sábado, 3 de julho de 2010

Crítica: Quincas Berro dÁgua



Quincas Berro dÁgua

Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há.(Frase derradeira de Quincas Berro Dágua, segundo Quitéria que estava ao seu lado)

Quincas Berro dÁgua (Brasil, 2010) é uma livre adaptação da novela A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua, de Jorge Amado. Roteirizado e dirigido por Sérgio Machado, no entanto, está mais para Uma Outra Morte à Morte de Quincas Berro Dágua, tantas as liberdades tomadas desnecessariamente e que comprometem (e muito) o realismo mágico da obra original.


No filme, amigos de bebedeira, jogatina e sexo, preparam uma festa surpresa para Quincas (Paulo José), mas o aniversariante não aparece. E nem poderia, no mesmo instante, bêbado e solitário ele está se deixando morrer em um quarto imundo que ocupa num pardieiro. A morte de Quincas causa muita tristeza na zona de meretrício e arredores, onde vagabundeava diuturnamente. A sua família é avisada e trata de providenciar um serviço funerário respeitável, mas não rápido o suficiente para se ver livre de tal constrangimento. O que facilita a ação de quatro inconsoláveis amigos ébrios, que insistem em oferecer uma noitada festiva ao morto, que acreditam vivo, por diversos lugares de Salvador.

Quincas Berro dÁgua é uma história que chega moribunda (ôps!) aos cinemas. Começa modorrenta e vai virando ressaca, deixando o leitor indignado (com as bobices que descaracterizam a obra) e o espectador embasbacado (com tamanha desfaçatez). É que, quem leu a deliciosa novela, que prima pelo lirismo, com sua linguagem tocante, cheia de graça e classe, vai se sentir incomodado ao vê-la ilustrada na forma de uma comédia chula com piadas chatas e a invenção de um final (para a filha e genro) que deve fazer Jorge Amado se (re)virar no túmulo. Mas, como cinema é uma coisa e literatura (de qualidade) é outra, quem não leu e (infelizmente) não pensa em ler esta que é uma das melhores obras do mestre baiano e aprecia comédia popularesca, deve até gostar. Só precisa tomar cuidado para não quebrar a cara, se necessitar fazer um resumo da obra e preferir ver o filme a ler o livro.


Quincas Berro dÁgua tem alguns problemas técnicos (principalmente de som), de continuidade e alguns vacilos (piscadela, respiração, expressão) de Paulo José, na pele de um morto redivivo. Vale destacar o excelente trabalho de Mariana Ximenes (Vanda, filha de Quincas) e mais acertos que erros na composição do quarteto cachaceiro, formado por Flávio Bauraqui (Pastinha), Luis Miranda (Pé de Vento), Irandhir Santos (Cabo Martin) e Frank Menezes (Curió). Enfim, o bom do filme é que Quincas morre três vezes: a primeira para sociedade burguesa, a segunda em seu quarto imundo, a terceira ao se entregar à Iemanjá, e o público morre de tédio apenas uma vez.

2 comentários:

  1. Há uma adaptação mais fiel ao livro feita pela Globo em 1978, com o nome original, em Paulo Gracindo interpreta Quincas e Dina Sfat faz o papel que nesta adaptação ficou com o Marieta Severo.
    Naquele especial Walter Avancini que escreveu o roteiro e dirigiu. Tomara que a Globo aproveite a oportunidade e tire o especial da gaveta.
    Quanto a este filme, ele tem seus bons momentos, pena que são poucos, muito poucos.

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  2. Olá, Antunes.
    Lembro do Especial da Globo.
    Quanto ao filme, os bons momentos (que percebeu) são tão raros que passam batido.
    Tomara que o "filme" não afaste os leitores da obra original.

    Abs.

    T+
    Joba

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