Ufa! Finalmente estreia mais um filme brasileiro capaz de provar que, para entreter o espectador, não é preciso baixar o nível e nem subestimar o público que tem se deixado envolver pela nova e avassaladora onda de pornochanchadas que tomou conta dos cinemas.
O Homem do Futuro, escrito e dirigido por Claudio Torres, traz Wagner Moura, na pele de Zero, um cientista infeliz, egocêntrico e rancoroso que, por conta de um acidente, volta no tempo e decide acertar as contas com o seu passado. O que ele não contava é que, ao evitar uma humilhação pública, numa festa estudantil, onde se encontram a sua grande paixão, Helena (Alinne Morais), o namorado dela, Ricardo (Gabriel Braga Nunes), e a sua grande amiga, Sandra (Maria Luisa Mendonça), alteraria o futuro de todos. Como se vê, um tema que, com algumas variantes, ainda serve de inspiração para autores em todo o mundo. O melhor exemplo é o antológico e original conto Um Som de Trovão (1952), do mestre Ray Bradbury, já adaptado para HQs, TV e cinema. Mas, será que é possível trapacear o Tempo para, digamos, tirar proveito próprio? No final há uma resposta, se ela vai satisfazer a todos já é outra viagem.
O Homem do Futuro é repleto de referências cinematográficas assumidas pelo autor: “Usei referências de filmes que gosto de assistir e que assisti na minha infância. É uma junção dos seriados que passavam nas tardes de quando era criança como o Túnel do Tempo, Perdido no Espaço e Jornada nas Estrelas. Depois vieram De Volta para o Futuro 1, 2, 3; O Exterminador do Futuro 1, 2, 3 e 4; Peggy Sue; O Efeito Borboleta; A Dona da História de Daniel Filho e A Máquina do João Falcão. É possível perceber para quem tem mais de 40 anos que o figurino do Wagner é uma mistura de Buck Rogers com o professor Robinson de Perdido no Espaço, já a Alinne tem o figurino inspirado em Barbarela.”. A boa dosagem na mistura de comédia, drama, romance e ficção científica, resultou num filme juvenil, cheio de reviravolta amorosa e profissional, bem ao gosto do público jovem. Quer dizer, desde que não espere a pancadaria típica americana em filmes do gênero. Aqui a ideia é outra, talvez mais “civilizada”.
Quem se acostumou com a linguagem de baixo calão, das recentes comédias brasileiras e americanas, pode estranhar a falta de piadas escatológicas, mas verá que é possível fazer um filme divertido e sem apelações. A produção surpreende com bom roteiro e ótimos efeitos especiais. Porém, decepciona com uma desastrosa continuidade (típica de continuísta de novelas da Rede XXXXX) e uma trilha sonora instrumental acidental (é isso mesmo, acidental!) horrorosa, irritantemente presente nos momentos dramáticos, cortando todo o clima das sequências. Infelizmente, trilha sonora de gosto duvidoso não é falha isolada nos filmes brasileiros (e americanos). O espectador que assistiu ao VIPs, de Toniko Melo, talvez encontre pontos em comum com a performance de Wagner Moura cantando e encantando na pele dos vários personagens criados por Marcelo da Rocha, já que agora, em O Homem do Futuro, ele “é” um, digamos, amalucado triunvirato. Esta aí um ator que realmente se multiplica!