sexta-feira, 29 de julho de 2011

Crítica: Capitão América: O Primeiro Vingador


Capitão América: O Primeiro Vingador é um filme de aventura que chega com o propósito de fazer justiça às histórias em quadrinhos originais. Este primeiro capítulo realmente surpreende ao se aproximar muito dos gibis que, há 70 anos, deram vida ao herói norte-americano cheio de boas intenções norte-americanas. Com breves variações e poucas liberdades cinematográficas a produção enterra de vez a triste lembrança da versão trash de 1990: Capitão América: O Filme, dirigido por Albert Pyun.

Capitão América, alterego de Steve Rogers, o mais patriota de todos os heróis americanos de HQs (dependendo de quem conta a sua história), foi criado na década de 1940 por Joe Simon e Jack Kirby. Ele não tem nenhum poder especial, apenas força física, e como arma de defesa e (se preciso) ataque usa um escudo mais rápido que um cometa e tão eficiente quanto um bumerangue. A primeira revista Captain America Comics, em cuja capa ele aparece vestindo uma roupa nas cores da bandeira americana (vermelho, branco e azul), e esmurrando Hitler, saiu em março de 1941, meses antes dos EUA entrarem na II Guerra Mundial. Como se vê o “Yes, We Can! (Sim, Nós Podemos!)”, vem de longe. Nem o ET Superman (criado em 1938) chegava a tanto.  

Fruto de uma experiência científica que o transformou em um supersoldado, Steve Rogers e ou Capitão América já foi morto (e substituído) algumas vezes (seis ou sete), por conta do humor dos roteiristas e ou do clima sócio-político envolvendo os EUA e o (sempre) resto mundo. Nos anos de 1960, o super-herói (original) acabou ganhando uma versão, que serviu de base para o filme de Pyun e agora de Johnston, onde ele sofre um acidente de avião e desaparece ao final da Segunda Guerra, no Atlântico Norte. O Sentinela da Liberdade ficou, por décadas, “enterrado” no gelo (em coma) até ser encontrado (na HQ, pelos Vingadores em guerra contra Namor, o Príncipe Submarino). Na sua última morte, em 2007, conforme a minissérie Fallen Son: A Morte do Capitão América, ele volta a ser enterrado no gelo por aqueles que o encontraram (até a próxima ressurreição). Assim, enquanto Capitão América, O Filme se passa saltitando entre as décadas de 1940 e 1990, o Capitão América: O Primeiro Vingador se passa (praticamente) no período da II Guerra.


Para quem não é fã de quadrinhos e ou não se lembra da história, Steve Rogers (Chris Evans) é um garoto órfão que atende ao apelo norte-americano de convocação para o alistamento militar e que, por ser franzino e ter a saúde debilitada, é dispensado. No entanto, pela sua insistência, acaba despertando o interesse do Dr. Erskine (Stanley Tucci), um cientista alemão, asilado nos EUA, que descobriu uma fórmula capaz de transformar pessoas de qualquer porte físico em supersoldados. Rogers, com seu corpo duplicado, musculoso, esbanjando saúde, ganhou logo a patente de Capitão América, para zelar pela segurança da pátria estadunidense. No campo de batalha o saudável soldado nacionalista conhece o pior dos seus pesadelos, Caveira Vermelha (Hugo Weaving), alterego de Johann Schmidt (ou vice-versa), oficial alemão que sofreu com os efeitos colaterais ao passar pela mesma experiência de Steve.

Divertida e irônica, a narrativa explora as várias mídias (inclusive HQ) usadas pelo Governo e Forças Armadas americanas na apresentação do Capitão América, então um objeto propagandista caro e raro, para vender bônus de guerra, convocar jovens e persuadir a população de que a hora dos EUA salvar o mundo tinha chegado. A propaganda era (e ainda é!) uma arma de persuasão poderosa na mão dos governantes das nações em guerra, todas usavam e abusavam de tais artifícios, principalmente difamatórios. No site Grandes Guerras, um artigo sobre A propaganda na Segunda Guerra Mundial, em um parágrafo sobre os alemães, diz: ...Outros discursos e cartazes promoviam e retratavam a união entre soldados e trabalhadores, instando os últimos a "fazer sua parte" no esforço de guerra, demonstrando cenas de batalha em uma maneira semelhante ao período romântico (era Napoleônica). Este tipo de cartaz normalmente explorava a figura masculina, musculosa, pois se imaginava que a força do homem era um conceito interessante para inspirar a confiança nos tempos difíceis. De volta ao Capitão, o bom moço loiro, inocente até nas “coisas” do amor, porém bonito e confiante, vai fazendo tudo como querem os figurões, até resolver agir por conta própria e dizer a que foi criado. Seleciona um grupo de Soldados Gloriosos, entre eles o parceiro Bucky Barnes (Sebastian Stan), e parte para cortar a cabeça da HYDRA e acabar com os planos do vilanesco Caveira.


Em Capitão América: O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger, EUA, 2011), dirigido por Joe Johnston, tudo funciona e conspira a favor do personagem Steve Rogers (seu duplo: Capitão América) e do público. Ambos ganham com a excelência da história que tem ritmo, humor, ação, aventura na medida certa. Os bons roteiristas Christopher Marcus e Stephen McFeely (ambos da trilogia As Crônicas Nárnia), que sabem muito bem contar uma boa história, continuam surpreendendo com uma narrativa simples, básica, porém eficiente. Afinal, complicar pra quê?! Johnston, depois de dividir a crítica com O Lobisomem (The Wolfman), voltou em forma e esbanjando categoria num casamento perfeito entre os quadrinhos heroicos e o cinema de entretenimento, conseguindo uma veracidade dramática impressionante. Os personagens são carismáticos e o elenco está afinadíssimo. A direção de arte (principalmente na reconstituição de época) e os efeitos especiais são um espetáculo à parte. Até mesmo a conversão 3D é boa. Resta saber o que virá na continuidade, quando a ação se tornar contemporânea.

NOTA: Para compreender a complexidade do fantástico universo dos quadrinhos (linguagem próxima, mas diferente do cinema) sugiro a leitura do artigo: Capitão América: Herói ou Vilão?, de Nano Souza, publicado no Universo HQ e do ensaio: Capitão América: Interpretações Sócio-antropológicas de um Super-Herói de Histórias em Quadrinhos, de Luciana Zamprogne Chagas, publicado na Revista Eletrônica Sinais  e também em Guia dos Quadrinhos, que publica outros excelentes trabalhos no link Monografias

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