quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Crítica: Amor e Outras Drogas


por Joba Tridente

A receita de Amor e Outras Drogas é não desapontar os pacientes, digo, espectadores. A história é inspirada em fatos reais e com boas doses de humor, romance, drama, sexo e algumas dores não controladas. Na sua bula, independente do público ser ou não hipocondríaco, não há contraindicações.

Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs, EUA, 2010), é dirigido por Edward Zwick, coautor do roteiro com Charles Randolph e Marshall Herskovitz, recriado a partir do livro Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman (Venda Dura: A Evolução de um Vendedor de Viagra), de Jamie Reidy. A trama gira em torno de Jamie Randall (Jake Gyllenhaal), um sujeito bonito e conquistador que não leva a vida (também profissional) muito a sério. Não se apega a nada e a ninguém. O que importa para ele é pegar garotas (o que não tem nenhuma dificuldade) e ganhar muito dinheiro. A vida de Jamie, no entanto, começa a mudar quando arranja um novo emprego, o de vendedor de medicamento antidepressivo e meio que por acaso conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway), portadora do Mal de Parkinson. A relação entre eles, de comum acordo, é apenas sexo, sem nenhum compromisso. Mas, assim como a vida profissional do rapaz dá um salto, quando ele troca um produto por outro (dor por prazer) e começa a vender o revolucionário (na época) Viagra, os amantes começam a rever seus princípios de sexo pelo sexo.



Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway formam um belo casal e estão ótimos. Não há como não se emocionar com o drama de Maggie, tão jovem e com uma doença degenerativa ainda longe da cura. Ou admirar a cara de pau de Jamie com as suas investidas certeiras em qualquer rabo de saia que lhe interesse. Com suas idas e vindas amorosas, desamorosas, e desastrosas, como é o caso de Josh Randall (Josh Gad), irmão de Jamie e viciado em sexo na internet, Amor e Outras Drogas inicia descontraído, vai ficando meio pesado, mas na parte final, prestes a escorregar sob o peso da dramaticidade, consegue dar uma reviravolta bem satisfatória. Um dos momentos mais marcantes ocorre em uma tragicômica convenção de pacientes de Mal Parkinson onde a Lucy Roucis (atriz diagnosticada antes dos trinta anos de idade) interpreta uma comediante com a doença. Lucy, que trabalhou a construção da personagem de Anne, trabalha em Denver com uma companhia de atores chamada PHAMALY (Physically Handicapped Actors and Musical Artists League, Inc. - Liga de Atores e Músicos Portadores de Deficiências).


O roteiro pode não ter ficado uma pílula dourada, mas longe de ser um placebo, dá conta da posologia bem humorada e melodramática. A boa direção procura evitar as facilidades do clichê, nos trocadilhos com a venda e uso do Viagra e nas mudanças de rumo dos protagonistas e coadjuvantes. A fotografia de Steven Fierberg é caprichada e a trilha beira a discrição. É um filme que se assiste mais com sorriso nos lábios do que com lágrimas nos olhos. Apesar da temática farmacológica, não é uma produção que vá fazer a felicidade dos hipocondríacos. Mas vai “divertir” os depressivos com a boa piada de um mendigo e as (benditas) amostras grátis que ele encontra no lixo, por conta de um certo domínio de mercado entre o Zoloft e o Prozac.

O livro (ainda não lançado no Brasil), segundo os comentários de leitores, em sites literários americanos, traz um relato muito engraçado e devastador sobre o comércio de remédios e o advento dos anúncios de medicamentos na TV (no final da década de 1990), e passa longe do drama do filme que, é claro, sempre carrega um pouco na emoção. Afinal, um livro o leitor interpreta do jeito que quiser e um filme ele vê somente o quê o diretor quer. Por isso que nem sempre um tem a ver com o outro.

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