terça-feira, 18 de maio de 2010

Crítica: Chloe - O Preço da Traição


Chloe: Julianne Moore e Amanda Seyfried
Chloe – O Preço da Traição

Chloe é o mais recente trabalho do diretor Atom Egoyam. Um observador mais dedicado o reconhecerá, de imediato, como uma (per)versão canadense de Natalie X, (Natalie..., França, 2003) produção dirigida por Anne Fontaine, com Fanny Ardant (Catherine), Gérard Depardieu (Bernard), Emmanuelle Béart (Natalie), nos papéis que agora são de Julianne Moore (Catherine), Liam Neeson (David), Amanda Seyfried (Chloe).

Chloe, que por aqui, na terra dos (repe)títulos bizarros, virou O Preço da Traição (que já é título de Mulholland Falls, policial com Nick Nolte, dirigido por Lee Tamahori, em 1996) tem dividido opiniões. A sua trama, com pinceladas de melodramática sensualidade e algumas pitadas de thriller, toca uns e não convence outros. É um filme que trabalha com a arte da imaginação de Chloe, Catherine e do espectador que, se não aceitar as regras do jogo de palavras, digamos, um tanto masoquista, entre as duas, vai se decepcionar. Se bem que, se ficar atento, vai matar (ops!) a charada no primeiro encontro e dar o xeque-mate no terceiro, mesmo não tendo visto Natalie X. Aí, a história das belas Julianne e Amanda perde toda a graça.

Catherine (Juliane Moore) é uma famosa ginecologista, casada com David (Liam Neeson), professor universitário, e mãe de um filho adolescente que a trata mal, sem nenhuma razão aparente. Na manhã seguinte ao aniversário de David, ela casualmente encontra no celular do seu marido, uma mensagem enviada por uma jovem. Uma ou mais amantes explicaria a perda do desejo sexual dele. Catherine contrata os serviços de uma prostituta chamada Chloe (Amanda Seyfried), pra seduzir o marido e descobrir a verdade. Chloe relata, com minúcias, cada encontro com David. As detalhadas narrativas sexuais da prostituta provocam desconforto e prazer em Catherine, que se envolve mais e mais com os relatos, sem se preocupar com os sentimentos da garota ou se está indo longe demais.

O Preço da Traição (Chloe - EUA, Canadá, França, 2009) tem uma produção bem cuidada e Julianne, cada vez mais linda e sempre competente, tira de letra um papel carregado de nuances. Amanda é uma bela garota, boa atriz, mas lhe falta o que sobra em Moore, sex appeal. E a personagem de Liam Neeson (David), objeto de desejo sexual das duas mulheres, é um sujeito apático até nas relações sexuais. Talvez por conta de um roteiro fraco, a impressão é a de que Atom perdeu a mão e noção no meio do caminho. O que poderia ser interessante discussão sobre as vias do desejo e do prazer presente e ou inconsciente, acaba ficando sem rumo, um coito interrompido. E o sexo, ausente na ação e onipresente na palavra, glorifica e crucifica a libido, condenando a todos ao limbo. Se na lógica cristã, onde há arrependimento, há perdão, aos eunucos será restituída a força. O que explica o teor morno e automático do desnudamento e da simulação sexual. Idiossincrasia do diretor ou malevolência de uma história rala que, a certa altura, parece que vai (re)virar um Atração Fatal (Fatal Attraction - EUA, 1987, dirigido por Adrian Lyne, com Glenn Close e Michael Douglas? A bem da verdade, acho que uma coisa e outra, já que segue pra um apoteótico final patético, apostando num clichê frouxo, bem ao gosto da tradição, família e patrimônio.

Natalie…: Fanny Ardant e Emmanuelle Béart

A refilmagem é o “gênero” mais difícil pra um diretor de cinema. Se é sua a iniciativa de refilmar (o que duvido!) é porque não gostou de algo na direção do filme alheio e acha que pode fazer melhor. Muita pretensão! Se o interesse é do estúdio, parece que o diretor escolhido pra tal proeza (mesmo que tenha feito bons filmes) ainda não tem competência pra autoria. Ou seja, continua de segunda! Um diretor que “cai” nessa, sempre corre o risco de encontrar um espectador que viu o filme original e fará inevitáveis comparações, raramente pra melhor.

2 comentários:

  1. Você escreve muito bem Joba, faz uma crítica que pode ajudar a avaliar o filme e se o filme deve ou não ser visto e isto sem entregar informações imporrtantes que o espectador tem que descobrir através da imagem e não lendo antes.
    E o flime é exatamente isso que você escreveu, o que me surpreendeu foi um diretor, digamos autoral na falta de palavra melhor, aceitar uma empreitada destas. Tudo bem, Atom, trabalhar sob contrato, mas timha de ser numa refilmagem?

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  2. Olá, Antunes.
    Pois é, está cada vez mais difícil um diretor ser (ou continuar) autoral no mundo do cinema cada vez mais preocupado (tão somente)com bilheterias. Se o sujeito não conseguir realizar por vias "independentes" e ter a sorte de ser visto e comentado, pois o que vale na independência é o boca a boca..., vai continuar "recebendo ordens", mas terá o salário garantido.
    Obrigado pela visita e pelo comentário.

    Abs.
    T+
    Joba

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