domingo, 25 de abril de 2010

Crítica: A Riviera Não É Aqui


A Riviera Não É Aqui
mas é muito divertido

Para quem já se cansou das tolas (e sempre iguais) comédias americanas e (realmente) quer conhecer uma ótima alternativa de humor, a dica vai pra deliciosa comédia francesa A Riviera Não É Aqui (Bienvenue chez les Ch'tis – França , 2008), dirigida por Dany Boon. O filme, que foi a grande sensação nos cinemas franceses, é simples, direto e engraçado ao tratar de um certo regionalismo praticado no extremo norte da França, conhecido como “ch’ti”, uma forma muito particular (e exagerada) de pronunciar as palavras, trocando “a” por “o” ou acrescentando “sh”, entre outros sotaques, transformando qualquer conversa numa coisa de doidos.

O propósito de A Riviera Não É Aqui não é discutir algum tratado linguístico, ou preceito moral, ou ao menos ser mensageiro de alguma boa-nova. Muito pelo contrário, a intenção é fazer o francês (e o resto do mundo) rir de si mesmo. Porque, assim como lá, cá (de norte a sul) também temos o nosso regionalismo, que provoca mais riso que estranheza, nas contações de causos e de piadas. O que, certa forma, me lembrou a clássica comédia A Marvada Carne (Brasil, 1985), de André Klotzel (com Fernanda Torres, Adilson Barros, Dionísio Azevedo), que dialogava com a “caipirice” e o “caipirês”.

Nesta sátira de costumes, Philippe Abrams (Kad Merad) é diretor de uma agência de correio em Salon-de-Provence, onde vive com a depressiva mulher Julie (Zoé Félix) e o filho pequeno. Ele acredita que uma mudança de ares, principalmente para a Riviera Francesa, vai resolver o problema da esposa e trazer tranquilidade ao casal. Para um dedicado funcionário, uma transferência até que não seria um grande problema, mas, conforme as normas da empresa, a prioridade é acatar os pedidos dos funcionários com algum tipo de deficiência física. Bem, Abrams não é um deficiente físico, mas é capaz de qualquer coisa pra conseguir uma mudança de ares e dar um jeito no seu casamento. E assim, após um malfadado plano (que parecia perfeito) ele finalmente consegue a tão esperada transferência. Só que, em vez da Riviera, ele é transferido para Bergues, em Nord-Pas-de-Calais, que, segundo suas pesquisas, é um lugar muito gelado, chuvoso, habitado por gente mau humorada, ignorante e beberrões. É como diz o ditado: grandes passos, grandes responsabilidades ou: grandes erros, grandes punições. Como Julie se recusa acompanhá-lo, Philippe vai sozinho e, ao conhecer o carteiro Antoine Bailleul (Dany Boon), descobre que a vida tem muitas surpresas e as pessoas também.

A Riviera Não É Aqui é uma comédia linear. Ao contrário das produções americanas (baseadas na escatologia, escorregões, tropeços, linguagem chula), o humor francês está na inocência, na ingenuidade e na simplicidade da vida interiorana. Não é tão agudo quanto o bizarro humor inglês, mas é eficaz ao falar de gente como a gente, com as suas invencionices, pra passar o tempo ou parecer diferente. Alguns críticos dizem que o dialeto do filme dificulta a compreensão das piadas e que nem sempre a tradução é fiel. Bobagem! Muitas vezes a tradução é totalmente dispensável. Os atores são excelentes e antes mesmo das falas o espectador já está rindo. Também porque o roteiro brinca com tudo, até mesmo com a trilha sonora que transforma a viagem de Philippe Abrams, para Bergues, em puro humor negro. Não bastasse a entrevista hilária que faz com um aparentado, na tentativa de colher informações sobre a desconhecida cidade, e o humor escancarado na sequência da reunião dos amigos que decidem proporcionar “conforto” para Julie, em uma visita “surpresa” a Philippe. Só rindo!

Filme-cabeça francês até que é bom (de vez em quando), mas, com certeza, uma boa comédia, dessas de lavar a alma e fazer a gente esquecer qualquer aflição, é muito melhor.

2 comentários:

  1. Olá, Anônimo.
    Como deve ter lido, eu também.
    Foi um dos filmes mais engraçados que vi em 2010.

    Abração.

    T+
    Joba

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