quarta-feira, 28 de julho de 2010

Crítica: SALT


SALT
ou Salt Bond Hunter - Uma Agente Explosiva

Salt (Salt, EUA, 2010) é um filme de ação-clichê e nada mais. A antiquada e mirabolante história (anos 1960/70), no requentado estilo guerra de gelo, digo fria, entre EUA e Rússia (como sempre), tem muito barulho, pancadaria, carros e mais carros indo pelos ares, tiros à queima-roupa, à sapeca-roupa, à longe da roupa, e uma dona que, SOZINHA, salva o mundo (mais uma vez) da “perversidade russa” e (mais uma vez) da sandice do roteirista Kurt Wimmer.

A trama (?) dirigida por Phillip Noyce parece uma releitura biruta de Os Meninos do Brasil (The boys from Brazil, EUA, 1978), de Franklin J. Schaffner, baseado no romance homônimo de Ira Levin, que trazia no elenco gente do naipe de Gregory Peck, Laurence Olivier, James Mason, Lili Palmer. Ah, não se lembra do velho drama? É aquele do clonezinhos de Hitler, criados a partir de células hitlerianas congeladas e óvulos de mulheres semelhantes à mãe dele etc. Em Salt, saem os nazistas e entram os russos com um projeto ainda mais descerebrado, desenvolvido pela mente “brilhante” de um estrategista sociopata que, com certeza, deve ter lido o livro de Levin ou visto o filme de Schaffner. Inventa daqui e copia de lá, é só trocar Joseph Mengele (Gregory Peck) por Orlov (Daniel Olbrychski). A “inocente” experiência científica (no Paraguai e na Rússia) visa: Desenvolvimento da ciência? Lavagem cerebral? Domínio mundial? Enfiar os EUA numa saia justa? Ou leitmotiv pros americanos continuarem cometendo tolices cinematográficas do gênero?



Com alguns furos e muita exigência do Tico e Teco, pra fazer de conta que o óbvio que se desenha no princípio não se concluirá no final, Salt, assim como o recente desastre de ação Encontro Explosivo (Knight and Day, EUA, 2010), com Tom Cruise e Cameron Diaz, dirigido por James Mangold, se destina a quem tem problemas pra entender um enredo verossímil ou minimamente elaborado e vai ao cinema apenas pra se adrenalinar com seus ídolos, se é que depois de trocentos filmes iguais ainda consiga entrar no clima. A linda Angelina Jolie (Evelyn Salt) não pergunta, mata! Bem, afinal ela uma agente americana (ou seria russa?) com licença para matar, explodir etc. A matança do começo ao fim (praticamente sem sangue), por conta da faixa etária americana que se incomoda com a gosma, se dá por amor, por dor, por traição, por patriotismo, por profissão etc. Eu culparia principalmente as perucas horrorosas que ela usa. Dizem que perguntar não ofende, assim, filme a filme policialesco, CIA quer dizer Central de Inteligência Americana ou Central de Idiotas Americanos? Porque, ô Agencia Central de Inteligência pra ter gente stupid, digo estúpida. Seria patético, não fossem patetas.


Salt é mais um aventureiro produto de ação (colcha de roteiros) que, assim como Encontro Explosivo, vai pegando carona (no meio, na frente, atrás) em produções onde o que conta são as correrias e assassinatos espetaculares (aos modos de James Bond e Ethan Hunt) e acaba tropeçando e caindo no colo de Dupla Implacável (From Paris With Love, França, 2010) dirigido por Pierre Morel, com John Travolta e Jonathan Rhys Meyers, só que sem o humor. A bem da verdade, a sequência de Evelyn Salt, em trajes sumários, sendo torturada na Coréia do Norte, é uma tentativa pífia de repetir a marcante sequência de tortura de James Bond (Daniel Craig) em 007 - Cassino Royale (Casino Royale, 2006), de Martin Campbell.


Ah, a síncope, digo sinopse de Salt. Conta-se que o filme seria protagonizado por Tom Cruise, que recusou o papel de Edwin Salt, por achá-lo muito parecido com Ethan Hunt, de Missão Impossível, e foi fazer o Roy Miller (acusado de traição e de ser um agente duplo) de Encontro Explosivo, muito parecido com Ethan Hunt, de Missão Impossível. Bem, foram alterados alguns pontos e vírgulas no roteiro de Salt e Angelina Jolie, cujos filhos adoram vê-la dando porrada em homens, assumiu o papel da agente explosiva Evelyn Salt. A funcionária pública da CIA, acusada de traição e de ser uma agente dupla, pronta a instalar o caos no mundo americano, vai correr contra o tempo para provar o contrário do que todos envolvidos (nem) imaginam, mostrando (se conseguir) que o verdadeiro perigo está ao lado deles. Uau!

NOTA: Caro leitor, não se preocupe com a desordem dos parágrafos. Fique à vontade. Leia-os na ordem que bem entender. Até mesmo debaixo pra cima. Essa é uma singela homenagem ao filme.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Crítica: Almas à Venda


Almas à Venda

Almas à Venda é o típico filme que se ama ou se odeia. Não tem meio termo. Ou sai da sala no início ou fica até o fim e se delicia com um cinema raro. Um cinema provocativo que leva à reflexão, através de uma narrativa inteligente e segura, na exposição da arte de (bem) interpretar em qualquer palco da vida. O teatro nos acompanha do nascimento à morte. Aprendemos a representar assim que nascemos (pelo que queremos) e continuamos vida afora (pelo que sonhamos) até findar no caixão (na atuação daqueles que nos velam). Nas telas já vimos muitos personagens invejosos e poderosos que não se satisfazem com simples troca de identidade, de face, de corpo..., mas, e se pudessem negociar a própria alma?


Almas à Venda fala de um tempo em que até mesmo a alma humana pode ser negociada, alugada ou até emprestada, por algum valor (compatível) nada simbólico. Paul Giamatti (por ele mesmo) é um ator americano que, em meio aos ensaios da peça Tio Vânia, de Anton Tchecov (1860-1904), não consegue se dissociar do personagem amargurado que interpreta e, como se carregasse toda a culpa e as dores do mundo, começa a se sentir depressivo, comprometendo a sua atuação. Ao ler um artigo, na revista The New Yorker sobre uma empresa que alivia o sofrimento das pessoas, através da extração da alma, ele resolve procurá-la. Depois de uma absurda conversa (sobre os percalços da alma) com o Dr. Flintstein (David Strathairn), decide experimentar o revolucionário tratamento. Bem, é claro que não lhe avisam dos efeitos colaterais e muito menos do tráfico de almas entre os EUA e a Rússia, que é onde a sua vai parar, para satisfação de Sveta (Katheryn Winnick), uma belíssima e medíocre atriz, que sonha em possuir a alma de premiados atores americanos. Se para Giamatti, o tragicômico ator teatral, não era nada fácil carregar uma alma sofrida, tentar recuperá-la, antes que seja arruinada, será muito pior.


Quem gosta de variar e até mesmo radicalizar na apreciação da sétima arte, não vai se decepcionar com o ousado e belo Almas à Venda (Cold Souls, EUA, França, 2010), roteirizado dirigido por Sophie Barthes. Ele lembra o melhor das obras estranhas (bizarras!) e nonsense de Charlie Kaufman e do mestre Woody Allen, recheadas de tiradas metafísicas e personagens surreais. No entanto, quem não tem intimidade e apreço pelo teatro e pela filosofia, passe ao largo, porque dificilmente vai entender o jogo de palavras e a metáfora do tráfico de almas (entre EUA e Rússia) que remetem tanto a Almas Mortas, de Nikolai Gógol (1809-1852), quanto ao pensamento (do desejo e da vontade) de Arthur Schopenhauer (1788-1860).


Irônico, mas tremendamente poético, de uma ludicidade comovente, Almas à Venda fala do homem-coisa (que pode ser comercializado no todo ou em pedaços) e do que ainda lhe resta de dignidade, de humanidade, num mundo em que a identidade é o que menos importa. Questiona as insatisfações profissionais, pessoais e o próprio existir. É um filme difícil de classificar, pois varia no humor e no drama. Se num momento provoca um riso solto (sem ser gratuito), com Paul Giamatti embasbacado diante do peculiar formato de sua alma, noutros emociona profundamente (sem ser piegas), ao destacar uma gente a quem só resta vender a própria alma. Infelizmente é uma obra para um público seleto. O espectador que se deixar envolver pelo aquém e além da narrativa verá uma obra singular e com a excelência técnica de uma fascinante fotografia (naturalista) com direção de Andrij Parekh. Sublime, do princípio ao simbólico final. E que final!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Crítica: Predadores



Predadores versus Predadores

Fãs dos personagens Alien (1979) e Predador (1987) sabem que o melhor de cada um está na individualidade. Essa coisa de intriga (entre os ETs) nasceu no mundo dos quadrinhos, onde ambos já se viram obrigados a trocar sopapos com heróis de plantão, além de protagonizar histórias solos. É incompreensível que tenham sido explorados e execrados por tantos anos sem recorrer, sequer, aos seus devidos sindicatos. Será que também as questões sindicais interplanetárias têm lá seus entraves? Todavia, para a alegria geral dos amantes dos monstrengos ácidos e invisíveis, com ou sem acordo trabalhista, parece que os abusos chegaram ao fim.


Com o lançamento de Predadores (Predators, EUA, 2010), depois das bobagens mix (AvsP-1 e 2), finalmente a natureza do Predador foi restaurada num filme que faz jus ao personagem alinígena que, quando esteve na Terra, em 1987 e 1990 (turismo de caça), só matava assassinos, traficantes, guerrilheiros..., e talvez por isso caiu no gosto do público. Lá se vão 23 anos, desde que o os frequentadores dos cinemas (principalmente de rua) conheceram o poderoso monstrengo sanguinário que tinha o poder da invisibilidade, uma cabeleira rastafári e impressionava (causando asco) pela forma como limpava e guardava os seus troféus. Ele continua grandalhão, cheio de novos truques, e o seu esporte favorito ainda é caçar assassinos iguais a ele. O que, convenhamos, é o que não falta por aqui. No entanto, desta vez, prefere lutar de igual para igual (ou mais ou menos isso), em um planeta neutro. Assim, sem que nem mais porque, os “melhores” mercenários do mundo são sequestrados (abduzidos?) em plena atividade criminosa nos EUA, México, Ásia, África, Rússia, Israel..., e literalmente lançados de pára-quedas num planeta feioso em algum lugar do Universo. O assassino que não morrer na queda pode não ter chance de continuar vivo, quando conseguir ficar em pé. É temporada de caça: Predadores versus Predadores, então, é pernas e balas pra que te quero.


Dirigido por Nimrod Antal, baseado num antigo roteiro de Robert Rodriguez, escrito em 1994 (para ser o Predador-3), atualizado por Alex Litvak e Michael Finch, apesar dos clichês de praxe, Predadores, é coerente com o primeiro filme e pode agradar os amantes do gênero ficção com pitadas de terror. Há um suspense interessante, que começa com os mercenários “caindo” do céu, feito moscas, numa floresta desconhecida e tentando se situar, desconfiando até da própria sombra, e vai quase até a metade do filme, quando a caçada insana realmente começa. Pode até lembrar a série Lost, mas o pesadelo ali é outro. Quem conhece o clássico O Predador (*) não vai se sentir um estranho no ninho inóspito, mas quem (por alguma razão) nunca ouviu falar dele, durante o filme vai saber o que aconteceu em 1987.


Predadores é um bom thriller multirracial e traz um elenco competente: Adrien Brody é Royce, um mercenário, Laurence Fishburne é Noland, um enlouquecido sobrevivente de três temporadas de caça, Topher Grace é Edwin, um misterioso médico, Alice Braga é Isabelle, uma atiradora de elite do exército israelense, Walton Goggins é Stan, um serial killer, Danny Trejo é Cuchillo, líder de uma quadrilha de drogas, Oleg Taktatov é Nicolai, um soldado das Forças Especiais da Rússia, Mahershalalhashbaz Ali é Mombasa, um soldado africano, Louis Ozawa Changchien é Hanzo, um matador da Yakuza. O filme não é nenhuma obra-prima do cinema de ação e suspense, porém, cumpre bem o papel de divertir, muito além da pipoca, já que a história é bem conduzida e o medo que o (novo) espectador pode sentir não vem de um irritante “susto musical”, mas do clima da narrativa (que remete à primeira versão). Ele é bem produzido e, não fosse o previsível final (ainda mais em aberto), que embaça um pouco os bons momentos de pavor do filme, o céu de mercenários poderia dar um desfecho muito mais interessante.

(*) O Predador (Predador, EUA, 1987), direção de John McTiernan, com Arnold Schwarzenegger (Major Alan "Dutch" Schaeffer). Predador 2 (Predador-2, EUA, 1990), direção de Stephen Hopkins, com Danny Glover (Mike Harrigan). O roteiro de ambos foi escrito por Jim Thomas e John Thomas.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Crítica: Encontro Explosivo


Encontro Explosivo
ou James Bond em True Lies: a Missão Impossível

Eu também vou me repetir. Quando o americano não está invejosamente refilmando o cinema estrangeiro, melhor do que o seu, esta refilmando a si mesmo de forma escandalosamente mais explosiva (em número de veículos, armas, mortos) e com efeitos especiais (de qualidade discutível) para aquele público cujo Tico está em ferias e o Teco hibernando e parou ali pra tirar um cochilo. Se pagar meia ou tiver convite, com certeza, vai reclamar menos.


Encontro Explosivo (Knight and Day, EUA, 2010) é um filme para quem nunca viu ou ouviu falar de James Bond, do divertido True Lies (James Cameron, 1994), Missão Impossível e de et ceteras que têm um “explosivo” (ou dupla) qualquer no título. Daqueles em que um sujeito sozinho (ou seria bonzinho?) livra o mundo (isto é, os EUA) dos sujeitos mauzinhos. Roy Miller (Tom Cruise) - similar a Ethan Hunt, de Missão Impossível - é um agente do FBI, com licença para matar e explodir qualquer pessoa ou coisa que atravanque o seu caminho em qualquer lugar da Terra. A sua “missão” é proteger um inventor e o seu invento (revolucionário no consumo de energia) que despertou a cobiça do governo americano, traficantes e oportunistas de plantão. June Havens (Cameron Diaz) é a loira burra, digo mula, que esbarra nele, num aeroporto, e sem que nem mais porquê é envolvida na tramóia caça-níquel. As suas cara e bocas seriam cômicas, não fosse a canastrice que também abraça Cruise e vai encontrar par em Paul Dano, no papel do debilóide nerd lerd, digo lerdo, Simon Feck.


Encontro Explosivo é uma “comédia” insossa que cansa pela insistente repetição de carros explodindo (voando, trombando, despedaçando) e bandidos (armados até os dentes) ruins de mira e o mocinho Tom de sempre, mesmo desarmado, matando os seus “inimigos” e “parceiros”, aos montes. A produção, é claro, preocupada com o bolso, apela para mortes sem sangue e explosões sem corpos, para não perturbar a paz de espírito dos espectadores mais sensíveis e que ainda apreciam esse tipo de filme, onde bandido e mocinho, às vezes, se diferenciam apenas pelo distintivo. É difícil acreditar que James Mangold (de Johnny & June) tenha dirigido essa tolice de ação (re)clonada, tamanha a pobreza criativa que vai da fajuta colcha de roteiros, costuradas por Dana Fox e Scott Frank, à falta de química, de sex appel, de sintonia entre Cruise e Diaz. Não há humor, amor e muito menos sexo. Enfim, como não se salva nem o trocadilho do título original, a dica para o fã do casal protagonista não se aborrecer é a de ficar adivinhando (ACERTANDO TODAS!) as ações e reações que vão acontecer no troca-troca de clichês.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Crítica: Shrek Para Sempre


Shrek Para Sempre
o capítulo final

Para tristeza de muitos, nove anos depois da primeira aventura, chega ao fim (nos cinemas) a grande saga de Shrek, Fiona, Burro Falante e Gato de Botas. Nem parece que faz tanto tempo assim que o adorável solitário Ogro Verde caiu no gosto de milhões de espectadores mundo afora e adentro. Pois é, ele deixou o mau humor de lado, salvou uma princesa, se casou, recusou um reino, teve três filhos, mas, agora, decidiu dar um basta e voltar a viver a vida que sempre quis, longe de tudo e de todos... Será?!


Shrek Para Sempre (Shrek Forever After, EUA, 2010), dirigido por Mike Mitchell, chega pra fechar, com chave de ouro, a deliciosa e politicamente incorreta série que bagunçou os Contos de Fadas com uma irreverência que deu o que falar. Este capítulo final aborda, de maneira espetacular, o mundo masculino, no pós-casamento, com a chegada dos filhos e a rotina doméstica na partilha de afazeres. Se o bicho homem é inconstante e impaciente com a própria prole e sempre arranja um jeito de deixá-la ao encargo da mulher, imagine então um Ogro selvagem que queria distância de qualquer ser vivo, que não fizesse parte do seu cardápio alimentar, e, de uma hora pra outra, se viu domesticado e rodeado de mulher, amigos, filhos. É de enlouquecer!


Com roteiro de Josh Klausner, a animação, em excepcional 3D, narra um dia daqueles na vida do estressado Shrek, que, cansado do seu cotidiano, decide fazer um trato com Rumpelstiltskin (saído diretamente das páginas de Contos dos Irmãos Grimm) pra voltar a ser o terrível Ogro que aterrorizava as pessoas. Mas, em se tratando de Rumpelstiltskin, as coisas não saem exatamente como Shrek esperava e ele vai ter que correr contra o tempo, pra consertar tudo e escapar da realidade alternativa onde foi parar. E, em se tratando de Shrek, com a sua “delicadeza selvagem”, é uma confusão atrás da outra.


Apesar do roteirista ser o mesmo de Shrek Terceiro (e da tola “comédia” Uma Noite Fora de Série, bem inferior à animação), para quem a crítica torceu o nariz, não me parece que Shrek Para Sempre, tenha vindo apenas (ou sequer) pra botar panos quentes num discutível mal-entendido cinematográfico no mundo animal da animação. Também porque, para a alegria do espectador, o humor descarado que sempre marcou as histórias do grandalhão (até mesmo no 3º filme) continua presente nesta animação levemente dramática, muito romântica e cheia de surpresas, no resgate de velhos personagens e introdução de novos, como a divertida Tribo de Ogros Rebeldes. Ele não conta com a presença do maquiavélico Príncipe Encantado ou das feministas Princesas, já que o filme se passa antes e depois da época conhecida, mas continua buscando referências no cinema e na literatura. Se bem que só um cinéfilo de carteirinha vai entender a sequência marcada pela fantástica música de Amargo Pesadelo (Deliverance, de John Boorman).


Shrek Para Sempre é diversão certa, acredito, para um público acima de seis anos, acostumado com filmes (e jogos) de muita ação. Em meio a balbúrdia geral, no caótico Reino de Tão Tão Distante (nas mãos de um duende ambicioso, feiticeiras e bruxas), a animação traz mensagens positivas, sem ser piegas, sobre as relações de amizade e de companheirismo. E ainda, de quebra, ironiza a “glamourosa” vida das celebridades. Só pra ver a metamorfose do elegante Gato de Botas, no mundo alternativo, já vale o ingresso, inclusive em 3D. Shrek Para Sempre tem uma agradável e oportuna trilha pop, gags excelentes e personagens ainda mais carismáticos. É um filme que se vê com gosto e (já) com uma pitada de saudosismo.

domingo, 4 de julho de 2010

Crítica: Em Busca de Uma Nova Chance


Em Busca de Uma Nova Chance

Assistir ao cineterapia Em Busca de uma Nova Chance é ter a sensação de estar vendo uma mistura de dois grandes e premiadíssimos filmes do gênero: Gente Como a Gente (Ordinary People, EUA, 1980), de Robert Redford e O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio, Itália, 2001), de Nani Moretti. A trama e o drama dos personagens são bem semelhantes. Ou seja, uma família de classe média que se desestrutura com a morte (num acidente) de um dos dois filhos do casal, o mais amado pela mãe, que não aceita tal perda e culpa o filho que “continua” vivo. A mãe perde o chão, o filho perde o rumo e o pai, que segura a estaca, vai acabar desabando junto com a casa. E então começa a (re)construção de uma nova e harmoniosa família, mais firme e forte que a anterior.

Previsível como a trilha sonora que ilustra cada ação dos personagens, feito um vídeoclip mal roteirizado, Em Busca de Uma Nova Chance (The Greatest, EUA, 2009), dirigido por Shana Feste, é uma típica cineterapia pós-morte não recomendada para quem passou por um trauma recente ou for cinediabético. Ele começa com um clipe musical literal, acompanhando as veladíssimas ações amorosas de um jovem casal, Bennett Brewer (Aaron Johnson) e Rose (Carey Mulligan), em um quarto, e segue com os jovens, num carro, por uma via arborizada, até o momento em que o garoto, estupidamente para no meio da estrada, dizendo ter algo importante para dizer à garota, que o aconselha a estacionar no acostamento. Bem, sabe como são impulsivos os jovens apaixonados, não estão nem aí pra segurança..., e antes que ele se dê conta: POW! CRASH!


Isso posto, a sessão terapêutica esta preparada: a mãe, Grace Brewer (Susan Sarandon), surta, não aceita a morte do filho, ignora o marido, Allen Brewer (Pierce Brosnan), a quem acusa constantemente de não sofrer (como ela) pelo filho morto, e não dá a menor atenção ao caçula, Ryan Brewer (Johnny Simmons), que, se sentindo ainda mais rejeitado, se entrega às drogas, É nesse clima pesado de histeria coletiva, quando a psicose de Grace cria um clima de estranheza entre todos, que aparece Rose, dizendo estar grávida de Bennett e não ter pra onde ir.

Não é preciso nenhuma bola de cristal pra saber o que vai acontecer. Rejeição ou redenção? Enquanto o espectador decide vai “apreciar” a obsessão de Grace atrás das últimas palavras do filho, ditas ao motorista que se envolveu no acidente; a busca de Ryan por ajuda através de terapia em grupo; a tentativa de Allen voltar à rotina de professor universitário. Isso tudo embalado por música incidental e acidental. Quanto a Rose, ela sabe quase nada sobre o pai do seu filho.

Triste, melancólico, pesado mesmo, no estilo “mar de lágrimas”, Em Busca de Uma Nova Chance tem um bom elenco que se entrega, com vontade, a um roteiro frágil e sem novidades. Tudo se dará como está escrito, ou se espera, ou se deseja. Apesar do clima trágico é um filme linear (ou seria regular?) onde tudo funciona conforme o “combinado”. E sem piadas escatológicas.

sábado, 3 de julho de 2010

Crítica: Quincas Berro dÁgua



Quincas Berro dÁgua

Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há.(Frase derradeira de Quincas Berro Dágua, segundo Quitéria que estava ao seu lado)

Quincas Berro dÁgua (Brasil, 2010) é uma livre adaptação da novela A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua, de Jorge Amado. Roteirizado e dirigido por Sérgio Machado, no entanto, está mais para Uma Outra Morte à Morte de Quincas Berro Dágua, tantas as liberdades tomadas desnecessariamente e que comprometem (e muito) o realismo mágico da obra original.


No filme, amigos de bebedeira, jogatina e sexo, preparam uma festa surpresa para Quincas (Paulo José), mas o aniversariante não aparece. E nem poderia, no mesmo instante, bêbado e solitário ele está se deixando morrer em um quarto imundo que ocupa num pardieiro. A morte de Quincas causa muita tristeza na zona de meretrício e arredores, onde vagabundeava diuturnamente. A sua família é avisada e trata de providenciar um serviço funerário respeitável, mas não rápido o suficiente para se ver livre de tal constrangimento. O que facilita a ação de quatro inconsoláveis amigos ébrios, que insistem em oferecer uma noitada festiva ao morto, que acreditam vivo, por diversos lugares de Salvador.

Quincas Berro dÁgua é uma história que chega moribunda (ôps!) aos cinemas. Começa modorrenta e vai virando ressaca, deixando o leitor indignado (com as bobices que descaracterizam a obra) e o espectador embasbacado (com tamanha desfaçatez). É que, quem leu a deliciosa novela, que prima pelo lirismo, com sua linguagem tocante, cheia de graça e classe, vai se sentir incomodado ao vê-la ilustrada na forma de uma comédia chula com piadas chatas e a invenção de um final (para a filha e genro) que deve fazer Jorge Amado se (re)virar no túmulo. Mas, como cinema é uma coisa e literatura (de qualidade) é outra, quem não leu e (infelizmente) não pensa em ler esta que é uma das melhores obras do mestre baiano e aprecia comédia popularesca, deve até gostar. Só precisa tomar cuidado para não quebrar a cara, se necessitar fazer um resumo da obra e preferir ver o filme a ler o livro.


Quincas Berro dÁgua tem alguns problemas técnicos (principalmente de som), de continuidade e alguns vacilos (piscadela, respiração, expressão) de Paulo José, na pele de um morto redivivo. Vale destacar o excelente trabalho de Mariana Ximenes (Vanda, filha de Quincas) e mais acertos que erros na composição do quarteto cachaceiro, formado por Flávio Bauraqui (Pastinha), Luis Miranda (Pé de Vento), Irandhir Santos (Cabo Martin) e Frank Menezes (Curió). Enfim, o bom do filme é que Quincas morre três vezes: a primeira para sociedade burguesa, a segunda em seu quarto imundo, a terceira ao se entregar à Iemanjá, e o público morre de tédio apenas uma vez.
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