sexta-feira, 29 de abril de 2011

Crítica: Água para Elefantes

por Joba Tridente 

Água para Elefantes (Water for Elephants, EUA, 2011), de Francis Lawrence, baseado no best-seller homônimo de Sara Gruen, está dividindo opiniões de ontem e de hoje, para ontem e para hoje. Dizem que a romântica produção tem cara de filme antigo. Mas, qual é o problema em se fazer um filme de época nos dias de hoje? Ou melhor, como se fazer um filme, cuja ação se passa na década de 1930, sem que ele seja ou pareça ser um filme de época da década de 1930? Bahhh!

Água para Elefantes é, na medida, para quem aprecia um bom drama romântico, com pitadas de tragédia. Com roteiro assinado por Richard LaGravenese, que tomou a liberdade poética de unir personagens e pinçar apenas o essencial do livro de Gruen, o filme conta (muito bem) a história de Jacob Jankowski (Robert Pattinson), um jovem estudante de veterinária que perde os pais, num acidente, e se vê obrigado a pegar a estrada em busca de trabalho. Ao embarcar num trem, ele acaba se juntando à trupe do Circo Benzini Bros, que passa por dificuldades financeiras, por conta da Grande Depressão norte-americana. Ali, no palco das grandes ilusões, em meio a acolhedora família circense, Jacob sofre um bocado, nas mãos do psicótico August (Christoph Waltz), o dono do circo que não poupa nem a sua esposa Marlena (Reese Witherspoon), a amazona por quem se apaixona. No entanto, apesar das dores do ofício, perdas e humilhações, esta também será uma inesquecível e enriquecedora experiência de vida para ele: “Fui eu que peguei o trem, ou foi o trem que me pegou?”.

O mérito de Água para Elefantes, e que pode ser a causa de desagrados, é que ele não trata exatamente da recessão econômica americana, e sim daqueles que tentam sobreviver à Crise de 1929, como os integrantes do Circo Benzini Bros, capazes de ações sórdidas ou solidárias. A Grande Depressão é “mero” pano de fundo para o desenvolvimento de um (perigoso) triângulo amoroso e da relação deste (improvável) trio com os demais artistas circenses e, principalmente, com a exploração (cruel) dos animais que usam nas atrações principais. É um filme que emociona e provoca no espectador sentimentos que vão do riso às lágrimas, passando, com toda certeza, pela indignação. É uma história simples, talvez até banal, apesar das cenas mostrarem o contrário, na sua linearidade. Não é previsível, porque desde o início sabemos como ela irá terminar, mas surpreende pela bela e tocante narrativa.

A produção tem um apuro técnico invejável, na reconstituição de época, com ótima direção de arte. O figurino é caprichado e a bonita trilha sonora de James Newton Howard, complementa as cenas, sem induzir emoções baratas no espectador. A fotografia de Rodrigo Prieto faz a diferença no retrato de uma geração desesperada com a recessão econômica que engolfava ricos e pobres, artistas e plateias. É provável que muita gente vá ao cinema para ver o galã Robert Pattinson, que a crítica adora malhar, desde que o jovem ganhou projeção (e arrebatou corações) com a saga Crepúculo, que não vi e que, (talvez) por isso, ele não me pareceu tão mau ator assim. Pode ser ainda um pouco limitado, mas parece esforçado e disposto a convencer que (também) não é apenas um rostinho bonito no crepúsculo dos deuses. Reese Witherspoon, com seu tipo físico comum (mirrado), interpreta com alguma graça a glamourosa artista do circo decadente e Christoph Waltz, literalmente apavora, com seu maléfico August. Entretanto, quem rouba a cena é a adorável Rosie, interpretada pela veterana Tai, uma maravilhosa elefanta de 42 anos.

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