quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Crítica: Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme


Crítica: Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme

Há algo em comum entre o excelente Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme (Wall Street: Money Never Sleeps, EUA, 2010), de Oliver Stone e o superestimando Origem (Inception, EUA, RU, 2010), de Christopher Nolan. A premissa dos dois é a mesma: o capitalismo selvagem (ou canibalismo capitalista), a ganância, a ambição, a trapaça, a mentira, a corrupção, a “independência” financeira (e o domínio de mercado) a qualquer custo. Mas também há algo diferente na forma de narrar (e tratar) o tráfico de informação (e de influência) e as sutilezas que formalizam um roubo quase perfeito, quando se planta idéias tendenciosas na “cabeça” das “vítimas” de ocasião.

Em Wall Street, um (vilão executivo) engana muitos (através de sugestão), para ficar com toda a riqueza possível. Em Origem muitos enganam um (através de sugestão), para ficar com toda a riqueza possível. Se no filme de Stone a sugestão se dá através da perícia no uso da palavra (mentirosa), fazendo com que pessoas (mesmo aliadas) tomem medidas drásticas, em Nolan a sugestão se dá através dá perícia do uso da palavra (mentirosa) na lavagem cerebral, provocando uma reação imprevisível. No entanto, a carga de signos e significados de Oliver é muito mais rica e melhor trabalhada, na briga de gente grande, do que a de Christopher. Para um, o que conta são os percalços da vida real (mais ou menos) como ela é. Para o outro, o que vale é a via de um pesadelo (mais ou menos) sem fim. Um é preciso, direto e certeiro, como (espera-se) uma aposta na Bolsa de Valores. O outro prefere complicar o cochilo, para parecer inteligente. Enquanto Oliver Stone trabalha com peças, jogos e gráficos (lógicos) e trilha sonora chique, ilustrando e reforçando (subliminarmente) a narrativa, Christopher Nolan se vale de mirabolantes e belos efeitos especiais e música vigorosamente intrusiva, para distrair a atenção do espectador de uma narrativa frouxa.


Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme traz de volta, 20 anos depois, Gordon Gekko (Michael Douglas), mais dissimulado que nunca. Segundo ele, além de regenerado, muito bem (in)formado. A prisão foi uma escola valorosa. Ali teve tempo suficiente para saber o que deu errado no seu grande golpe e aprender como corrigir as falhas de estratégia, numa eventual reincidência. Fora das grades, ele vai descobrir que as cartas (e o dinheiro) só mudaram de mãos. Agora, quem banca o jogo é Bretton James (Josh Brolin), um desafeto seu. Todavia, ainda é um jogo onde cabe um ou mais jogadores: o jovem talentoso do ramo de investimento, Jacob Moore (Shia LaBeouf), que namora, Winnie Gekko (Carey Mulligan), sua filha, e ele, o próprio garganta profunda: “Não diga mentiras sobre mim, que eu não direi verdades sobre você”.

A narrativa de Wall Street é elegante, ao falar da “gente fina” que pratica crimes nos bastidores, sempre em busca do prazer de ter mais, muito mais dinheiro. Não há tiroteios, cenas de explosivas perseguições (a pé, de carro, trem, ou avião), de mortes espetaculares. A maldade, aqui, está nos detalhes das obras de arte, da arquitetura gráfica de NY, do “cheek to cheek”..., entre bolhas de sabão. Assim como na tênue luz que testemunha as negociatas sombrias. A narrativa é precisa, direta, sem enrolação. Não é preciso nenhuma formação em economia, administração de empresas, especialização em investimento financeiro ou sequer ter visto o Wall Street - Poder e Cobiça, de 1987, para acompanhar o convincente roteiro de Allan Loeb e Stephen Schiff. Afinal, o Brasil é um palco rico no ramo da falcatruagem. Quase diariamente somos inundados por denúncias de políticos e empresários envolvidos nas mais diversas fraudes. O consolo é que, na ficção, sempre é passível de punição.


Oliver Stone, que parece até dono do próprio nariz, faz raros filmes de qualidade, feito esse, e muita coisa (equivocada) esquecível, principalmente os mais “politizados”. Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme, é muito bom na sua “crítica” ao sistema financeiro (e à especulação generalizada), mas não é perfeito. Apesar da montagem e trilha fascinantes e boas atuações, tem um pré-final previsível e um final maionese com ketchup, tipicamente americanos. Se bem que, pensando na crise de lá, é até coerente..., e pra família (americana) nenhuma botar defeito no seu positivismo exacerbado e esperançoso, num céu de bolhas que insistem em pipocar. No entanto, esse é um (pequeno?) detalhe clichê que não compromete (tanto) o que o precedeu.

3 comentários:

  1. Fui ver "Wall Street 2" com um pé atrás pensando que seria novamente mais do mesmo e Stone fosse contar a mesma história mais uma vez. Porém fui surpreendido com um filme muito melhor que o primeiro, este deixa aquele de 22 anos atrás no chinelo. Tá certo que a trama é um pouco confusa, mas vale a pena fazer um esforço. Interessante ver como Gordon Gekko parece um peixinho inofensivo perto dos tubarões atuais. E o happy end realmente é de doer, mas não compromete. No geral Oliver Stone mandou bem!
    Podem ir sem medo ao cinema o novo filme vale o ingresso, a pipoca e a coca-cola.
    P.S.: A participação especial de Charlie Sheen não é interpretando o personagem Budd Fox do primeiro filme e sim Charlie Harper da série de tevê "Two and Half a Men".

    ResponderExcluir
  2. Olá, Antunes.
    O que dá um charme a mais à trama é a carga simbólica e o divertido e inteligente uso dos efeitos (gráficos) visuais.

    Abração.
    T+
    Joba

    ResponderExcluir
  3. É mesmo eu ia escrever sobre os efeitos visuais e acabei esquecendo. Mas são muito legaís mesmo, os gráficos, as bolhas e etc.
    Stone soube usar a computação gráfica em benefício da história.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...