quarta-feira, 28 de abril de 2010

Crítica: O Segredo dos Seus Olhos


Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010, O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de Sus Ojos - Argentina, Espanha, 2009) do diretor Juan José Campanella, é mais um belo exemplar do cinema argentino que, de vez em quando, escapa do conta-gotas das distribuidoras e cai, feito colírio, em terras brasileiras, mais precisamente paranaenses.

A história é policial, com pitadas de bom humor, e se passa em 1999, quando Benjamín Espósito (Ricardo Darín), um ex-defensor público, aposentado do Tribunal Penal de Buenos Aires, decide ocupar o seu tempo livre para escrever um romance. Como o livro terá por base um homicídio ocorrido em 1974 e deve nomear pessoas conhecidas (vivas ou desaparecidas nos bastidores do governo de Isabel Perón, que aparece na narrativa como uma rápida, mas fundamental, referência) ele procura ouvir a sua ex-chefe, Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil). A juíza, que também participou da investigação, aconselha-o a deixar o passado no passado. O problema é que, para Espósito, os fatos ocorridos em 1974 continuam mais presentes que nunca. Também porque, ele e seu companheiro de trabalho, Pablo Sandoval (o excelente Guillermo Francella), se empenharam profundamente para solucionar o crime e ficaram frustrados com o rumo que o caso tomou. Disposto a desvelar o obscuro passado, e mesmo sem o aval de Irene, ele decide escrever a sua versão dos fatos e finalmente descobrir o que realmente aconteceu com as pessoas envolvidas e onde falhou. Solucionar o passado também pode ser um primeiro passo para “resolver” um drama menos perigoso e muito mais prazeroso: o seu amor (que atravessa décadas), nunca confessado, por Isabel. Ao escrever o seu romance, dominar o verbo, Benjamin vence sua timidez e insegurança. Ao dominar a palavra está pronto para o amor. Uma catarse dupla!

O Segredo dos Seus Olhos, com roteiro espetacular de Juan José Campanella e Eduardo Sacheri, baseado no livro La pregunta de sus ojos, do próprio Sacheri, é discreto e elegante. A quilômetros das tramas rocambolescas e explosivas, tradicionais no cinema americano, ele dá o seu recado com invejável competência e brinda o espectador com, no mínimo, duas sequências criativas e arrepiantes: uma, na estação rodoviária e outra, na perseguição a um suspeito dentro de um estádio de futebol. Além de um final memorável, de cair o queixo.

É muito bom ver que, correria, pancadaria e tiroteios não fazem nenhuma falta ao thriller de Campanella, que trabalha, com um subtexto interessante e bastante reflexivo sobre a obsessão e a motivação de cada personagem envolvido com a “cena” do crime..., e a vida que se desenha (para todos) depois. Construído em flashbacks, através de apurada fotografia e muito bom trabalho na direção de arte e maquiagem, ele tem um ritmo todo próprio, diferente, na medida certa para cada foco narrativo. Para mim, o único pecado é a trilha sonora, incômoda e (como sempre nos bons filmes), na maioria das vezes, desnecessária. Principalmente com a perfeita atuação e interação do trio protagonista (e seus coadjuvantes).

domingo, 25 de abril de 2010

Crítica: A Riviera Não É Aqui


A Riviera Não É Aqui
mas é muito divertido

Para quem já se cansou das tolas (e sempre iguais) comédias americanas e (realmente) quer conhecer uma ótima alternativa de humor, a dica vai pra deliciosa comédia francesa A Riviera Não É Aqui (Bienvenue chez les Ch'tis – França , 2008), dirigida por Dany Boon. O filme, que foi a grande sensação nos cinemas franceses, é simples, direto e engraçado ao tratar de um certo regionalismo praticado no extremo norte da França, conhecido como “ch’ti”, uma forma muito particular (e exagerada) de pronunciar as palavras, trocando “a” por “o” ou acrescentando “sh”, entre outros sotaques, transformando qualquer conversa numa coisa de doidos.

O propósito de A Riviera Não É Aqui não é discutir algum tratado linguístico, ou preceito moral, ou ao menos ser mensageiro de alguma boa-nova. Muito pelo contrário, a intenção é fazer o francês (e o resto do mundo) rir de si mesmo. Porque, assim como lá, cá (de norte a sul) também temos o nosso regionalismo, que provoca mais riso que estranheza, nas contações de causos e de piadas. O que, certa forma, me lembrou a clássica comédia A Marvada Carne (Brasil, 1985), de André Klotzel (com Fernanda Torres, Adilson Barros, Dionísio Azevedo), que dialogava com a “caipirice” e o “caipirês”.

Nesta sátira de costumes, Philippe Abrams (Kad Merad) é diretor de uma agência de correio em Salon-de-Provence, onde vive com a depressiva mulher Julie (Zoé Félix) e o filho pequeno. Ele acredita que uma mudança de ares, principalmente para a Riviera Francesa, vai resolver o problema da esposa e trazer tranquilidade ao casal. Para um dedicado funcionário, uma transferência até que não seria um grande problema, mas, conforme as normas da empresa, a prioridade é acatar os pedidos dos funcionários com algum tipo de deficiência física. Bem, Abrams não é um deficiente físico, mas é capaz de qualquer coisa pra conseguir uma mudança de ares e dar um jeito no seu casamento. E assim, após um malfadado plano (que parecia perfeito) ele finalmente consegue a tão esperada transferência. Só que, em vez da Riviera, ele é transferido para Bergues, em Nord-Pas-de-Calais, que, segundo suas pesquisas, é um lugar muito gelado, chuvoso, habitado por gente mau humorada, ignorante e beberrões. É como diz o ditado: grandes passos, grandes responsabilidades ou: grandes erros, grandes punições. Como Julie se recusa acompanhá-lo, Philippe vai sozinho e, ao conhecer o carteiro Antoine Bailleul (Dany Boon), descobre que a vida tem muitas surpresas e as pessoas também.

A Riviera Não É Aqui é uma comédia linear. Ao contrário das produções americanas (baseadas na escatologia, escorregões, tropeços, linguagem chula), o humor francês está na inocência, na ingenuidade e na simplicidade da vida interiorana. Não é tão agudo quanto o bizarro humor inglês, mas é eficaz ao falar de gente como a gente, com as suas invencionices, pra passar o tempo ou parecer diferente. Alguns críticos dizem que o dialeto do filme dificulta a compreensão das piadas e que nem sempre a tradução é fiel. Bobagem! Muitas vezes a tradução é totalmente dispensável. Os atores são excelentes e antes mesmo das falas o espectador já está rindo. Também porque o roteiro brinca com tudo, até mesmo com a trilha sonora que transforma a viagem de Philippe Abrams, para Bergues, em puro humor negro. Não bastasse a entrevista hilária que faz com um aparentado, na tentativa de colher informações sobre a desconhecida cidade, e o humor escancarado na sequência da reunião dos amigos que decidem proporcionar “conforto” para Julie, em uma visita “surpresa” a Philippe. Só rindo!

Filme-cabeça francês até que é bom (de vez em quando), mas, com certeza, uma boa comédia, dessas de lavar a alma e fazer a gente esquecer qualquer aflição, é muito melhor.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Crítica: ALICE, de Tim Burton


Alice, de Tim Burton
e a descoberta de si mesma

Quem conhece as fantásticas aventuras de Alice (No País das Maravilhas e Através do Espelho e o que Alice Encontrou Lá) de Lewis Carroll, pode estranhar um pouco esta releitura de Tim Burton. Mas, é só se deixar levar pela imaginação e entrar de cabeça neste “novo” mundo onírico, de beleza ímpar, e encontrar a Alice (Mia Wasikowska), o Chapeleiro Louco (Johnny Deep), o Gato Risonho a Lebre de Março, a Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter)..., para se sentir novamente em casa ou quase lá. Já que, com a adaptação, a personalidade de cada um ganhou características ainda mais acentuadas. Como era de se esperar, Burton faz (realmente) uma releitura muitíssimo pessoal de Alice, criando situações bizarras, num espetáculo visual empolgante e sem muito apelo tecnológico. Nem mesmo o 3D é usado com todo o seu potencial.

Quem (jovem ou adulto) nunca teve uma dúvida, um problema que lembrasse o pior dos seus pesadelos (mesmo que a preocupação não fosse para tanto) que dê a sua cabeça para ser cortada pela língua afiada da Rainha Vermelha (de Copas). Para ela, o que conta não é o tamanho da cabeça, mas a (sua) insensatez. Aos 19 anos, numa festa (surpresa) de noivado, antes de dizer sim, ao pretendente a futuro marido, Alice prefere seguir um Coelho Branco, que veste colete vermelho e está sempre atrasado. Ela só vai saber se é o mesmo Coelho, que povoou seus inexplicáveis sonhos infantis, ao cair num buraco que a levará (de volta?) a um mundo subterrâneo..., ou dentro de si mesma. Alice não tem certeza de já conhecer o lugar e os curiosos habitantes que a questionam sobre a sua real identidade: Quem é você? Você é a Alice real? Você é a mesma Alice que já esteve aqui?..., mas, sabe que terá de resolver o enigma que a aflige, para nãos ser devorada por si mesma.

Alice (Alice in Wonderland, EUA, 2010) é um filme em três tempos. Fala de uma Alice criança e seu pesadelo recorrente, que a leva pra um subterrâneo País das Maravilhas, onde vive aventuras alucinantes, rodeada de seres malucos; depois, de uma Alice jovem, em uma viagem pra dentro de si mesma, rumo ao subterrâneo maravilhoso de uma mente confusa, em busca de autoconhecimento; e, por fim, de uma Alice quase adulta, que vence os seus próprios demônios e, livre dos fantasmas do passado, pode tranquilamente traçar o seu futuro e encontrar o seu lugar no mundo.

Se no País das Maravilhas, de Carroll, ou na visão lisérgica da Disney, tudo parecia (apenas?) uma divertida aventura para a Alice, na interpretação de Burton, o País Subterrâneo pode até parecer um Paraíso Maravilhoso, mas esconde armadilhas fatais e o tempo para desarmá-las pode não ser tão flexível, quando não se é mais uma criança sonhadora. Por que será que, quando crianças, todos querem (logo) se tornar adultos e, quando adultos, correm atrás da infância (não vivida) perdida? Alice é uma obra de arte (literária) que pode propiciar tantas leituras diferentes, e até discussões inflamadas, quanto se queira. Se, como escreveu Helena Kolody (1912-2004), em 1986, Significado: No poema/ e nas nuvens/ cada qual descobre/ o que deseja ver, então, nas entrelinhas da Alice de Lewis, pode muito bem se esconder (e ser encontrada) a estranha Alice de Tim, que não caiu no gosto dos leitores e espectadores mais conservadores, mas que, também, possibilita leituras que, com certeza, passam ao largo da imaginada pelo diretor.

Alice traz uma garota feminista, independente, voluntariosa, teimosa e até mal educada, cuja história no País Subterrâneo é um tanto quanto genérica à que vive no País Supraterrâneo. Vitorianamente contemporânea! O filme tem um bom ritmo e deve agradar, em cheio, mais ao jovem adolescente do que a criança, que pode ficar enfeitiçada pelo seu eletrizante visual, mas não entender os diálogos divertidos, porém confusos, para quem não conhece o jogo de palavras original. Se bem que, se for do tipo que dá asas à imaginação, num badalar qualquer das horas, ela vai (ter que) encontrar um Coelho Branco atrasado, digo um Lewis Carroll tomando chá ou um Tim Burton cortando cabeças animadas. Então, é melhor que seja agora.

Os fãs do diretor sabem que ele gosta de coisas cruas, obscuras, estranhas e, assim, Alice é um receptáculo da melhor qualidade. É mais um filme híbrido de Tim Burton. Ou, o lado “luminoso” do (realmente) sombrio Alice (Neco z Alenky - Alemanha, Inglaterra, Suíça, Tchecoslováquia, 1988), do grande mestre tcheco da animação em stop-motion: Jan Syankmajer, onde Alice (Kristýna Kohoutová) divide “o palco” com fantoches, bonecos feitos de ossos, restos de brinquedos, meias, sucatas, velharias, animais empalhados..., que vão se desmanchando e se reconstruindo durante a incômoda saga de pavor. Um e outro bem ao gosto de Jung.

domingo, 18 de abril de 2010

Crítica: As Melhores Coisas do Mundo



As Melhores Coisas do Mundo

Num conhecido (e diversificado) trava-língua: O tempo perguntou pro tempo: Quanto tempo o tempo tem? O tempo respondeu pro tempo: O tempo tem tanto tempo quanto o tempo que o tempo tem. A criança, geralmente, se perde no tempo que tem (do nada fazer) no só brincar. O adolescente, geralmente, se perde pela falta de tempo que tem (por muito querer fazer). O adulto, geralmente, não tem mais tempo de perder tempo (com o nada a fazer). Quem é o dono do tempo? Ninguém!

As Melhores Coisas do Mundo fala, com seriedade, de um tema pouco comum no cinema: a adolescência. O seu foco está em Mano, um garoto de 15 anos, classe média, que ainda não sabe como administrar a separação dos pais e muito menos entender a desconfortável opção de vida do pai. Ele também precisa corresponder às expectativas da turma de amigos, perder a virgindade e, de quebra, aprender a tocar violão, pra conquistar uma certa garota do colégio.

Inspirado em Mano, série de livros de Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto, com roteiro de Luiz Bolognesi e direção de Laís Bodansky, o filme transita entre o cinema de entretenimento e o institucional. É, sem dúvida, honesto no propósito de discutir o cotidiano do estudante adolescente e seus instáveis dilemas, sonhos e pesadelos: preconceito, profissão, namoro, sexualidade, família, confiança, relacionamentos..., entretanto, na maior parte do tempo, lembra um grande painel de Lição de Moral sobre o (conceito geral de) certo e errado. Por mais que envolva o espectador na trama não muito complexa, mas de difícil abordagem, ele (me) parece fragmentado, didático (e convencional) demais. Mesmo tratando, apropriadamente, de questões delicadas, como o relacionamento amoroso entre alunos e professores e a educação em tempos de mídia ligeira: internet.

Além da série de livros juvenis, a produção buscou base no mundo (real) adolescente, através de pesquisa com estudantes em seu próprio habitat: o colégio. O que dá mais veracidade ao filme em que, com certeza, muitos se reconhecerão nas pisadas de bola e nas marcações de gol. Poderão refletir e, quem sabe, até aprender muito com elas. As Melhores Coisas do Mundo tem alguns problemas de interpretação, por conta do elenco iniciante, e com o áudio, às vezes é impossível entender as falas. Mas, também apresenta momentos inspiradíssimos, daqueles de ficar na retina e na memória por toda a vida, como a catarse de mãe e filho, Camila (Denise Fraga) e Mano (Francisco Miguez) na cozinha. Algo comparável apenas ao instante inesquecível de Fernanda Montenegro, catando o feijão sobre a mesa, em Eles Não Usam Black-Tie (1981) de Leon Hirszman.

Dentro do Projeto Educativo, que pretende abrir um amplo debate sobre valores na adolescência, junto aos professores que frequentam o Clube do Professor (Unibanco Arteplex), mas que não demonstram o menor apreço por filme nacional (a grande maioria torce o nariz), preferindo os estrangeiros da moda, ainda que, como toda moda, de qualidade duvidosa, ele pode (ou deveria) até funcionar. Principalmente porque os professores sempre reclamam que ninguém quer ouvir o que a classe tem a dizer e que não há pedagogia (do oprimido ou do espremido) que possa dar um jeito nos alunos de hoje. Mas não acredito nele como formação de uma platéia que vê o cinema brasileiro como uma panela de pressão cozinhando apenas dramas de favelados, traficantes, violência e tolas comédias de baixarias. Na sessão, em Curitiba, tinha pouco mais que vinte professores apressados. A metade participou do bate-papo com Heloisa Prieto.

É possível ser feliz depois que a gente cresce? - pergunta Mano, na abertura do filme. O trava-língua é difícil de pronunciar. A adolescência é difícil de aceitar. Mas tudo fica muito mais fácil quando se descobre os segredos de um e de outro. As Melhores Coisas do Mundo e os livros da coleção Mano podem ser um começo para decifrar o labirinto...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Crítica: Aproximação


Aproximação

Aproximação (Disengagement – Alemanha, Itália, Israel, França - 2007), o melodrama do diretor Amos Gitai, finalmente estréia no Brasil. Pra quem quiser rever ou manter distância, vale lembrar que é o mesmo filme exibido na Mostra Internacional de São Paulo, em 2007, com o título: Retirada. Ambos os títulos têm a ver com a película, um tanto quanto fragmentada e superficial, nas razões de aproximação e de retirada (envolvendo israelenses), ao falar de heranças deixadas (por pais) ou herdadas (por filhos), sejam bens materiais, imateriais..., ou terras alheias.

Aproximação tem um começo estranho (?), com cenas e sequências sem sentido (?): Uli (Liron Levo) é um miliciano de Israel que vai à Avignon, na França, se encontrar com Anna (Juliette Binoche), sua irmã adotiva, no funeral do pai. Anna está extremamente feliz (?) com a morte do pai, o fim do seu casamento e o reencontro com o “irmão”, por quem sente incontida atração sexual e a quem se insinua durante toda a estada do rapaz. Talvez esteja aí a oportuna razão de tanta alegria. Uli, por sua vez, prefere dormir amontoado com um bando de gente (imigrantes ilegais?) escondido (?) num minúsculo quarto (porão?) no térreo da casa velha. Na leitura do Testamento, Anna tem uma desconfortável surpresa: nem ela e nem o “irmão” têm direito à herança, deixada pra uma parenta da família que vive num kibutz, na Faixa de Gaza. Por questões pessoais os dois viajam atrás de herdeiros: ela, pra reencontrar alguém que deixou lá, na sua adolescência; ele, pra reencontrar os israelenses assentados ilegalmente na Faixa de Gaza e coordenar a sua retirada. No “retorno” às origens (em meio a um conflito, digamos, étnico) os “irmãos” já não têm mais idéia da real identidade de cada um.

Ao assistir Aproximação, a impressão que fica é a de que (independente dos problemas técnicos e de continuidade), a cada filme, Gitai perde mais e mais a mão. Mas, como (também) em cinema cada um entende o que quer, este exemplar (também) pode ser visto como metáfora, ironia, sátira, piada..., sobre o eterno conflito no oriente médio. E também sobre nada disso. São ridículas, além de enfadonhas, as cenas (SEMPRE EM CLOSE) de um punhado de israelense, “farreando” em frente da câmera (ENCHENDO A TELA), na retirada (?) dos ocupantes do território Palestino. Uma pífia tentativa de ”esclarecer” que aqueles “pobres coitados”, tão “maltratados” pela milícia israelense (seu próprio povo!), na desocupação (?), não têm culpa se a terra “herdada” dos seus governantes já tinha (?) dono. Nem noveleiro latino-americano filmaria algo tão constrangedor. Além do mais, se os posseiros fossem só um punhado de chorões e ripongas, que parecem ter saído diretamente do espetáculo Jesus Cristo Superstar, a intifada tinha resolvido a situação a pau e pedra.

Aproximação, com roteiro de Amos, em colaboração com Marie-Jose Sanselme, é uma típica produção pra quem acredita que o judeu é a eterna vítima do mundo, ou que o culpado é sempre o outro. Um engodo do panfletário diretor israelense Amos Gitai, para delírio do povo judeu e admiradores da causa bélica deles. A única dúvida é se é um filme com pieguice na medida certa pra agradar o público americano ou se é um filme, ao molde americano, com pieguice na medida certa para agradar o público israelense. Porque, Gitai continua discutindo questões “políticas” e “religiosas” com a profundidade de uma cova rasa.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Crítica: Dupla Implacável


Dupla Implacável
divertida e descartável

O sonho de James Reese (Jonathan Rhys Meyers), um eficiente funcionário do Consulado Americano, em Paris, que também faz alguns serviçinhos, mais discretos do que secretos, pra CIA, é se tornar um agente profissional. Bem, às vezes os sonhos se realizam, mesmo que eles não sejam exatamente como se sonhou. James vai saber disso, a duras penas, quando conhecer Charlie Wax (John Travolta), de quem se tornará parceiro, secretamente, para desvendar um caso que envolve traficantes de drogas e terroristas. É que o tal Wax não é exatamente o tipo de agente que ele imaginava. O estilo do sujeito está mais pra Cobra (Stallone) do que pra James Bond (Sean Connery). Assim, o trabalho, que parecia ser divertido e glamoroso, acaba se tornando um pesadelo tão brabo, que é preferível não acordar.

Baseado numa história de Luc Besson e com direção de Pierre Morel, o filme Dupla Implacável (From Paris With Love, França, 2010) traz variações em torno do mesmo tema: uma dupla improvável, formada por Reese/Meyers (o bonzinho que não tem a menor idéia do que está acontecendo) e Wax/Travolta (o mauzinho que não tem paciência de ficar explicando cada ato de violência explícita); tiroteio, perseguição e pancadaria; traficantes e terroristas..., só que em um novo (?) cenário: Paris. No entanto, apesar de europeu, é um filme de ação tipicamente americano, com as suas matanças desmedidas, artilharia de ponta e explosões espetaculares em câmera lentíssima... Já que não parece uma sátira ao (pré) conceito americano de se achar xerife do mundo civilizado (?), apesar da ironia em muitas cenas, então é, digamos, uma “homenagem” ao cinema do Tio Sam. Na verdade, o grande barato de Dupla Implacável, o bom humor (negro?) dele, o diferencial, está na ironia, na pegada exagerada em diversas sequências. Algumas realmente engraçadas. Se contar perde a graça..., são absurdas demais!

Dupla Implacável é um bom filme de ação. John Travolta e Jonathan Meyers estão muito à vontade. Travolta é o que parece se divertir mais a cada cena: “O filme inteiro exigiu bastante e estou rindo porque sou bem mais velho do que a forma como me comporto. Eles estão tirando vantagem da minha habilidade de mexer meu corpo, porque, na verdade, me permitir fazer metade do que faço já é pra rir. Sempre que faço um movimento em que preciso sair rolando, ou tenho que saltar por cima de uma mesa, ou pular no ar com duas armas, eu começo a rir, porque teoricamente, em minha idade, eu deveria estar pegando mais leve! Esse é provavelmente o filme mais cheio de ação que eu já fiz, e olha que já fiz filmes clássicos de ação, mas esse é o mais movimentado de todos.”

Dupla Implacável, cujo título em português pouco tem a ver com a história (em inglês é: De Paris com Amor), e que deve ter sido ”criado” pra combinar com Busca Implacável (Taken, França, 2008), filme anterior de Morel, tem uma fotografia caprichada, ótima coreografia e excelente montagem. É diversão certa, sem dúvida, pro público masculino. Se bem que, como é uma produção que mescla violência (praticamente sem sangue) com pitadas de humor e romance, pode agradar também o público feminino que acompanhar seus marmanjos.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Crítica: Uma Noite Fora de Série


Uma Noite Fora de Série
o difícil é acreditar...

Se você é do tipo que ainda acha graça em comédia americana (também em ritmo de aventura) repleta de repetidas topadas e trombadas e escorregões e piadas escatológicas e gritinhos e ainda palavreado forçadamente chulo e discussão (sem tesão) sobre sexo e com casal se separando e em crise e desencontrado e desencontrando e se reencontrando..., então Uma Noite Fora de Série é mais um filme, na medida, pra você.

Em Uma Noite Fora de Série (Date Night, EUA, 2010), dirigido por Shawn Lewy, Phil Foster (Steve Carell) e Claire Foster (Tina Fey) são um casal tipicamente americano. Mais idiota é impossível. Não se sabe bem como conseguiram chegar à idade adulta, casar, ter filhos e, ainda por cima, trabalhar. O casal sem noção vive uma vida monótona e às voltas com os filhos e alguns amigos tão estúpidos quanto ele. Phil e Claire, possivelmente, fazem sexo (mas devem achar que fazem amor) apenas para a procriação, por isso a chatice do casamento. Eles são realmente pessoas rasas e conformadas com a mediocridade em que vivem. Uma noite decidem agitar a relação, vão jantar num restaurante da moda e, querendo dar uma de espertos, se apossam de uma mesa reservada a outro casal e passam a ser perseguidos por bandidos, certos de serem o alvo que caçam. Daí, com a troca de identidade, não é preciso dizer mais nada, sobre o festival de clichês que toma conta da tela. O roteiro é tão tolo e ridículo que só resta desejar que o filme termine logo com tanto assalto a outras produções do gênero (comédia, aventura, policial) e acabe de vez. A cada minuto se anseia mais e mais os créditos finais.

A idéia da troca de identidade e as confusões bizarras resultantes, que crescem além da lógica, por causa de um simples “pecadinho” (bem ao gosto dos competentes Irmãos Coen), que poderia resultar numa boa e divertida releitura de vários filmes similares, aqui é puro marasmo. Não há inventividade, apenas repetição. Geralmente os diretores desse tipo de comédia preferem não ousar, com medo de errar, e erram, exatamente, por não ousar. Em Uma Noite Fora de Série tudo soa falso e infantiloide demais. Não há química nem entre os protagonistas (Carell e Fay) com suas piadas toscas e sem graça. E olha que muita coisa ali, segundo o diretor, é puro improviso dos atores. Imagine se não fosse. Talvez essa seja a razão de tanta estupidez num casal tão insosso.

Uma Noite Fora de Série é pra quem tem uma folguinha e quer tirar uma soneca na sala de cinema, porque, a certa altura, fica difícil manter os olhos abertos. Ou quem vai ao cinema por não ter mais nada o que fazer e não se importa muito com o que vai assistir, bastando ter atores conhecidos, mesmo tão mornos quanto a “comédia” que protagonizam... Se for esse o caso, o filme, talvez, nem seja tão ruim (?), mas está muito longe de ser meramente razoável.
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