecer o passado e a descobrir os prazeres de uma nova vida. Como a comédia é romântica, a temporada para encontrar um amor e muita confusão está aberta também para o filho adolescente de Cal e para um grupo de jovens advogados.


Amor A Toda Prova (Crazy, Stupid, Love, EUA, 2011), dirigido por Glenn Ficarra e John Requa, com roteiro de Dan Fogelman, é mais uma comédia clichê (não falta nem a dramática chuva de ocasião!), daquelas que a gente sabe como vai se desenvolver e terminar. Mas, não sei se pelo elenco ou se por evitar a baixaria “cômica” dos recentes filmes do gênero, não deixa de ser simpática e até divertida. Parece incrível, mas ela não tem piadas escatológicas e há apenas duas ou três insinuações sexuais que, aqui, fazem parte do contexto. No entanto, é bom que se diga que a trama é um tanto quanto machista. As aulas de conquista e sedução de Jacob a Cal, incluindo a sua incansável caça de mulheres, sempre disponíveis para o romance ou sexo ocasional, pode incomodar (?) o público feminino. Ou não!


A produção é salpicada de boas canções românticas e tem um momento arrebatador na homenagem a Patrick Swayze (1952-2009) e Jennifer Grey, na recriação de uma cena famosa de Dirty Dancing - Ritmo Quente (1987), de Emile Ardolino. Porém, a narrativa que tem uns arroubos de moderninha, infelizmente, fica apenas na querença da ousadia. No final, quando a tradição, a família e o patrimônio falam mais alto, ela se mostra bem caretinha. Na atual safra de comédias de costumes (macho-falocratas) a impressão é a de que as narrativas querem propalar que não existe vida inteligente fora do casamento tradicional. Pode haver sexo e até prazer, mas, felicidade, não! 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Crítica: Lanterna Verde


Foi tanto disse me disse sobre a aventura cinematográfica do Lanterna Verde, que deve ter apavorado meio mundo dos fãs de HQ e do estranho personagem do Anel Verde e sua Lanterna Maravilhosa, digo, Poderosa. A boa notícia é que o filme é tão ágil e divertido que o espectador nem tem tempo de achar o filme ruim.

Todo leitor de quadrinhos já aprendeu que não adianta cobrar coerência nas adaptações de histórias de super-heróis para o cinema. O tempo e espaço de ambas são completamente diferentes. Também porque é impossível tratar de todas as variantes (morte, ressurreição, renascimento, recomeço etc) dos personagens nas histórias das revistas. No cinema, o roteirista pega (ou inventa) uma fase que acha mais interessante, do círculo vicioso do herói, e vai em frente. Já imaginou quantas horas seriam necessárias para falar de todos os sujeitos que já foram Capitão América e Lanterna Verde? Antes me incomodava com essa “falha” que acaba transformando o filme numa espécie de resumão biográfico do super-herói da HQ. Agora penso que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa e fim. Para protagonizar este Lanterna Verde, o escolhido foi o 2º. e (ao lado de Guy Gardner) o mais famoso Lanterna, o Hal Jordan. Se as reviravoltas que criaram para ele, nos quadrinhos, acontecerão ou não, na sequência da franquia, é outra história.


Lanterna Verde (Green Lantern, EUA, 2011), dirigido por Martin Campbell, é uma produção que pode ser vista como um bom filme do personagem (para quem o conhece) e ou como um bom filme de ficção científica (para quem nunca ouviu falar dele). Tem ação, aventura, efeitos especiais fantásticos e muitas piadas legais. O roteiro é simples, básico, digerível e sem embromação. Um ser maligno, conhecido como Parallax, está destruindo mundos e civilizações. A Tropa dos Lanternas Verdes, sabe que o inimigo tem o poder de incitar o medo e deixar qualquer um vulnerável. Os guardiões universais, também têm uma arma poderosa: um anel que acumula uma energia descomunal. No entanto estão perdendo a batalha. Eles precisam de combatentes, mas somente o anel é capaz de encontrá-los. Na Terra, o escolhido é o piloto de avião Hal Jordan (Ryan Reynolds), um sujeito inseguro, porém competente. Ele não é má pessoa, mas é meio arrogante e até imaturo. Ou seja, um cara normal com qualidade e defeitos como qualquer humano. Ou quase.


Lanterna Verde é um filme muito bem humorado. O Lanterna Verde, de Reynolds, é juvenil, brincalhão e irresponsável como o Tocha Humana (Chris Evans) do filme Quarteto Fantástico (2005). Ambos se divertem com a ideia de ser um herói e as novas habilidades são como um brinquedo novo nas mãos de uma criança. As cenas das minúsculas máscaras de Hal/Lanterna são ótimas. Elas me lembraram um dos melhores e mais engraçados episódios do seriado televisivo Lois and Clark: As Novas Aventuras do Superman (1993/1997) em que um sarcástico vilão, viajante do tempo, botando e tirando os óculos, diz a Lois Lane (Teri Hatcher) que ela é a mulher mais burra do universo por não perceber que Clark Kent é o Superman (Dean Cain) sem os óculos. Lois fica indignada por ter sido enganada e fala para Clark/Superman: “Quando você iria me contar? Quando as crianças estivessem voando pela casa?” O capítulo só é comparável ao seriado Batman e Robin, em que todos os vilões tentavam descobrir a identidade secreta dos heróis Batman/Bruce Waine (Adam West) e Robin/Burt Ward (Dick Grayson). Como se precisasse. A desconstrução de um super-herói (por trás dos óculos e ou da máscara) dá uma certa humanidade aos personagens. Os Watchmen que o digam! Ah, se não me engano, o Quarteto Fantástico é o único grupo de super-heróis responsabilizado pela destruição do patrimônio público e privado, por conta dos seus embates com os vilões.



O Lanterna Verde não é didático e nem fica resenhando desnecessariamente cada personagem. Qualquer espectador, por mais bisonho que seja, em poucos minutos se situa (e bem) neste universo alienígena e sabe quem é quem. A narrativa mistura elementos conhecidos da saga, cria um “novo começo” para o Lanterna Hal Jordan e, sabiamente, é parcimoniosa na exploração de toda Galera Lanterna. Pode ter alterado a ordem dos acontecimentos, aos modos das HQs, mas, nos créditos finais, deixa claro que, se a franquia vingar, Sinestro (Mark Strong) é quem vai dar as cartas, ou amarelar de vez. Com boas interpretações e indiscutível qualidade tecnológica (excetuando o 3D), o filme agrada, apesar de um detalhe que não chega a influir na trama: o romance de Hal Jordan com Carol Ferris (Blake Lively). O casal (atores e personagens) não tem a menor química. Se bem que o bizarro triângulo amoroso, envolvendo o malvado vilão de ocasião Hector Hammond (Peter Sarsgaard), a bela Carol e o simpático mocinho Hal, tem lá o seu humor negro. O que não é pra menos, no contato com forças alienígenas o bonitão vira herói e o cientista um monstrengo.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Crítica: Onde está a Felicidade?



Onde esta a Felicidade? (Brasil-Espanha, 2011), dirigida por Carlos Alberto Riccelli, é mais uma “comédia” brasileira que não deve ter dificuldades em encontrar o seu público alvo, já que ele se encontra abarrotando as salas de cinemas atrás de produções de humor duvidoso.

O argumento nem é dos piores, mas o roteiro óbvio e nada convincente de Bruna Lombardi, com todos os descartáveis clichês da moda: palavrão, escatologia e insinuações sexuais, caminha bambo. Onde está a Felicidade? (na linha moderninho sem maconha) fala de crise no casamento e no trabalho, do mundo masculino e feminino, e da melhor hora de se “autoajudar”. Teodora (Bruna Lombardi) é chef e apresentadora de um programa de receitas afrodísiacas na TV. Após onze anos de felicidade ao lado de Nando (Bruno Garcia), que é comentarista esportivo em outra emissora, ela descobre que o marido tem um caso virtual. Como traição (pouca) via webcam é bobagem, a empresa em que ela trabalha foi vendida para uma igreja e seu programa será cancelado. Duplamente surtada Teo resolve se reencontrar percorrendo o famoso Caminho de Santiago de Compostela. Provisoriamente separada de Nando, ela viaja na companhia de Zeca (Marcello Airoldi), o seu produtor de TV, que quer aproveitar a viagem para escrever um novo programa. Na Espanha eles conhecem a fogosa Milena (Marta Larralde) e, com estes três na estrada, o sagrado caminho jamais será o mesmo, ao menos para eles.


Onde está a Felicidade? apresenta uma narrativa com personagens caricatos vivendo situações absurdamente sem graça. A mais grave é a de uma adolescente chata (12 ou 13 anos) que surge do nada e fica azarando Nando. Ela diz que é a sua maior fã, pede um autógrafo “com amor”, passeia com ele e o cachorro, até que uma noite aparece no seu apartamento, alegando que seus pais viajaram e não tem a chave de casa e nem tem onde ficar. Ou seja, além dos pais distraídos, que viajaram (sem celular), ela só “conhece” o repórter descasado (por quem sente atração) e quer dormir no apartamento do sujeito. Até tiram uma foto para registrar o idílico momento. Acredite se quiser em tamanha inocência! Pouco importa que a trama insista o tempo todo que, desde que a mulher foi embora, o cara (que tem idade para ser o pai da menina) não faz sexo nem com ele mesmo. Por menos, muita gente já foi condenada por pedofilia!


O constrangimento não para por aí. A “cena” da Companhia Aérea, cujo nome é (isso mesmo!) K.Air e a atendente é gaga ou sofre de alguma deficiência mental, é deprimente. Enfim, sequências (politicamente incorretas) no Brasil e na Espanha, é o que não faltam para satisfazer o espectador “mais exigente” que ri de qualquer coisa, desde que de baixo calão. Na tal retomada do cinema brasileiro, onde “aquele” patrocínio garante a subida ou a descida na bilheteria, esta “comédia” (pretensamente almodovariana) fica entre as produções insossas e as novas pornochanchadas (que o público está adorando) produzidas pela XXXXX Filmes. Onde está a Felicidade? tem belos cenários, cores fortes, boa direção de arte, animação divertida, e, apesar das pornogags e da direção claudicante, um elenco esforçado que não tem culpa dos diálogos toscos e muito menos do edificante final pra lá de Bagdá (Ôps!). Ou seria pra lá do Piauí? 

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Crítica: A Árvore da Vida


Ganhador da Palma de Ouro, na edição de 2011 do Festival de Cannes, A Árvore da Vida, de Terrence Malick, é um filme que chega para "chacoalhar" o espectador passivo e fazer brilhar os olhos e as mentes dos cinéfilos que anseiam por um cinema que vá muito além do mero entretenimento.

Apesar de próximos, A Árvore da Vida (Tree of Life, EUA, 2011), com direção e roteiro de Terrence Malick, não deve ser confundido com o impactante filme iraniano A Árvore da Vida (Derakht-E Jaan / Tree of Life, 1998), de Farhad Mehranfar, que também trata da pertinência da vida e da morte diante da beleza crua e exuberante da natureza. Por tanger fundo e dolorosamente a questão da fé e a sensação de abandono daqueles que acreditam em um Deus (cristão), a produção me pareceu encontrar paralelo com o belíssimo Homens e Deuses (Des Hommes et des Dieux, 2010), de Xavier Beavouis.


A Árvore da Vida é um dos filmes mais intensos e emocionantes dos últimos anos. O seu motivo é a catarse de uma família, no Texas dos anos 1950. A sua reza é a dicotomia das tradições: vida e morte, religião e educação. Não necessariamente nesta ordem. Através de Jack (Hunter McCracken, garoto e Sean Penn, adulto) ele mergulha fundo na busca de um significado para a vida e alguma razão para a morte, questionando a crença em um Deus ausente, mas (contraditoriamente) onipresente. Ao explorar o dualismo de Mr. O'Brien (Brad Pitt) provoca um turbilhão de emoções no espectador, perdido no conceito de educação (ontem e hoje), que perdura por horas depois da sessão. Como julgar um pai profissionalmente frustrado, cuja preocupação com o futuro dos filhos, se dá através de uma educação rígida, mas também amorosa, temendo parecer um fraco numa sociedade machofalocratista, em que a mulher submissa, Mrs. O'Brien (Jessica Chastain), tem que partilhar do seu dia-a-dia?


De uma beleza visual impar, A Árvore da Vida, não é indicado para aquele público apressado, ansioso, acostumando às beababoseiras que imperam nas salas de cinema. Se bem que seria bem interessante se, por descuido, entrasse atrás de Pitt e Penn e descobrisse (mesmo que à revelia) que há filmes que não subestimam a sua inteligência. Malick busca a cumplicidade do espectador capaz de pensar, de refletir além da narrativa fílmica que não se encerra com os créditos finais. Ele busca aconchego no espectador capaz de entender os signos de linguagem (explícita ou não) da grande metáfora na deslumbrante criação do Universo Cósmico-Humano. Se Hermes Trimegisto teria dito que: aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo, e aquilo que está embaixo é como aquilo está em cima, Raul Seixa (1945-1989) disse, em 1976, que: Cada um de nós é um Universo..., leia a letra (na íntegra) abaixo.


A Árvore da Vida, é um drama que não deixa o cinéfilo indiferente, seja pela plasticidade, na bela e envolvente fotografia de Emmanuel Lubezki e formidável edição, ou por conta do primoroso roteiro, que não causaria maiores impactos se não tivesse um elenco que responde muito bem aos personagens, com destaque para Brad Pritt, Jessica Chastain e o expressivo garoto Hunter McCracken (que rouba todas as cenas). Um filme para se ver e rever sem pressa, degustando cada imagem e cada palavra dita nos inquietantes diálogos. Pode até parecer, em alguns momentos, se tratar de uma produção edificante sobre a prática do amor e do perdão acima de tudo, mas (ao final) o que vem à tona é o direito de escolha, o livre-arbítrio físico e espiritual. O tempo só tem tempo para quem se dá tempo para viver, mesmo que seja uma vida fugaz. 


Meu Amigo Pedro (de Raul Seixas e Paulo Coelho, no álbum Há Dez Mil Anos Atrás): Muitas vezes, Pedro, você fala/ Sempre a se queixar da solidão/ Quem te fez com ferro, fez com fogo, Pedro/ É pena que você não sabe não (...) Vai pro seu trabalho todo dia/ Sem saber se é bom ou se é ruim/ Quando quer chorar vai ao banheiro/ Pedro as coisas não são bem assim (...) Toda vez que eu sinto o paraíso/ Ou me queimo torto no inferno/ Eu penso em você meu pobre amigo/ Que só usa sempre o mesmo terno (...) Pedro, onde você vai eu também vou/ Mas tudo acaba onde começou (...) Tente me ensinar das tuas coisas/ Que a vida é séria, e a guerra é dura/ Mas se não puder, cale essa boca, Pedro/ E deixa eu viver minha loucura (...) Lembro, Pedro, aqueles velhos dias/ Quando os dois pensavam sobre o mundo/ Hoje eu te chamo de careta, Pedro/ E você me chama vagabundo (...) Pedro, onde você vai eu também vou/ Mas tudo acaba onde começou (...) Todos os caminhos são iguais/ O que leva à glória ou à perdição/ Há tantos caminhos tantas portas/ Mas somente um tem coração (...) E eu não tenho nada a te dizer/ Mas não me critique como eu sou/ Cada um de nós é um universo, Pedro/ Onde você vai eu também vou/ Pedro, onde você vai eu também vou/ Mas tudo acaba onde começou.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Crítica: Os Famosos e os Duendes da Morte




À primeira vista, Os Famosos e os Duendes da Morte (Brasil, 2010) parece um típico filme-clip para a MTV. Ou, ficando aquém, tem cara do monótono experimentalismo europeu e brasileiro dos anos 1970, com seus pretensos simbolismos, imagens surreais no vai da valsa para quem sabe dançar ou fica apenas olhando sem entender absolutamente nada do imbróglio juvenil. Não sei como seria numa segunda vista.

O drama adolescente, dirigido por Esmir Filho, baseado no romance homônimo de Ismael Caneppele, escrito paralelamente ao roteiro, com a colaboração de Esmir, fala meio que veladamente sobre um adolescente, Mr. Tambourine Man (Henrique Larré), que se sente deslocado na pequena cidade de tradição alemã onde mora, no Rio Grande do Sul. Ele vive com a mãe (Áurea Baptista), com quem não consegue dialogar. Fã de Bob Dylan, espera um dia cruzar a ponte que liga aquele lugarejo com o desconhecido, para nunca mais voltar. O solitário jovem, perdido em sua introspecção, tem como válvula de escape, um amigo, Diego (Samuel Reginatto), com quem troca algumas confidências e queima baseado, e o seu blog na internet, onde posta textos que misturam literatura e reclamações juvenis de quem tem nada a fazer e ou perder na vida, já que não acredita nem que tem uma vida. No seu mundo digital e real confundem-se ainda os “fantasmas” de uma bela garota, Jingle Jangle (Tuane Eggers), e seu estranho companheiro, Julian (Ismael Caneppele).


Uma vez que Os Famosos e os Duendes da Morte não oferece ao espectador qualquer cartilha e ou códice dos signos bucólicos, resta ao interessado decifrar gentes e coisificar o que vai surgindo aleatoriamente filme adentro e afora na fantasmagoria local ou na internet. O que até seria interessante (mantém a mente desperta) se ao final o espectador não sucumbisse à narrativa e se deixasse aprisionar no círculo vicioso daquela velha ponte aberta apenas para o salto vazio. Ali (na aldeia) não há alegria, somente a tristeza na tocaia, esperando o momento para dar o bote e acabar com a festa de quem insiste em ser feliz. A melancolia não dá “refresco” nem mesmo na boa trilha sonora de Nelo Johann.

A narrativa é tão fragmentada (e artificial) quanto os praticamente monossilábicos personagens da enevoada região. Uma fragmentação que parece exposta mais pela ausência de motivo condutor (leitmotiv) do que pela busca de estilo vintage. A impressão é a de que o material (argumento), suficiente para um ótimo curta, foi excessivamente esticado para um monótono longa. Se bem que, embriagado por alguns bons momentos fotográficos, paira a dúvida de se estar diante de um bom filme ou de uma embromação-cult para festival.


De difícil absorção, a produção brasileira recebeu vários prêmios, mas não caiu no gosto do público (alvo). É difícil imaginar um adolescente, de bem com a sua vida, indo ao shopping assistir ao drama, embarcar no clima fantástico que o filme propõe e ou se identificar com a introspecção daquele agonizante jovem protagonista. Pelo jeito os adolescentes continuam preferindo as comédias evasivas aos dramas depressivos. Ou será que já passou a onda “emo”? Talvez a compreensão da obra seja facilitada se complementada pela leitura do livro de Caneppele (ou vice-versa). O que ainda não fiz.

Alguns filmes, independentes de suas trilhas, me lembram canções outras. A ponte protagonista de Os Famosos e os Duendes da Morte me lembrou da bela A Ponte (de Lenine e Lula Queiroga): Como é que faz pra lavar a roupa?/ Vai na fonte, vai na fonte/ Como é que faz pra raiar o dia?/ No horizonte, no horizonte/ Este lugar é uma maravilha/ Mas como é que faz pra sair da ilha?/ Pela ponte, pela ponte (...) A ponte não é de concreto, não é de ferro/ Não é de cimento/ A ponte é até onde vai o meu pensamento/ A ponte não é para ir nem pra voltar/ A ponte é somente pra atravessar/ Caminhar sobre as águas desse momento (...) A ponte nem tem que sair do lugar/ Aponte pra onde quiser/ A ponte é o abraço do braço do mar/ Com a mão da maré/ A ponte não é para ir nem pra voltar/ A ponte é somente pra atravessar/ Caminhar sobre as águas desse momento (...) Nagô, nagô, na Golden Gate/ Entreguei-te/ Meu peito jorrando meu leite/ Atrás do retrato-postal fiz um bilhete/ No primeiro avião mandei-te/ Coração dilacerado/ De lá pra cá sem pernoite/ De passaporte rasgado/ Sem ter nada que me ajeite (...) Nagô, nagê, na Golden Gate/ Coqueiros varam varandas no Empire State/ Aceite/ Minha canção hemisférica/ A minha voz na voz da América/ Cantei-te, ah/ Amei-te/ Cantei-te, ah/ Amei-te.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Critica: Super 8




Super 8 é um formato cinematográfico surgido na década de 1960, ganhou popularidade nos anos 1970 e 1980 e alavancou a carreira de grandes cineastas. Ainda hoje, na contramão da tecnologia, seja pela facilidade (relativa) de se trabalhar ou simplesmente pela nostalgia, muitos realizadores profissionais e amadores insistem em usá-lo. A charmosa paixão resiste ao tempo e ainda é capaz de reunir superoitistas em festivais exclusivos, como o Curta 8 - Festival Internacional de Cinema Super 8 de Curitiba, cuja 4ª edição acontece de 29 de setembro a 2 de outubro de 2011.

Super 8 (Super 8, EUA, 2011), com roteiro e direção de J. J. Abrams, é um filme-homenagem a Steven Spielberg e a outros cineastas que (também) começaram fazendo curtas no fundo do quintal, usando e abusando da criatividade e da câmera S8. A história se passa em 1979, na cidade industrial Lillian, em Ohio, e narra alguns dias de ventura e de terror de um grupo de adolescentes que, enquanto realiza um filme de zumbi (em Super 8), presencia um acidente que vai abalar o cotidiano de todos. É que, na verdade, o terrível acidente, envolvendo uma caminhonete e um trem vindo da famosa Área 51, pode não ter sido mero acidente. Ainda em estado de choque, pela gravidade do ocorrido, e antes que se deem conta do que está acontecendo, os jovens se veem enredados numa trama envolvendo a aeronáutica e um misterioso passageiro, numa caçada que vai remeter os espectadores mais velhos aos idos de ET, Contatos Imediatos, Goonies etc.


Apesar do roteiro irregular, clichês e exageros à parte, Super 8 é um divertido filme de ação e aventura que lembra o melhor das produções juvenis dos anos 1970 e 1980. Com certeza não vai ser nenhum divisor de películas dirigidas ao público jovem, mas pode despertar em algum espectador um interesse adormecido de fazer cinema pelo simples prazer de fazer cinema. A arte é o improviso da brincadeira. Os jovens cineastas da narrativa (excelente elenco: Riley Griffiths, Joel Courtney, Elle Fanning), sem recursos para realizar o filme dos sonhos, improvisam nas locações, na maquiagem e nos efeitos especiais. Sabem que ser amador não é ser menor, é fazer com desejo. Cada um desempenha a sua função não apenas para preencher o tempo livre, mas em nome da amizade, do amor juvenil, da necessidade de ser e de estar em um grupo de iguais, e ou simplesmente para fugir dos (cansativos) conflitos familiares. E haja conflito! Mas todo mundo sabe como isso termina.

Enquanto as produções cômicas contemporâneas insistem no adulto imbecilizado, remoendo um Complexo de Peter Pan, Super 8 trata do fim da inocência e dos percalços da vida adulta, que só não chega para quem fica no meio do caminho. O bom ritmo, a qualidade dos efeitos especiais (mesmo que exagerados), a ótima direção de Abram, no entanto, podem não ser suficientes para aliviar a sensação de frustração do público que espera um pouco mais de ousadia na catarse dos personagens diante do inusitado. Se bem que, se a simplificação do discurso sobre o bem e o mal, ao desvelar o “passageiro misterioso” e as suas razões, pode decepcionar alguns cinéfilos, a opção de um final agridoce deve satisfazer aqueles que sonham com a felicidade na Terra e no Céu. Super 8 pode não ser aquela promessa toda, mas o prazer de ver o emprenho, a dedicação da garotada na realização de um primeiro filme, para inscrevê-lo um festival, já vale o ingresso.

Nota: Junto com os créditos finais tem uma surpresa para os espectadores menos apressados.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Critica: Os Smurfs



Antes de Os Smurfs havia Os Strunfs (no orginal francês: Les Schtroumpfs). Antes da animação havia a HQ. Os Smurfs, criação mágica de Pierre Culliford, desenhista belga conhecido como Peyo (1928-1992), apareceram em 1958, na aventura medieval em quadrinhos: Johan et Pirlouit - La flûte à six trous, publicada em Le Journal de Spirou. O sucesso foi tanto que, de meros coadjuvantes, eles viraram protagonistas das próprias histórias, em um mundo harmonioso, longe dos olhos e das maldades humanas. Ou quase!

Se os Smurfs serão capazes de um dia mudar o mundo, não se sabe. Mas, desde a sua popularização, pipocam livros, teses estapafúrdias sobre as mensagens subliminares presentes nos quadrinhos e animação. Para os teóricos de plantão tudo é razão para se temer: a cor e humor dos personagens, a espessa barba (branca) e roupa (vermelha) do sábio cientista Papai Smurf, o modo de vida comunitário, a vida assexuada, a falta de crença religiosa e sistema político etc. E o que isso tudo quer dizer? Nada! Se bem que, tamanho empenho não deixa de ser engraçado!

As histórias em quadrinhos Os Smurfs, ou melhor, Os Duendes Strunfs chegaram ao Brasil em 1975, através da Editora Vecchi, que publicou sete edições e três álbuns: O Ovo Strunfado, Os Strunfs e o Crau-Crau e O Cosmostrunf. Em 1980 foi a vez da animação dos Estudios Hanna-Barbera. Entre 1982 e 1983 a Editora Abril publicou seis edições, com o mesmo nome do desenho animado: Os Smurfs, que agora saem pela L&PM: O Smurf Repórter e O Bebê Smurf.


Eu tive a coleção completa dos exemplares da Vecchi e da Abril e não perdia o desenho animado. Talvez por isso Os Smurfs (The Smurfs, 2011), o filme com direção Raja Gosnell, me deixou saudoso. Não consegui ver a mesma magia das HQs e a mesma graça da antiga animação, talvez pelo fato da história atropelar o tempo, começar pelo meio e sem a preocupação de apresentar os divertidos personagens às crianças, público alvo da produção. Nesta nova aventura, fugindo do Mago Gargamel (Hank Azaria) e seu gato Cruel (que rouba as cenas), Papai Smurf, Desastrado, Gênio, Smurfete, Ranzinza e Arrojado (e seus perseguidores) são sugados por um portal e vão parar em Nova York. Ali conhecem e são acolhidos pelo casal Patrick Winslow (Neil Patrick Harris) e Grace (Jayma Mays), ele às voltas com um anúncio publicitário e ela com a gravidez. Chegar em NY nem foi tão difícil, o problema vai ser sair de lá.

Com muita correria e confusão, bem “ao gosto” das crianças, Os Smurfs é um filme família com todos os clichês e simplificações do gênero. Se por um lado vem cheio de mensagens edificantes, por outro busca o riso apelando para algumas piadas de humor duvidoso. O ambicioso e atrapalhado feiticeiro Gargamel, sempre muito divertido nos quadrinhos e animação, na forma humana é apenas uma caricatura chata e irritante, sem a menor graça. Os Smurfs e Cruel são até bem construídos, mas a interação live-action (se muito) é apenas razoável. Algumas sequências (de afetividade entre desenhos e humanos) são bem amadoras. A contar pela quantidade de merchandising, o problema não deve ter sido verba e, sim, empenho e técnica. Mas este é um olhar adulto. Uma criança talvez nem se importe com esses detalhes e ou com o dispensável 3D.

Os Smurfs é uma “comédia” leve e (claro) previsível. Tem uns dois ou três momentos engraçadinhos, mas equivocados, como o de Smurfete lembrando a famosa cena (do vestido) de Marilyn Monroe em O Pecado Mora ao Lado (1955). Que criança conhece a referência? A narrativa batida, às vezes singela, pode até encantar a garotada (alvo), mas deve decepcionar os mais velhos (acompanhantes). Agora é esperar para ver se as próximas produções da franquia fazem jus aos personagens e realmente desvelem o seu divertido mundo aos jovens e velhos espectadores, tratando melhor das artimanhas de Gargamel e Cruel, da criação de Smurfete, da personalidade dos Smurfs etc. Material de qualidade, já publicado, é que não falta. Porém, como HQ é uma coisa e Cinema é outra, duvido que isso aconteça.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Crítica: Quero Matar Meu Chefe


Quero Matar Meu Chefe é o “sugestivo” título da “comédia” americana que tem tudo para repetir o sucesso de Se Beber Não Case. Apostando na escatologia e na já tradicional linguagem chula, o filme repete a fórmula clichê até no trio de personagens protagonistas e seus pares. Ou seja, tem o bonitão metido a galinho garanhão que, se for preso, espera ser mais estuprado que o certinho simpático metido a esperto, que tem o voto do romântico esquisito metido a fiel vingador de honras, que parece não fazer questão nenhuma desse prazer carcerário. Ah, o animal da vez é um gato!

Em meio a altas doses de droga, sexo e idiotice generalizada, Quero Matar Meu Chefe (Horrible Bosses, EUA, 2011), dirigido por Seth Gordon, narra as desventuras de três trintões com baixa autoestima: Nick Hendricks (Jason Bateman), Dale Arbus (Charlie Day) e Kurt Buckman (Jason Sudeikis), por conta do estresse provocado pelos seus patrões carrascos: Dave Harken (Kevin Spacey), Dra. Julia Harris (Jennifer Aniston) e Bobby Pellit (Colin Farrel).  Ou seja, Nick (Bateman), eterno candidato à gerência, trabalha 12 horas por dia e vive sendo espinafrado e enganado pelo chefe ditador Dave (Spacey), que tem outros planos para o funcionário e para ele próprio. Dale (Day) é o assistente da depravada Dra. Julia (Aniston), uma “dentista” que o assedia sexualmente, enquanto atende aos pacientes dopados. Kurt é o contador da empresa do corrupto Bobby (Farrel, irreconhecível), um sujeito desprezível e capaz de cheirar até as cinzas do pai, se tivesse sido cremado. Com a vida profissional emperrada eles decidem matar os três patrões. Entretanto, como assistem ao seriado Lei e Ordem e “aprenderam” as manhas para desvendar os crimes televisivos, saem em busca de um assassino profissional que faça o serviço (por eles) sem deixar vestígios. Simples assim!

Com muitas citações literais de filmes parecidos (no gênero e na intenção), para parecer inteligente, antenado, o “roteiro” de Michael Markowitz, faz mesmo é a gente sentir saudade do bom e muito mais divertido Como Eliminar seu Chefe (Nine to Five, EUA, 1980), de Colin Higgins (1941-1988), com Jane Fonda, Lily Tomlin, Dolly Parton e Dabney Coleman, que não é citado nessa comédia que pretende ser de erros, mas carece de graça e um mínimo de inteligência. Porém, mesmo com personagens caricatos e sem qualquer carisma, história medíocre e humor de banheiro público, o espectador que ri de qualquer piada suja vai se esbaldar do começo ao fim. Não fosse isso, SBNC 1 e 2 e a pornochanchada brasileira Cilada.com não fariam tanto sucesso.
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