quinta-feira, 30 de junho de 2011

Crítica: Transformers 3: O Lado Oculto da Lua



Se você não gostou de Carros 2, deve gostar Transformers 3: O Lado Oculto da Lua. Se você gostou de Skyline: A Invasão (de Los Angeles) e de Invasão do Mundo - Batalha em Los Angeles, vai adorar este Transformers: Batalha em Washington. Se você gosta de rever à exaustão carros, gentes e prédios explodindo em câmera lenta, ao som de um trilha sonora horrorosa, vai enlouquecer com Transformers 3, de Michael Bay, um filme feito, na medida, para os fãs que suportarem a overdose de pancadaria por 2h30. E só!

Transformers 3: O Lado Oculto da Lua (Transformers: Dark Side of The Moon, EUA, 2011) é mais do mesmo. Ou seja, continua falando da guerra entre os Autobots (mocinhos) e os Decepticons (vilões), tendo os “humanos” norte-americanos como saco de pancada. A história começa com uma guerra devastadora em Cybertron e a fuga fracassada de uma aeronave que se choca com a lua. Quando a URSS e os EUA descobrem “algo estranho” no Satélite da Terra, tem início a corrida espacial entre as nações e é armado o palco para mais uma batalha entre terráqueos, entre robôs e entre terráqueos e robôs pelo conhecimento e domínio etc. Depois do oportuno uso de VHS em X-Men First Class, ver a exploração gratuita do recurso (presidentes falando da corrida espacial), é vulgar.


Shia LaBeouf é o mesmo Sam Witwicky, agora formado e procurando emprego. Para variar ele tem uma nova namorada, Carly Spencer (Rosie Huntington-Whiteley), uma loira que, além de algumas caras e bocas, tem lá seus quinze minutos, mas está na fita mesmo como chamariz, para quem gosta do tipo aguado. O que não é difícil em um filme elencado por 99,99% de homens e máquinas. O rapaz, que nunca é levado a sério, apesar de estar sempre salvando a pátria americana, arranja um emprego que detesta, mas é onde descobre um novo plano dos robôs malvados e vai ter que se virar (e correr muito) para convencer as autoridades militares e especialistas de plantão da trama mortal dos “turistas” extraterrestres. O que se segue é o clichê de praxe (correia, gritaria, desconfiança, pancadaria, chantagem, humilhação, explosões, tiroteio) que, mesmo esticado universo afora, todo espectador sabe como vai terminar. Afinal, o filme é americanofílico.

Como é comum nesse tipo de produção, os militares, cientistas e autoridades em geral são bem cabeçudos. Porém, os gloriosos soldados, que formam aquele time de raça difícil de matar (ou seria de morrer?), são bons moços e ultra-sensíveis. Transformers 3, pra variar, não tem o humor juvenil do primeiro e sequer se preocupa em aliviar a tensão da violência explícita (sem sangue). A não ser que dar cara de Predador, Alien, Albert Einstein Japonês, Monstro-Múmia, aos robôs, e ou ver mais uma vez Ken Jeong (com o mesmo trejeito afeminado do Mr. Chow, de Se beber, não case), abaixar as calças etc, ou a esquisitice de Bruce Brassos (John Malcovitch), o chefe neurótico de Witwicky, ou a arrogância de Seymour Simmons (John Turturro), um ex-agente e escritor especializado em Transformers, seja realmente engraçado. É como se diz, humor (ou seria gosto?) não se discute, se lamenta!


Enfim, quem realmente é fã de Optimus Prime, o Capitão América dos robôs, e pagar para ver o “guerreiro gladiador” em ação, é capaz de não se decepcionar, já que o grandalhão vai estar em boa forma para ajustar contas com os robôs vira-casaca, ou melhor, vira-engrenagens. Já os fãs de Bumblebee vão perceber que o robô-camarada envelheceu e até perdeu o jeito de fazer graça. A série, pelo “apoteótico” final, se continuar, deve voltar “aonde tudo começou”, a nova febre das franquias, mostrando Transformers Babies e Transformers Teens, se é que já foram bebês e adolescentes algum dia. Por falar nisso, parece que em Cybertron só tem (ou tinha) Transformer macho, então.... Pelo menos eu não me lembro de ter visto alguma Transformer fêmea. E, pelo visto, os carros-robôs também não. Deve ser interessante saber como nasceram os brutamontes de ferro e aço.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Crítica: Meia Noite em Paris



O tempo passa, a idade avança e a cada filme Woody Allen (não que precise) prova que ainda é um grande mestre da sua arte. A comédia Meia Noite em Paris é mais uma daquelas pérolas que deve matar de inveja os cineastas menores que "se fazem” em cima da escatologia e das repetidas “piadas” de mau gosto. Não é que Woody não se repita em suas histórias, a diferença é que, se ele o faz, é sempre por um novo viés. 

Quem nunca quis viver numa época diferente, até mesmo para fugir da sua realidade? Em Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011), o norte-americano Gil Pender (Owen Wilson), roteirista de sucesso em Hollywood, sonha em largar a carreira para se dedicar exclusivamente à literatura. Apaixonado por Paris e embevecido com a ideia de dar um novo rumo à sua vida de escritor, aproveita que está de férias na capital francesa, junto com a noiva Inez (Rachel McAdams) e os pais dela, John (Kurt Fuller) e Helen (Mimi Kennedy), para comunicar a sua decisão. Se os opostos se atraem, Gil e Inez se distraem em interesses outros. Ele quer consumir cultura, encontrar resquícios da adorável Paris dos dourados anos 1920. Ela prefere o consumo material e gastronômico. Ele quer morar em Paris e ela em Malibu. Ele busca na reflexão sobre o fazer arte a inspiração para o seu livro. Ela se contenta em ouvir o enciclopédico pedante Paul (Michael Sheen) falar sobre arte. 


Desencontros à parte, certa noite Gil está meio perdido, a caminho do hotel, quando um carro antigo para ao seu lado e ele é convidado por F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston) e Zelda Fitzgerald (Alison Pill) a entrar e a passear pela Cidade Luz e conhecer os seus mais ilustres moradores: Gertrude Stein (Kathy Bates), Hemingway (Corey Stoll), Cole Porter (Yves Heck), Picasso (Marcial Di Fonzo Bo), Salvador Dali (Adrien Brody), T.S. Eliot (David Lowe), Buñuel (Adrien de Van), entre outros. A cada noite a magia se repete e ele viaja ao passado para saborear a companhia de artistas renomados e da encantadora estilista Adriana (Marion Cotillard), ex-amante de alguns futuros famosos. Enquanto para Gil a divertida viagem é algo surreal, para os verdadeiros surrealistas, é coisa normal. O que rende ótimas e inteligentes piadas. O mais interessante é que esses encontros maravilhosos e além da imaginação são tratados de forma tão natural e distraída que o espectador até se esquece da excelente direção de arte de Anne Seibel

Paris é a cidade fetiche de muita gente. Já foi homenageada inúmeras vezes por outros autores americanos, mas raramente de forma tão amorosa como fazem Allen, além do cartão postal, e o diretor de fotografia Darius Khondji, além do lugar comum. Na história que se desenha e se escreve, Woody mergulha fundo na alma cultural (e romântica) dela, vasculha o seu passado para entender o pensamento intelectual que influencia o seu presente. Se a cultura de amanhã é o reflexo da arte que se faz hoje, por que pensar e considerar o ontem tão melhor, se o que interessa é que o futuro seja promissor? É através dessa ironia da sublimação de um tempo passado, que está sempre retornando ao passado, na indefinição do futuro, que Allen vai tecendo a sua filosofia de vida e da arte, às vezes melancólico, às vezes realista, mas nunca gratuito. Ele pode até parecer um derrotado, mas é, com certeza, cheio de esperança. 


Com seu humor nonsense e repleto de referências culturais, Meia Noite em Paris é um filme que requer um pouco mais de conhecimento do espectador. Se desconhecer os autores citados e ou as suas obras, com certeza não vai entender nenhuma piada. A inspirada comédia que garante um sorriso gostoso e uma inesquecível viagem por Paris traz um elenco afinado (com o seu tempo). É bem provável que ao final, quando Gil Pender finalmente curtir a chuva parisiense, que há de levar bem mais que a sua alma, o público fique com uma dúvida: se a arte de hoje é (realmente) feita para o amanhã, a de ontem é (realmente) consumida hoje, quando ela é (realmente) contemporânea? 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Crítica: Carros 2


CARROS 2
por Joba Tridente

Para os amantes de corrida automobilística e de filme de espionagem (a toda velocidade), ou tão somente fãs da adorável frota de carros de Radiator Springs, estreia Carros 2 (Cars 2, EUA, 2011), a nova produção da Pixar que vai dar o que falar nesta virada de semestre. E para quem sonha em passar as férias no Hawai, a turma de Toy Story vai mostrar, num curta-metragem, como dá trabalho realizar os desejos de Ken e Barbie.


Carros 2, dirigido por John Lasseter e codirigido por Brad Lewis, é uma animação que chega com todo o gás e sem perder a estabilidade. Desta vez quem esquenta os motores e queima de vez os pneus é Mate (Larry the Cable Guy), o simpático e ingênuo carro-guincho caipira e “mió amigo” de Relâmpago McQueen (Owen Wilson). A largada para a maior aventura da sua vida começa quando ele inscreve McQueen no Gran Prix Mundial, criado por Sir Miles Eixodarroda (Eddie Izzard) para testar o seu biocombustível allinol, e passa a fazer parte da equipe técnica que o acompanhará nos três circuitos: Tóquio (Japão), Porto Corsa (Itália) e Londres (Inglaterra). Todavia, mal bota as rodas em Tóquio (a mais engraçada das três etapas), sem entender bulhufas de japonês e sem saber como se comportar em lugar tão refinado, Mate acaba envolvido numa trama internacional repleta de agentes secretos, como Finn McMíssil (Michael Caine), espiões e bandidos “tranqueiras”, cientista maluco, como Professor Z (Thomas Kretschmann), e um vilão acima de qualquer suspeita, tudo no estilo “007 a serviço de sua majestade britânica”. Porém, a vida do simplório carro-guincho entra em rota de colisão e despenca ladeira abaixo ao conhecer a bela, insinuante e misteriosa Holley Caixadibrita (Emily Mortimer).


Apesar de uma trama já explorada em comédias e dramas hollywoodianos e europeus (gente comum sendo confundida com agente secreto e passando por apuros), Carros 2 tem a sua originalidade e vai divertir muito até mesmo quem nunca viu algum filme do gênero espionagem. A graça do roteiro bem costurado de Ben Queen está na forma como reconta uma velha e boa história, discutindo temas como a busca de combustível alternativo ao petróleo. Segundo Lasseter, fã do seriado de TV The Man from U.N.C.L.E., enquanto desenvolviam uma sequência na qual Relâmpago McQueen iria levar Sally a um cinema drive-in, pensaram que o casal poderia ver um filme de espionagem. Ao trabalhar a ideia, criaram o personagem Finn McMíssil para estrelar este pequeno filme dentro do filme. A sequência mudou e o que era meta virou linguagem e o que era ficção dentro da ficção, virou realidade na ficção. Simples e genial, assim.

Falar da excelência técnica da animação é totalmente dispensável, no entanto é digno de nota o trabalho de campo que serviu de base para as citações socioculturais de cada povo retratado. É inacreditável como as características de asiáticos e europeus são expostas de forma tão simples e tão ricas e o mais importante, sem ofender ou subestimar o espectador. As referências a 007 e a autoridades políticas e religiosas são hilárias, mas é preciso ficar atento, algumas tiradas são muito rápidas.


A narrativa, com boas piadas e sacadas geniais (sobre japoneses, italianos, franceses e britânicos) é cheia de ação e tem um ritmo vertiginoso para agradar mais ao público acima dos dez anos. Se os personagens originais continuam expressivos e carismáticos, os novos não ficam atrás. Mas vale lembrar que muito da empatia ou antipatia aos personagens se deve (também) aos dubladores. Vi a versão original (legendada) e acredito que até quem não se simpatiza com Mate é capaz de rever os seus conceitos após esta nova e divertida aventura. 

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Documentário na Rede: Estados Unidos do Brasil



Em que consiste nossa cultura atualmente? Quem, verdadeiramente, compreende o Brasil como ele é realmente? Quem é o brasileiro? Por meio dessas e outras indagações, a cineasta italiana Luna Alkalay conduz o documentário Estados Unidos do Brasil, que está sendo exibido no canal Elo Cinema, em uma promoção da Câmera Quatro Produções e a Elo Company

O longa-metragem, que já foi mostrado nas 29ª e 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, traz personagens curiosos - jovens da periferia de São Paulo que fazem covers de seus ídolos norte americanos. Por meio de um personagem símbolo, um sósia de Michael Jackson, o documentário aborda a questão da identidade pessoal e nacional através da entrevista de três jovens da periferia de São Paulo.  Um paralelo entre pessoas que sonham ser outras pessoas e um país que sonha ser outro país. Os jovens, covers de celebridades americanas, são Rodrigo Teaser (Michael Jackson), Priscila Freitas (Marilyn Monroe) e Gian Presley (Elvis Presley). Todos se apresentam em eventos, festas e na TV, sendo por alguns instantes o que não são: seus ídolos. É por essa ótica que se questiona a construção da nossa identidade nacional, através de pessoas que idolatram ícones com pouca ou nenhuma representatividade da cultura brasileira. 

Luna Alkalay nasceu em Milão, Itália, em 1947. Viveu na Argentina até os seis anos e depois mudou-se para o Brasil. Formada em Filosofia pela USP, começou a fazer cinema depois de participar das filmagens do curta Um Clássico, Dois em Casa e Nenhum Jogo Fora, de Djalma Limongi Batista. Dirigiu seu primeiro longa, Cristais de Sangue, em 1975. Estados Unidos do Brasil é seu segundo filme.

Ficha Técnica
Direção e Roteiro: Luna Alkalay/ Fotografia: Johnny Torres/ Produtor: Luna Alkalay/ Produtora: Câmera Quatro Produções Ltda/ 71 minutos/ Brasil

terça-feira, 7 de junho de 2011

Crítica: Qualquer gato vira-lata















Quem viu e se divertiu no teatro com a peça Qualquer Gato vira-lata tem uma vida sexual mais sadia que a nossa, de Juca de Oliveira, pode achar alguma graça nesta insossa versão cinematográfica Qualquer gato vira-lata dirigida por Tomás Portella. O drama romântico, com ares de “comédia”, fala da obsessão de Tati (Cléo Pires) pelo ex-namorado mala Marcelo (Dudu Azevedo). A garota, na ânsia de reconquistar o basbaque mulherengo, acaba conhecendo Conrado (Malvino Salvador), um professor de biologia que desenvolve uma tese sobre o relacionamento humano, baseada no comportamento de machos e fêmeas no reino animal. Apesar de não concordar com o ponto de vista do biólogo, Tati decide se submeter ao seu aconselhamento, para ter de volta o seu playboy de araque. 

O roteiro de Cláudia Levay, Tati Bernardi, Julia Spadaccini e Ricardo Tiezzi é de uma tolice comparável às “comédias” americanas do mesmo gênero. Previsível na sua “trama” sobre “adultos” vivendo uma (eterna) adolescência tardia (tão recorrente nas produções estadunidenses), deve agradar ao espectador que não se importa com “interpretações” caricatas ou constrangedores problemas de continuidade. Não há sequer um personagem que convença o espectador de que é realmente quem diz ser. A sensação de já visto, não é ilusão cinematográfica. Algo parecido foi (e continua sendo) contado, como por exemplo, em A Verdade Nua e Crua (The Ugly Truth) de Robert Luketic, onde um machão (cafajeste) ensina a uma mulher “romântica” os atalhos para conquistar o homem ideal. 

Qualquer gato vira-lata, codirigido por Daniela de Carlo, tem cara de especial medíocre da TV Monopólio, produtora e mantenedora de elenco das mais recentes produções que têm acolhido um bom público nas salas de cinema, independente da qualidade dos filmes. A “história” boba, que não tem elementos suficientes para ser considerada um divertido besteirol, não causa nenhum dano cerebral sério e pode até ser vista (sem medo), se imediatamente esquecida, pelos fãs (nada exigentes) da atriz e dos atores. Todavia, em meio aos inacreditáveis problemas de direção, elenco, roteiro, técnicos etc, vale destacar a trilha sonora que, apesar de constante, é a única coisa que não incomoda. Enfim, um filme feito, na medida, para quem tem tempo para divagar nas horas vagas com o Tico e o Teco.

domingo, 5 de junho de 2011

Crítica: Kung Fu Panda 2



Os amantes de uma boa animação não têm do que reclamar. Para fechar o semestre, com chave de ouro, nesta semana estreia Kung Fu Panda 2, um filme que é pura beleza e emoção, do princípio ao fim. 

A vida de Dragão Guerreiro, o protetor dos habitantes da Vila da Paz, junto com os Cinco Furiosos (Tigresa, Macaco, Louva-Deus, Víbora, Garça) e o Mentor Shifu, é plena felicidade para o determinado, porém desajeitado e comilão Po. E ela continuaria assim, cheia de alegria e incansável assédio da população, não fosse a ameaça do pavoneante Lorde Shen, um vilão sem nenhum escrúpulo (é claro!), que pretende conquistar toda a China. Para enfrentar uma ameaça tão grande, como a de Lorde Shen, e a sua terrível e explosiva arma secreta, só mesmo o literalmente grande Po, com seus mirabolantes planos improvisados. Porém, se quiser vencer este inimigo visível, antes ele terá que enfrentar os seus próprios fantasmas e desvelar a sua verdadeira origem. 


Kung Fu Panda 2 (Kung Fu Panda 2, EUA, 2011) retorna à espetacular saga do mais improvável dos lutadores de Kung Fu, o fofíssimo urso panda Po, para contar como tudo começou. Com base no excelente roteiro de Jonathan Aibel e Glenn Berger, que não subestima a inteligência do menor ou do maior espectador, a diretora Jennifer Yuh Nelson fez um filme divertido e contagiante, dosando com delicadeza e precisão as cenas de muita ação e aventura. Os temas tradicionais, como altruísmo, honra, amizade, família, aliados à busca de identidade, são tratados sem pieguice ou didatismo. 


A animação aposta acertadamente no humor sadio e pastelão para aliviar alguns momentos mais dramáticos. A engraçadíssima sequência do dragão engolindo guerreiros é antológica. A presença de Falamacia, a sábia cabra vidente, com a sua fome animal, também é inesquecível. Na verdade, todos os personagens são cativantes, até mesmo os vilanescos. Pelo visual deslumbrante nota-se que a produção não economizou em tecnologia, enriquecendo a narrativa com variadas técnicas de animação, como o teatro de sombra, estampas, desenho tradicional, que resultam num primoroso mix-3D. O único deslize fica por conta da fraca dublagem do ator Lucio Mauro Filho, que às vezes parece não casar com a figura bonachona de Po, mas que não chega a comprometer. 


Ao final do belo espetáculo, com toda a sua filosofia oriental (mesmo que simplificada, para compreensão do público, principalmente, infantil), fica difícil entender a chiadeira dos censores chineses ao filme. É fato que o americano tem uma visão deturpada do mundo não-americano e sempre procura americanizar o que não compreende. Kung Fu Panda é uma fantasia e, como tal, até poderia tomar algumas liberdades poéticas. O que não é o caso. A maioria dos elementos já foi explorada (à exaustão) em filmes marciais (tradicionais) chineses. Toda obra intelectual propicia a cada leitor uma visão diferente, até mesmo à do autor, sobre o tema tratado. No cinema, às vezes, o espectador (crítico ou não) vê coisas que não estão no filme e que lhe parece fazer mais sentido. Ou seja, tudo é uma questão do ponto que se avista ou da metáfora que se almeja. Enfim, como dizem os fãs chineses do panda Kung Fu, em vez de censurar, a China tinha mais é que produzir filmes do gênero.
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